Não é por nada, mas hoje, comemoram-se os 800 anos de uma das mais importantes batalhas travadas na Península Ibérica, a batalha de Navas de Tolosa, que foi o princípio do fim para a presença de um reino muçulmano na Hispânia.
A 2 de Janeiro de 1492 o reino de Granada caiu finalmente às mãos do espanhóis. Muito naturalmente, esse dia é festejado em Granada. Também muito naturalmente, a esquerda, associações "anti-racistas" e outros que tais estão contra as comemorações. Também não menos naturalmente a extrema-direita espanhola tenta reclamar para si o evento.
Nada de outro mundo, por isso. O engraçado é vermos a esquerda sempre alinha com os islamitas. Estão à espera que estes a poupem quando tiverem o poder. Tenho a impressão que se vão dar mal com a jogada, mas o ódio a sociedade ocidental é tal, que eles aliam-se a quaisquer uns que a queiram destruir.
Já há algum tempo que não escrevia sobre o Kosovo, mas quem quiser saber a minha opinião, basta escrever a palavra Kosovo em "pesquisar este blog" e dar-lhe-á 14 resultados, referentes às entradas em que, por um motivo ou outro, falei neste tema.
Tendo em conta o que eu disse anteriormente, não fui certamente surpreendido por esta notícia do Público, sobre a acusação, num relatório do Conselho da Europa, feita ao primeiro-ministro do Kosovo de actividades criminosas na recolha ilegal de órgãos humanos. O relatório, que pode ser lido aqui, O relatório diz coisas que qualquer observador imparcial sabia. Por exemplo:
13. The appalling crimes committed by Serbian forces, which stirred up very strong feelings worldwide, gave rise to a mood reflected as well in the attitude of certain international agencies, according to which it was invariably one side that were regarded as the perpetrators of crimes and the other side as the victims, thus necessarily innocent. The reality is less clear-cut and more complex.
14. The Parliamentary Assembly strongly reaffirms the need for an absolutely uncompromising fight against impunity for the perpetrators of serious human rights violations, and wishes to point out that the fact that these were committed in the context of a violent conflict could never justify a decision to refrain from prosecuting anyone who has committed such acts (see Resolution 1675 (2009)).
15. There cannot and must not be one justice for the winners and another for the losers. Whenever a conflict has occurred, all criminals must be prosecuted and held responsible for their illegal acts, whichever side they belonged to and irrespective of the political role they took on.
Facto é que a NATO permitiu que os combatentes do UÇK tivessem durante bastante tempo mão livre sobre o território, tal como o relatório o reconhece:
9. During the decisive phase of the armed conflict, NATO took action in the form of air strikes, while land operations were conducted by the KLA, de facto allies of the international forces. Following the departure of the Serbian authorities, the international bodies responsible for security in Kosovo very much relied on the political forces in power in Kosovo, most of them former KLA leaders.
10. The international organisations in place in Kosovo favoured a pragmatic political approach, taking the view that they needed to promote short-term stability at any price, thereby sacrificing some important principles of justice. For a long time little was done to follow-up evidence implicating KLA members in crimes against the Serbian population and against certain Albanian Kosovars. Immediately after the conflict ended,in effect, when the KLA had virtually exclusive control on the ground, many scores were settled between different factions and against those considered, without any kind of trial, to be traitors because they were suspected of having collaborated with the Serbian authorities previously in place.
Sempre fui contra a intervenção da NATO do Kosovo porque, na prática, ela nada resolveu, apenas criou um estado pária e falhado que suga dinheiro aos contribuintes europeus e serve como plataforma do banditismo internacional.
Interessante porque, no breve período em que dei aulas, foi a incapacidade da maioria dos alunos (mesmo aqueles considerados bons) de ordenar cronologicamente os acontecimentos e a subsequente confusão que tal provocava na expressão dos seus pensamentos foi uma coisa que sempre me frustrou bastante. E u não dei aulas de História, mas de Português e Francês e não era raro os alunos colocarem a poesia galego-portuguesa no século XVI, por exemplo.
Alberoni queixa de fenómenos idênticos como se pode ver por este excerto:
Nos últimos 40 anos, os pedagogos quase destruíram as bases do pensamento racional e os fundamentos da nossa civilização. E fizeram-no com a ajuda de uma única decisão: eliminando as datas, acabando com a obrigatoriedade de apresentar os factos por ordem cronológica. Agora é normal ouvir dizer que Manzoni viveu no século xvi. Não há razões para espanto porque na escola já não se ensinam os acontecimentos pela respectiva ordem temporal, dizendo, por exemplo, que Alexandre Magno viveu antes de César, que, por sua vez, viveu antes de Carlos Magno, e só depois vem Dante e, em seguida, Cristóvão Colombo.
