Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Super Flumina

Liberae sunt enim nostrae cogitationes - Cícero (Mil. 29 - 79) . Um blog de Rui Oliveira superflumina@sapo.pt

Super Flumina

Liberae sunt enim nostrae cogitationes - Cícero (Mil. 29 - 79) . Um blog de Rui Oliveira superflumina@sapo.pt

Ainda a tradução indirecta

No seguimento dos meus artigos anteriores (sobre a tradução do Kalevala e de As Mil e Uma Noites), queria ainda falar um pouco da tradução indirecta.

Se discordo  de uma edição do Kalevala em português traduzido não do finlandês mas de edição inglesa é porque penso que, no século XXI e para uma língua de um país membro da União Europeia, não se justifica uma tradução indirecta, coisa que não se passava no passado e em que a tradução indirecta foi importante para a divulgação científica ou mesmo para a fundação de literaturas nacionais.

No passado, a tradução indirecta foi de uma importância enorme, pois através de uma língua intermédia, conseguia-se ter acesso a textos de uma língua praticamente desconhecida em determinado país.

Assim, por exemplo, nos dias de glória de Roma, todos os romanos cultos sabiam grego. Com o declínio de Roma o domínio da língua grega quase desapareceu na Europa Ocidental. Por isso,  o contacto com alguns textos fundamentais da Antiguidade grega , na Europa Ocidental durante quase toda a Idade Média,  só foi possível através das traduções feitas do grego para o árabe, que depois foi traduzido para latim e difundidas por toda a Europa. Só com a queda de Constantinopla em 1453 e com a consequente chegada de refugiados bizantinos é que o conhecimento do grego se alargou na Europa Ocidental.

Os árabes, no início da civilização muçulmana foram grandes entusiastas da tradução, não são a partir do grego, mas também do persa e do siríaco, em que a tradução indirecta também foi utilizada. Assim no-lo diz Taïeb Baccouche in La traduction dans la tradition arabe (destaques meus):

4) Mais l’activité de traduction n’a connu un essor remarquable qu’avec la dynastie des Abbasides à Baghdad soutenue par les Persans, en particulier sous le Califat d’Al Ma’mûn qui créa Beyt al-Hikma (= maison de la sagesse) et recruta des traducteurs dans les domaines scientifiques et philosophiques. On dit qu’il récompensait le traducteur par le pesant d’or de son livre. De véritables familles de traducteurs ont vu le jour.

La logique grecque fut arabisée à partir du persan puis du syriaque avant d’être
traduite directement du grec.

La traduction est devenue ainsi un véritable métier pratiqué individuellement et même en groupe. L’un des plus célèbres traducteurs de l’époque, Hunayn Ibn Ishâq, était surnommé le « maître des traducteurs de l’Islam ». Son école domina le ixe s. ; on y traduisait surtout du grec.

5) On peut donc dire que la traduction est passée par deux grandes périodes : une période de traduction indirecte, où le persan et le syriaque servaient d’intermédiaires, puis une période où le sanscrit et le grec étaient traduits directement en arabe.

L’intérêt portait essentiellement sur les mathématiques, l’astronomie, la médecine et la philosophie, où Aristote était considéré le premier maître et son commentateur arabe Farâbi, le second maître.

Ou seja, os árabes precisaram primeiro de traduções indirectas, de civilizações que estavam há mais tempo em contacto com o grego (e o sânscrito, pois também literatura e cultura hindu foi traduzida pelos árabes), até dominarem estas línguas e poderem fazer traduções directas.

No entanto, como diz este mesmo autor, esta actividade tradutória dos árabes era herdeira de uma

vieille tradition judéochrétienne. De véritables écoles de traduction existaient déjà. On pourrait en citer l’école nestorienne syriaque de Nizip qui traduisait surtout du grec, l’école Jacobite syriaque kinnisrin et l’école païenne des Sabéens à Harrân (Hellénopolis). Les liens entre le grec et le syriaque étaient étroits, car l’Église orientale utilisait les deux langues.

Como se sabe, muitas das traduções árabes acabaram por ser traduzidas para latim, tendo a Escola de Toledo, nos séculos XII e XIII, ficado famosa. pelas suas traduções para o latim e, depois, para o castelhano. O castelhano beneficiou imenso com esta actividade tradutória.

