Épater le bourgeois...
José Rodrigues dos Santos pensou que, tendo vendido já tantos livros, lhe faltava o título de autor perseguido pela Igreja (se calhar com inveja de Saramago), como se isso fosse tão perigoso como ser perseguido pela Inquisição. Vai daí, e seguindo o caminho (discutível) de Dan Brown, decidiu que ia revelar a verdadeira identidade de Cristo e isto através de um "romance". Qual estudo académico, qual quê! Qual estudar o originais? nem é preciso! Lê-se umas coisas que outros escreveram e, prontos!, sai "romance" a desmascarar o verdadeiro retrato de Jesus. Enfim, para pretensioso, não está mal...
Se há textos bem estudados, esses textos são os do Antigo e do Novo Testamento. E não é de agora, há séculos que inúmeros académicos se dedicaram à exégese. Ao contrário dos muçulmanos que consideram o Alcorão como tendo sido revelado por Deus a Maomé, os cristãos consideram que a Bíblia foi inspirada por Deus, mas os que escreveram os seus livros são homens, pelo que os textos podem e devem ser interpretados. Todo o processo de constituição do cânone bíblico é constantemente estudado, o porquê de terem entrado uns livros e outros terem ficado de fora.
A entrevista que Rodrigues do Santos deu a uma colega sua na RTP é bastannte simbólica disso. Todas as perguntas e dúvidas de que ele fala são perguntas há muito feitas. Tudo era requentado, sem uma única novidade. Mas depois, quer-nos fazer crer que, através da história ficcional, apresenta factos que não podem ser contraditados. Enfim, presunção e água benta cada um toma a que ter.
No fim de contas, um livro apenas para o "escândalo", para tentar vender um pouco mais. Parece que conseguiu, pois a Igreja Católica já veio criticar o livro. Nihil noui sub sole.