É claro que esta incapacidade para ordernar cronologicamente os acontecimentos, de conhecer as datas, tem consequências. O passado torna-se assim uma almágama. Não advogo que, por exemplo, se aprenda história a decorar datas. Mas o seu conhecimento ajuda.
Faz hoje 20 anos que o muro de Berlim caiu e os alemães celebraram condignamente a data. Só o sujeito que ganhou o Nobel da Paz deste ano achou que tinha coisas mais importantes para fazer do que ir até Berlim. A sorte dele é que maior parte dos europeus continuam a ser totós e não vêm quanto ele despreza a Europa.
Por outro lado, ouvi durante todo o dia muita gente a falar da queda do muro para, logo a seguir, falarem de outros muros que ainda estão de pé e, está bom de ver, traziam à baila o muro construído por Israel. Certamente para tentar uma equivalência e para dizerem que também esse deveria ir abaixo. Como se houvesse qualquer equivalência...
O muro de Berlim, ao contrário, por exemplo, da muralha de Adriano ou da muralha de China que queriam impedir a entrada de invasores, era para manter o seu povo dentro do país, para que ele não fugisse para a Alemanha Ocidental. Aqui, em Portugal, ouvi muitas vezes cantar os louvores dessas sociedades que estavam para lá da cortina de ferro e, especificamente, da Alemanha Oriental, mas o que era verdadeiramente estranho é que as pessoas quisessem fugir desse paraíso.
Enfim, digam o que disserem, o facto é que o mundo mudou para melhor com a queda do muro. Celebremos, pois.
Foi canonizado hoje D. Nuno Álvares Pereira, herói e santo. A sua influência na história de Portugal é absolutamente indelével e que permitiu a continuação da existência de Portugal. Tivesse Portugal sido incorporado em Castela no final do século XIV e, dificilmente, seríamos hoje em dia um país independente.
À influência político-militar junta-se uma dimensão religiosa e uma fé sem limites, que sempre o guiou. Por isso, como disse o Papa Bento XVI disse que "em qualquer situação, mesmo de carácter militar e bélica, é possível actualizar e realizar os valores e princípios da vida cristã".
Foi, sem dúvida, uma figura ímpar na história portuguesa, santificado pelo povo bem antes de ter sido santificado pela Igreja.
Mal correu a voz de que os franceses tinham forçado algumas baterias, logo se espalhou o pânico, naturalmente, numas forças que não tinham qualquer disciplina a moderar o desânimo e o instinto de conservação da vida: foi a debandada geral, tendo-se dirigido parte desta gente para a ponte do Douro a caminho de Vila Nova de Gaia.
Chegou aquela mole informe de gente à ponte das barcas quando ali já tinham começado aretirar, por ordem do Brigadeiro Vaz Parreira as pranchas do pontão central a fim de cortar a ponte; mas à vista da gente que avançava a operação foi suspensa, ficando contudo a passagem limitada na largura de algumas pranchas e deste modo muito mais estreita que a largura total do tabuleiro da ponte por onde acorria a multidão.
Foi esta a desgraçada causa da morte de muitas centenas de populares, pois empurrados pelos que vinham atrás, eram atiados ao boqeuirão que as pranchas retiradas deixavam em aberto; apenas se salvaram uma pequena parte das pessoas que se fizeram à ponte.
Para cúmulo da tragédia, uma bateria instalada na Serra do Pilar e que estava apontada para a defesa da ponte, abriu desordenadamente fogo, matando muitos da multidão, e aumentando assim a confusão entre os que procuravam fugir.
O rio Douro, correndo indiferente no seu curso milenário, ia arrastando a caminho da Barra, centenas de cadáveres ou magotes de desgraçados que se debatiam nas vascas da agonia.
(Carlos Azeredo, Aqui Não Passaram! O Erro fatal de Napoleão, Porto; Civilização, 2005, p. 158.)
Há exactamente 500 anos, ao largo de Diu, travou-se uma batalha naval entre uma armada portuguesa, comandada pelo vice-rei D. Francisco de Almeira e uma armada de uma coligação que incluía os mamelucos, os governantes indianos de Diu e Calicut (que ainda tinham o apoio da República de Veneza).