No caso da Bíblia, também temos que frequentemente quanto falamos de tradução da Bíblia estamos a falar da tradução da versão da Vulgata de São Jerónimo para as diversas línguas vulgares. A Bíblia é um dos livros mais traduzidos do mundo. Muitíssimas dessas traduções foram traduções indirectas que utilizaram o latim e também o grego (que embora sendo a língua original do Novo testamento, não o é relativamente ao Antigo Testamento). E muitas traduções tiveram importância para a fixação da língua para a qual foram feitas.

As literaturas sueca e noruega, por exemplo, também foram divulgadas em Portugal através de traduções indirectas. Segundo Tânia Campos no Resumo de "A recepção de Froken Julie de Strindberg em Portugal: um mosaico de textos":

Apesar de a tradução directa a partir do sueco começar já a ser uma realidade comum no nosso país, a verdade é que a tradução indirecta desempenhou sempre um papel fundamental para a recepção dos autores suecos e noruegueses em Portugal, levando os tradutores a servirem-se de textos intermediários ingleses, franceses, alemães, espanhóis e italianos, o que, na opinião de Vilas-Boas, «não deixa de afectar a qualidade dos textos».

Apesar de muitos estudiosos de tradução acreditarem que a tradução indirecta trai duplamente a obra de um autor, a verdade é que não podemos negar que o seu papel é determinante na recepção de autores de idiomas menos conhecidos em Portugal. Traduzido a partir de diversos idiomas intermediários, muitas vezes cruzados entre si, o produto final tende em encontrar-se mais próximo da língua intermédia do que da língua de partida: deixando, em muitos casos, apenas intacto um enredo.

A tradução indirecta foi, sem dúvida, um recurso útil e, em certas épocas, único, para obter conhecimento que de outro modo não seria possível. Mas, salvo raras excepções, penso que agora já não se justifica, sobretudo no caso de línguas europeias.

As mil e uma noites

Depois de ter feito o meu artigo sobre a Kalevala, lembrei-me de uma outra obra-prima da literatura mundial que circulou/circula em português através de traduções indirectas. Só que aqui o problema ainda é muito maior porque não há qualquer tipo de fixação de texto.

Por outro lado, as versões que serviam de base para o português, quase todas elas com base no texto de Anthoine Galland, que em razão da moral e bons costumes, aligeirou as passagens mais picantes do texto original árabe, tendo por outro lado acrescentado contos que originalmente não pertencia a esta colecção de contos.

Lembrei-me então que, quando jovem, o meu avô tinha entre os seus livros uma edição das Mil e uma noites publicada nos anos 40. Foi por essa edição que li as histórias das Mil e uma noites. Procurei-a na biblioteca do meu pai e encontrei-a.

"As mil e uma noites" - Edição especial baseada nos melhores textos orientais e coligida por Eduardo Dias, Lisboa, A. M. Teixeira & C.ª (Filhos), 1943-44

Não sei muito sobre este orientalista Eduardo Dias, apenas que nasceu em 1888 e morreu em 1949, tendo publicado outras traduções e livros sobre o Médio-Oriente. Naturalmente, por curiosidade, foi ver o que ele dizia na "Apresentação" no volume I. É um texto interessante, que releva uma abordagem à tradução que, no mundo ocidental, estava a dar as últimas. Espero voltar mais tarde a esta questão do modo de ver a tradução e algumas das faes por que passou (e passa).

Em primeiro lugar faz referência ao que se fez em Portugal até essa data com As mil e uma noites:

É notório que o modêlo usado entre nós foi sempre a tradução francesa de Galland, à qual o autor destas linhas fêz, não há muito, longa referência noutro livro. Essa tradução - deve repetir-se é, para a sua época (1704), um trabalho notável, e julgar-se-á das difilcudades que apresentou se tivermos em conta que foi a primeira conhecida na Europa e teve como base manuscritos dispersos e redigidos em vários dialectos árabes. Outros orientalistas francesas continuaram a obra de Galland, deixada incompleta, - e ainda outros se aproveitaram dela para exibirem o que descaradamente chamaram «novas traduções»...
Em Portugal, o saboroso livro tam caído em mãos desastradas. A partir da edição que surgiu em 1801 - «traduzida em francês por Mr. Galland e do francês em português pelo tradutor do Viajante Universal» - e que é de supor tenha sido a primeira, até outras mais recentes, os disparate acumulantes de maneira incrível.
Um só exemplo, para não maçar: Determinada passagem devia traduzir-se em francês (não tenho aqui a edição de Galland) mais ao menos assim: «... le sol était balayé et arrosé et l'air y était tempéré». Nas edições portuguesas que foi possível consultar, o «arrosé» aparece transformado em água de rosas; sendo esta, exactamente, a redacção do homem do Viajante Universal: «... corria um brando zéfiro e o calçado estava regado de água rosada»...

