Deslumbramentos provincianos
O nosso primeiro-ministro e, por arrastão, os seus indefectíveis têm um deslumbramento provinciano pela tecnologia. Dos magalhães, passando pelas energias renováveis e carros eléctricos, até ao cartão do cidadão, tendo este último sido "vendido" como uma verdadeira maravilha tecnológica.
Acontece que, ontem, nas eleições presidenciais o dito cartão do cidadão deu muitos problemas a muitas pessoas que já o têm, porque o número de eleitor não está mencionado no dito cartão e as pessoas que o tiraram não se aperceberam ou não foram informadas de que ao tirarem o cartão este actualizam automaticamente o recenseamento.
Sempre podem muitos dizer que as pessoas deveriam informar-se antecipadamente, mas já sabemos que saber de cor o número de eleitor não é propriamente uma prioridade para ninguém. Por acaso, não tenho cartão de cidadão (e não tenho vontade nenhuma de o tirar), mas também já não uso o cartão de eleitor, pois está num estado lastimável (já deve ter perto de 30 anos, sei lá). Mas sei o número de cor, pelo que também não preciso dele para nada. Mas, indenpendemente disso, fiquei esptando com a lata deste governo, quando li no Público que o Conselho de Ministro rejeitava responsabilidades com as dificuldades havidas. Diz a notícia:
A Presidência do Conselho de Ministros (PCM) clarificou que o cartão de cidadão “serve apenas para identificar” e “não possui o número de eleitor” em chip ou sob qualquer outra forma.
Deste modo, segundo o assessor de imprensa da PCM, a responsabilidade dos problemas que se verificaram no domingo, com os eleitores que tiveram dificuldades a votar, não estão relacionadas com o cartão de cidadão, uma vez que é a Direcção Geral da Administração Interna (DGAI) que tem a cargo a gestão do recenseamento.
Mas, como muito bem refere o jornal:
... a página oficial do cartão de cidadão na Internet – gerida pela Agência para a Modernização Administrativa que pertence à Presidência do Conselho de Ministros – explica que o cartão de cidadão “agrega e substitui os actuais cartões de contribuinte, de utente do serviço nacional de saúde, de beneficiário da segurança social e de eleitor”. Uma informação que pode ter criado alguma confusão.
E de facto, se formos à dita página, encontramos o seguinte:
O Cartão de Cidadão como documento de cidadania
O Cartão de Cidadão será um novo cartão de identificação dos cidadãos nacionais multifuncional, prático e seguro.
Como documento de identidade permitirá: a) A identificação visual e presencial do cidadão; b) A identificação e a autenticação electrónica do cidadão nos actos informatizados em que intervenha. |
A sua multifuncionalidade possibilitará ao cidadão interagir com diferentes serviços públicos e privados, independentemente do local onde se encontre e do meio de comunicação que utilize.
Será também um documento prático que agrega e substitui os actuais cartões de contribuinte, de utente do serviço nacional de saúde, de beneficiário da segurança social e de eleitor
Ou seja, o portal do cartão do cidadão está a prestar uma informação que, segundo o esclarecimento da Presidência do Conselho de Ministros, é falsa. Este governo "vende" o cartão do cidadão como sendo o nec plus ultra e, afinal, só serve para identificar. Isto para além de, em muitos casos ser menos prático do que o anterior bilhete de identidade, pois com a omissão da filiação e do estado civil, certos actos que se obtinham com a simples apresentação do bilhete de identidade, requerem agora uma certidão. Nada mais simplex...
Enfim, mais uma trapalhada (mas tecnológica) deste (des)governo já fora de prazo de validade.