A vitória portuguesa foi completa com a completa destruição da armada inimiga. Esta vitória foi fruto, também, da superioridade tecnológica dos seus navios e artilharia.
A batalha, apesar de não ser de grandes dimensões, foi absolutamente crucial para o estabelecimento do Império Português na Índia, abrindo o Índico ao europeus (primeiro aos portugueses, depois aos ingleses, holandeses, franceses) e mudou, na prática, a história do mundo.
Num comentário ao meu post A falta que os clássicos fazem (II) a Adriana refere que não é só a leitura dos clássicos que faz falta, mas também da Bíblia, como livro fundador da nossa cultura judaico-cristã.
De facto, um maior conhecimento bíblico, não são evitaria que alguins tradutores passassem vergonhas (que era disso que se falava nesse post), mas também aumentaria a capacidade de compreensão e/ou interpretaçãode muito que se passa no nosso mundo.
É que, ao contrário do que muitos possam pensar, a Bíblia não é uma colecção de superstições/mitos religiosos de um pequeno povo que vivia numa terra para onde confluíram os grande impérios da Antiguidade, mas uma verdadeira biblioteca composta por livros muito diferentes entre si e, que além de tudo, têm, em alguns passos, uma elevadíssima qualidade literária.
Mas, a Bíblia é também o testemunho da história de um povo que vive naquela terra há mais de 3000 anos (apesar de haver muita gente a querer negar isso). Frequentemente, a única fonte histórica para determinados factos é um dos livros da Bíblia. E, nos últimos tempos, alguns desses factos históricos são confirmados por descobertas arqueológicas.
Esta que li hoje no The Jerusalem Posté relativa ao tempo do reinado do rei Sedecias (597-586 a.C.), último rei de Judá. Numa escavação foi encontrado um selo de Godolias, filho de Pachiur, ministro do rei Sedecias. Tal como diz a notícia, este selo é o segundo a ser encontrada naquela zona, pois há algum tempo foi encontrado um outro selo, desta vez de um outro ministro desse mesmo rei, Jucal, filho de Chelemias. O interessante deste assunto é que estes dois ministros aparecem referidos no livro de Jeremias (38, 1-4):
Chefatias, filho de Matan, e Godolias, filho de Pachiur, e Jucal, filho de Chelemias, e Pachiur, filho de Malaquias, ouviram as palavras que Jeremias dirigira a todo o povo: «Assim fala o Senhor: 'Aquele que ficar nesta cidade morrerá à espada, de fome e de peste; e aquele que sair para se entregar aos caldeus será tomado como despojo, mas terá a vida salva.' Oráculo do Senhor: 'A cidade será entregue nas mãos do exército do rei da Babilónia, para que a conquiste.'»
Sigo aqui a tradução da Nova Bíblia dos Capuchinhos, realizada a partir dos textos originais.
Certamente no subsolo de Jerusalém há muitos outros vestígios que confirmarão outros factos mencionados na Bíblia. Mas, é sempre fascinante quando tal acontece.
Parece que Júlio César foi salvo das águas do Ródano. Pelo menos, uma sua efígie, que se pensa realizada quando o seu modelo ainda vivia, foi agora descoberta perto de Arles. será a efígie mais antiga que se conhece. E, parece, que esta não foi a única descoberta e que mais se encontrará nas águas do rio.
Mas, facto curioso, o artigo do Le Figaro chama imperador romano a Júlio César, coisa que ele nunca foi, pelo menos com o sentido que agora damos à palavra "imperador". Na república romana, em latim "imperator" era, sobretudo, um comandante de um exército a quem esse título era conferido após, na maior parte dos casos, alguma vitória importante. Não tinha o significado a que actualmente se dá à palavra imperador.
Só após a subida de Augusto César ao poder e depois de ele estabelecer o principado e aquilo que agora chamamos o Império Romano, é que o título de "imperator" ficou intimamente associado a quem mandava no Império e a pessoas da sua família.
Mesmo assim era um título, pelo menos no princípio, que era conferido sob diversas circunstâncias, como se pode ler em "Os feitos do divino Augusto" (in Romana - Antologia da Cultura Latina de Maria Helena da Rocha Pereira):
Alcancei duas vezes a ovação e três o triunfo curul, e vinte e uma vezes fui proclamado imperator.
Eu sei que até as aventuras de Astérix chamavam imperador a Júlio César. Mas, na verdade, ele nunca o foi.