De facto a tradução de Galland teve uma influência enorme em quase todas as outras traduções europeias durante muito tempo. Portugal não foi excepção. Quanto às traduções risíveis, não será a primeira, nem a última

Depois, Eduardo Dias descreve a sua abordagrm à tradução que, muitos, sem dúvida, não hesitarão de classificar como eurocêntrica:

Na edição ora apresentada excluiui-se o processo de tradução literal, e fêz-se o que se pôde, tanto quanto o engenho auxiliou, para realçar o produto da imaginação criadora, mostrando assim, em forma acessível ao gôsto europeu, a mais atraente substância de As Mil e Uma Noites. Para isso, foram implacàvelmente diluidas as espêssas roupagens de que os escritores orientais abusam, por môr da natural disposição dos ouvientes, sempre em maior número que os leitores. [...]

Assim, tendo em vista a edição dos jesuitas de Beirute e a última do Cairo, e ainda a versão inglesa de Burton, além de outras menos importantes, diligenciou-se formar um texto leve e agradável, no estilo mais simples e adequado, mas sem alterar o sentido e o carácter da narrativa. Observe-se também que, dentro do mesmo critério, evitou-se a preocupação de Mardrus em sublinhar a vermelho certas passagens da edição de Bulaque. Esta edição é tida como impressionante e completa em conseqüencia do erotismo abjecto dos trechos incluídos na tradução de Mardrus, quadros êsses que o orientalista Galland e seus continuadores já tinham evidentemente desprezado como impróprios da civilização ocidental. [...]

Já agora, para oferecer tôdas as explicações, dir-se-á que nesta edição foram abreviadas as narrativas prolixas, e suprimidas as enfadonhas e frequüentes repetições, tal como as longas e insulsas tiradas poéticas - estas últimas fabricadas especialmente para satisfazer os ouvintes orientais, que deliram quando o narrador suspender um lance da história e grunhe umas lérias sem relação com o texto da prosa. Depois - já o disse Heine - versos traduzidos são, quási sempre, raios de lus empalhados.

Bem, o texto da "Apresentação" ainda continua, mas vou-me deter por aqui, pois é onde está o essencial sobre o processo de radução empreendido para a obra. Algumas observações. Há uma tentativa de adequação do texto ao leitor ocidental. O compilador não teve a mínima intenção de fazer a tradução integral da obra, mas apenas reformulá-la, adequando ao gosto e moralidade dos seus leitores.

Por isso, através da consulta de diversas fontes, a fim de fazer a selecção que melhor lhe convinha para os seus propósito, não hesita em eliminar ou atenuar os pormenores que ela considera como mais escabrosos e que, apesar de tudo, foram traduzidos, por exemplo, em inglês em plena época vitoriana.

Este processo de eliminar aquilo que se pensa pouco adequado para os leitores era habitual na época e nenhum autor, por mais consagrado que fosse, estava isento: Shakespeare, por exemplo, teve uma versão bowdlerized. Por exemplo, em 1789, Miguel do Couto Guerreiro traduziu Ovídio e o título do seu livro era "Cartas de Ovidio chamadas Heroides, expurgadas de toda a obscenidade, e traduzidas em Rima vulgar: ...". Já em 1783, José António da Mata, escreveu o seguinte no "Prólogo" à sua tradução das Odes de Horácio:

Ultimamente como Horácio foi tão libertino, que nunca escolheu lei ou religião alguma, [...] ainda que alguns com pouco fundamente o fazem Académico, outros Epicúreo, outros Pitagórico; contudo, observadas as suas palavras e costumes, dissera eu que segiui a lei da Natureza, abraçando todos os ditames do apetite e leviandade, por cujo motivo escreveu muitas obscenidades de que com todo o cuidado e diligência o expurguei nesta minha tradução, pelo perigo que nisto corre a inocência.

