Ainda recentemente Hélder Guégués escrevia uma entrada sobre os falsos cognatos, mencionado expressamente o caso da palavra "casual". Nem de propósito, hohe no Publico, numa notícia sobre o almoço de Bush e Sarkozy, a jornalista Margarida Santos Lopes escreve:
Num "almoço casual", que mais parecia uma cimeira informal, os presidentes dos EUA e França realçaram o que os une e desvalorizaram as divergências.
Tal como Hélder Guégués acho perfeitamente dispensável o significado anglicizado de "casual". Nem que para isso se tenha que reformular a frase...
Sempre fui contra o politicamente correcto e com a tendência manifestada nas últimas três décadas de criminalizar as afirmações politicamente incorrectas. Agora, qualquer afirmação menos polida é logo taxada de homofóbica, racista, anti-semita, islamofóbica, etc, etc, etc...
As afirmações até podem ser isso tudo, mas o mundo é feito de opiniões divergentes e de confronto. Esta tendência de criminalizar opiniões menos alinhadas é típica das sociedades modernas que querem criar um pensamento único e tem origem, como não podia deixar de ser, no pensamento marxista, pois através do controlo das palavras que se podem dizer, controla-se também o pensamento, reduzindo-se a capacidade de reflectir.
Vem tudo isto a propósito de um excelente artigo que encontrei no Libération escrito por Michel Erman. Vale a pena ler e reflectir sobre o assunto. Deixo aqui, apenas a sua conclusão:
Il y a plus de deux siècles, dans son Essai sur l'origine des langues, Rousseau constatait que l'exercice de la parole publique tout comme le goût du débat avaient disparu de la société d'alors pour être remplacés par les sermons. Prenons garde à ne pas nous placer aujourd'hui dans une situation semblable à celle qui prévalait pour l'Ancien Régime. Une société où l'on préfère la parole imposée à la parole partagée et où l'opinion discordante se nomme blasphème.
Não quero ser aborrecido com estas histórias do pensamento único/politicamente correcto, mas é por eu pensar que o politicamente correcto é uma ameaça concreta e real à liberdade de expressão que tanto custou a ganhar que eu volto a referir estas histórias (eu sei que prometi há uns tempos um artigo um pouco mais elaborado sobre o assunto, mas um pouco de paciência, primeiro foi preciso fazer alguma pesquisa e agora está em fase de elaboração).
Esta história passa-se no Canadá (o título desta entrada também poderia ser "Le Canadá n'est pas un pays sérieux 3" no seguimento de duas entradas de Dezembro) e em contada por Mark Steyn.
Um comentador de hóquei em gelo muito conhecido no Canadá que, a propósito de tornar obrigatório o uso de visores de protecção nos capacetes, disse que "Most of the guys that wear them are Europeans and French guys." Tal bastou para que a Official Languages Commissioner afectasse dois investigadores para investigar tal comentário, sendo que mais recursos poderiam ser atribuídos para tratar este caso. Se o ridículo matasse, muito gente já estaria morta no Canadá.
Mas, ainda pior foi a declaração de Jean Augustine ("junior Multiculturalism Minister") que disse "The government will not tolerate statements that create dissonance in our society and disrespect for others."
Comentário de Mark Steyn:
I'm grateful to Glen Parent of Alberta for bringing those words to my attention. If I were writing a satirical novel and wished to craft a sentence for a government spokesperson that summed up the ugly, bullying intolerance of the cult of "tolerance", I'd have rejected that sentence as too crude and obvious. But it never occurred to Ms Augustine that this might not be an appropriate formulation for a Minister of the Crown in what's supposed to be a free society.
Leiam todo o artigo e vejam se o politicamente correcto não é, verdadeiramente, uma ditadura que pretende eliminar qualquer opinião que seja diferente da do pensamento único/politicamente correcto.
Qualquer dia o Canadá parece-se com aquela cidade imaginada do filme Homem Demolidor (com Sylvester Stallone; sim eu sei que alguns podem ficar chocados por eu ter visto Stallone) em que todos tinham que ser simpáticos, bem-educados, etc., etc., etc.
Este artigo de Mark Steyn demonstra exemplarmente como o pensamento politicamente correcto é uma forma de totalitarismo e, sob a capa de promover a diversidade, é, efectivamente, uma forma de suprimir a liberdade de expressão de todos aqueles que não concordarem com esse mesmo pensamento politicamente correcto. Só umas citações:
In Sweden, meanwhile, they’ve passed a constitutional amendment making criticism of homosexuality a crime, punishable by up to four years in jail. Expressing a moral objection to homosexuality is illegal, even on religious grounds, even in church. Those preachers may not be talking about how gays are evil this Sunday. But they might do next week, or next month. As in Ireland and British Columbia, best to be on the safe side and shut down all debate.
Felizmente, isto ainda é impensável em Portugal. O pensamento PC quer eliminar o contraditório. Ora, isso é o primeiro passo para eliminar a verdadeira diversidade de pensamento e, também, o primeiro passo para tornar as pessoas conformistas, pois se pensarem diferente serão castigadas. Sem dúvida meio caminho andado para a ditadura disfarçada de multiculturalidade, diversidade e outras coisas mais.