Histórias esquerdistas exemplares
[Alexander Soljenitsine] não foi mais bem servido pela esquerda espanhola. Tendo concedido, em Março de 1976, seis meses após a morte de Franco e enquanto as reformas democráticas do rei Juan Carlos se encontravam em marcha, uma entrevista à televisão onde declarou que existia muito mais liberdade na Espanha de 1976 que na URSS, viu a resposta ser-lhe dada por um escritor pertencente à esquerda não comunista, Juan Benet: «Acredito firmemente que enquanto houver gente como Alexander Soljenitsine, os campos de concentração devem continuar a existir. Talvez até devessem ser um pouco mais bem vigiados, a fim de pessoas como Alexander Soljenitsine não poderen sair de lá» (Cuadernos para el dialogo, 27 de Março de 1976). Não foi por isto que Juan Benet deixou de ser um intelectual «respeitado». Em suma, uma certa esquerda, mais numerosa do que aquilo que cremos, sente necessidade de pensar que alguém que não seja socialista é nazi. É por isso que se bate selvaticamente para impedir a constatação de um truísmo: a essencial identidade concreta de dois totalitarismos.
Jean-François Revel (2000) A Grande Parada - Porque survive a utopia socialista, Lisboa: Editorial Notícias, pp. 94-95
Nunca compreendi porque é que a esquerda dita democrática continua a olhar para comunistas e extrema-esquerda como possíveis aliados para os governos das nações (aliás os socialistas portugueses não fogem à regra). Nunca terão reparado aquilo que Revel chama um truísmo: a idêntica natureza totalitária do Nazismo e do Comunismo?