O mundo mundou muito nos últimos 60 anos e o modo de ver e fazer tradução de obras estrangeiras (neste caso, por acaso, estamos a falar de literatura) também se alterou, sendo que, os pressupostos que estiveram na base da compilação de Eduardo Dias de As Mil e Uma Noites não serão, actualmente, aceites pela maioria dos tradutores actuais.

Traduções como as das Mil e Uma Noites tiveram a sua importância, dando a conhecer, mesmo que com simplificações e omissões, uma literatura bastante desconhecida.

Prémio Nobel da Literatura

A escolhida foi Doris Lessing que, diga-se de passagem, não conheço (com tantos escritores é difícil ler tudo).

Mas, pelos comentários que li e ouvi hoje, penso que, desta vez, a escolha não é propriamente um escândalo. Não se caiu na tentação de se premiar alguém apenas por uma qualquer questão politicamente correcta.

Ainda bem. Assim não se desprestigia o Nobel. Esperemos que amanha, para o Prémio Nobel da Paz, se tenha o mesmo bom senso.

Não sei porquê, mas tenho a impressão de que não será assim ee que vai sair disparate.

Centenário

Quando eu era adolescente eu era um leitor compulsivo e por volta dos meus 15/16 anos comecei a ler livros de ficção científica da Colecção Argonauta. Pode ser que algumas pessoas considerem a ficção científica um género menor ou até uma espécie de paraliteratura, mas há alguns autores que são verdadeiros escritores, com algumas obras-primas.

Entre os autores de ficção científica que li encontravam-se E.E. Doc Smith, Philip K. Dick, Arthur C. Clarke, Ursula le Guin, Isaac Asimov entre outros. Mas, uns dos primeiros livros que li foi "Soldado no Espaço" (Starship Troopers) de Robert A. Heinlein. Depois deste livro (que valeu ao autor acusações de fascita e outras amabilidades).

Heinlein foi para muitos o maior escritor de ficção científica de sempre. Não sei se assim foi, mas sei que os seus livros põem sempre em questão muita coisa, e, frequentemente, fazem-nos pensar. Aliás, os livros de ficação científica, os bons, fazem-nos frequentemente pensar.

Hoje, é o centenário do nascimento de Robert A. Heinlein, pelo que decidi fazer esta pequena recordação deste autor.

Mais artigos sobre o centenário de Heinlein aqui, aqui ou aqui.

Dia Mundial da Poesia

A TAÇA DE CHÁ

 

O luar desmaiava mais ainda uma máscara caída nas esteiras bordadas. E os bambús ao vento e os crysanthemos nos jardins e as garças no tanque, gemiam com elle a advinharem-lhe o fim. Em róda tombávam-se adormecidos os idolos coloridos e os dragões alados. E a gueisha, procelana transparente como a casca de um ovo da Ibis, enrodilhou-se num labyrinto que nem os dragões dos deuses em dias de lagrymas. E os seus olhos rasgados, perolas de Nankim a desmaiar-se em agua, confundiam-se scintillantes no luzidio das procelanas.
Elle, num gesto ultimo, fechou-lhe os labios co'as pontas dos dedos, e disse a finar-se: Chorar não é remédio; só te peço que mão me atraiçoes emquanto o meu corpo fôr quente. Deitou a cabeça nas esteiras e ficou. E Ella, num grito de garça, ergueu alto os braços a pedir o Ceu para Elle, e a saltitar foi pelos jardins a sacudir as mãos, que todos os que passavam olharam para Ella.
Pela manhã vinham os visinhos em bicos dos pés espreitar por entre os bambús, e todos viram acocorada a gueisha abanando o motor com um leque de marfim.

A estampa do pires é igual.

 

José de Almada-Negreiros.


(Orpheu, n.º 1 - 1915, p. 59)

Sim, a poesia também pode ser escrita em prosa.

Super flumina em catalão

No seguimento do artigo anterior Bons exemplos, encontrei a tradução da Bíblia em catalão feitas pelos monges da Abadia de Montserrat. Muito naturalmente procurei logo o salmo 137 (136) que, como aqui expliquei dá o nome a este meu blog (tendo nessa altura publicado as versões latina e portuguesa deste salmo). Agora, publico a versão catalã (diga-se de passagem que sou um apaixonado pela lingua catalã, que não falo, mas que me esforço por ler cada vez melhor).

 

Salm 137 (136): Cant dels exiliats


1    Vora els rius de Babilònia ens assèiem

tot plorant d'enyorança de Sió.

2    Teníem penjades les lires

als salzes que hi ha a la ciutat.

3    Quan volien que cantéssim

els qui ens havien deportat,

quan demanaven cants alegres

els qui ens havien entristit,

i ens deien: «Canteu-nos

algun càntic de Sió»,

4    ¿com podíem cantar cants de Jahvè

en una terra estrangera?

5    Si mai t'oblidava, Jerusalem,

que se'm paralitzi la mà dreta;

6    que se m'encasti la llengua al paladar,

si deixés d'anomenar-te,

si deixés d'evocar el teu record,

per inspirar els meus cants de festa.

 

7    Tingueu en compte, Jahvè,

com parlaven els d'Edom

el dia que caigué Jerusalem:

«Arraseu-la, deien, arraseu-la

amb els fonaments i tot».

 

8    Babilònia, ciutat destructora!

allò que tu vas fer amb nosaltres,

d'altres ho faran amb tu:

9    et prendran les criatures

per esclafar-les a la roca.


(Fonte)

Na Biblioteca Virtual Lluis Vives encontram toda a Bíblia traduzida pelos monges de Montserrat. E já agora paroveitam por dar uma volta por toda a biblioteca. Vão ver que o catalão não é uma barreira intrasponível.

Quinto Horácio Flaco

Horácio, nasceu em 8 de Dezembro de 65 a.C. e faleceu (se a data está certa pois já vi uma diferente) em 27 de Novembro de 8 a.C. Foi um poeta extremamente importante não só na sua época, mas também na história da literatura ocidental, sobretudo do séc. XV ao séc. XVIII. Quer através da sua Epistola ad Pisones (mais conhecida por Arte Poética), que através das suas Odes, Horácio influencia desde Camões a Correia Garção. Para lembrar um dos grandes poetas de sempre, deixo um dos seus poemas mais famosos (e divulgado, por exemplo, no "Clube dos Poetas mortos") e a tradução para português de David Mourão-Ferreira.

Tu ne quaesieris, scire nefas, quem mihi, quem tibi
finem di dederint, Leuconoe, nec Babylonios
temptaris numeros. ut melius, quidquid erit, pati.
seu pluris hiemes seu tribuit Iuppiter ultimam,
quae nunc oppositis debilitat pumicibus mare
Tyrrhenum: sapias, uina liques, et spatio breui
spem longam reseces. dum loquimur, fugerit inuida
aetas: carpe diem quam minimum credula postero.

Horácio, Odes, I, 11


Não procures, Leuconoe, - ímpio será sabê-lo -
que fim a nós os dois os deuses destinaram;
não consultes sequer os números babilónicos:
Melhor é aceitar! E venha o que vier!
Quer Júpiter te dê ainda muitos Invernos,
quer seja o derradeiro este que ora desfaz
nos rochedos hostis ondas do mar Tirreno,
vive com sensatez destilando o teu vinho
e, como a vida é breve, encurta a longa esp'rança.
De inveja o tempo voa enquanto nós falamos:
trata pois de colher o dia, o dia de hoje,
que nunca o de amanhã merece confiança.

Trad. de David Mourão-Ferreira

Prémio Nobel da Literatura

Hoje será conhecido o prémio Nobel da literatura.Digo desde já que, para mim, é totalmente irrelevante, pois nunca comprei qualquer livro apenas por o seu autor ter sido premiado nessa ano com o prémio.

Mas, esta irrelevância do prémio passa também por o tipo de escritores que têm sido escolhidos, como é caso exemplar o da laureada do ano passado que, do pouco que li dela, é de uma enorme mediocridade. Aliás, já nem tenho o livro, não valia a pena (já tenho os livros fora das estantes, nem sei onde inventar mais espaço, pelo que o lastro inútil vai fora...)

Sei que no mundo da literatura será sempre muito difícil agradar a todos, ter uma decisão unânime, pois, habitualmente, não é só a literatura que está em apreço (tudo conta desde a ideologia, raça, religião, região geográfica, etc.). Mas, não faria mal o prémio Nobel ter critérios menos politicamente correctos e usar critérios um pouco mais literários.

De qualquer modo, é também irrealista pensar que os "sábios" da Academia Sueca sejam capazes de conhecer todos os escritores, ou que tenham lido uma parte substancial da obra de todos os escritores que fazem parte da lista do possíveis nobelizados. Por outro lado, ninguém no mundo tem a capacidade de conhecer todos os escritores do mundo ou o que se passa no mundo da literatura em todos os países do mundo.

Por isso, apesar de ser de longo o mais prestigioso, o prémio Nobel não é, senão, mais um prémio literário, com todas as qualidades e defeitos que daí advêm.

Post scriptum. A bolinha da sorte saiu a Harold Pinter. Que dizer? Nada, porque não posso falar daquilo que não sei. Conheço apenas superficialmente a sua obra e nunca vi nenhuma peça. Do que conheço, não me atraiu muito, pelo que nunca mais pensei em voltar a lê-lo. Estou errado? Talvez, mas vai ser difícil mudar de opinião.

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Links

Blogs

  •  
  • Notícias

  •  
  • Política e Economia

  •  
  • Religião

    Arquivo

    1. 2020
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    14. 2019
    15. J
    16. F
    17. M
    18. A
    19. M
    20. J
    21. J
    22. A
    23. S
    24. O
    25. N
    26. D
    27. 2018
    28. J
    29. F
    30. M
    31. A
    32. M
    33. J
    34. J
    35. A
    36. S
    37. O
    38. N
    39. D
    40. 2017
    41. J
    42. F
    43. M
    44. A
    45. M
    46. J
    47. J
    48. A
    49. S
    50. O
    51. N
    52. D
    53. 2016
    54. J
    55. F
    56. M
    57. A
    58. M
    59. J
    60. J
    61. A
    62. S
    63. O
    64. N
    65. D
    66. 2015
    67. J
    68. F
    69. M
    70. A
    71. M
    72. J
    73. J
    74. A
    75. S
    76. O
    77. N
    78. D
    79. 2014
    80. J
    81. F
    82. M
    83. A
    84. M
    85. J
    86. J
    87. A
    88. S
    89. O
    90. N
    91. D
    92. 2013
    93. J
    94. F
    95. M
    96. A
    97. M
    98. J
    99. J
    100. A
    101. S
    102. O
    103. N
    104. D
    105. 2012
    106. J
    107. F
    108. M
    109. A
    110. M
    111. J
    112. J
    113. A
    114. S
    115. O
    116. N
    117. D
    118. 2011
    119. J
    120. F
    121. M
    122. A
    123. M
    124. J
    125. J
    126. A
    127. S
    128. O
    129. N
    130. D
    131. 2010
    132. J
    133. F
    134. M
    135. A
    136. M
    137. J
    138. J
    139. A
    140. S
    141. O
    142. N
    143. D
    144. 2009
    145. J
    146. F
    147. M
    148. A
    149. M
    150. J
    151. J
    152. A
    153. S
    154. O
    155. N
    156. D
    157. 2008
    158. J
    159. F
    160. M
    161. A
    162. M
    163. J
    164. J
    165. A
    166. S
    167. O
    168. N
    169. D
    170. 2007
    171. J
    172. F
    173. M
    174. A
    175. M
    176. J
    177. J
    178. A
    179. S
    180. O
    181. N
    182. D
    183. 2006
    184. J
    185. F
    186. M
    187. A
    188. M
    189. J
    190. J
    191. A
    192. S
    193. O
    194. N
    195. D
    196. 2005
    197. J
    198. F
    199. M
    200. A
    201. M
    202. J
    203. J
    204. A
    205. S
    206. O
    207. N
    208. D
    209. 2004
    210. J
    211. F
    212. M
    213. A
    214. M
    215. J
    216. J
    217. A
    218. S
    219. O
    220. N
    221. D
    222. 2003
    223. J
    224. F
    225. M
    226. A
    227. M
    228. J
    229. J
    230. A
    231. S
    232. O
    233. N
    234. D