Nos cem anos da República
Celebra-se hoje o primeiro centenário da República Portuguesa e, sinceramente, não sei o que se vai celebrar: se a Primeira República, se a forma de governo "República". Por mim, sem dúvida republicano, não encontro muito que celebrar na 1.ª República, que se tornou, muito rapidamente, num feudo das várias facções republicanas e com um conceito de democracia muito discutível.
Um país não é mais ou menos democrático por ser uma monarquia ou uma república, como abundantemente demonstram os vários exemplos europeus de monarquias democráticas (Reino Unido, Bélgica, Noruega, Suécia, Holanda, etc.). De qualquer modo, parece-me que a ideia da monarquia, por boas ou más razões, já não tem uma grande base de apoio em Portugal. A monarquia caiu com muito poucos a defendê-la (e a 1.ª República, em 1926, também). Agora, ainda haverá menos a defendê-la e, por vezes, as manifestações monarquicas que se vão fazendo parecem, frequentemente, foclóricas.
A Atenas do século de Péricles orgulhava-se de possuir a isonomia ("igualdade de direitos"), isegoria ("igualdade no falar") e isocracia ("igualdade no acesso aos cargos"). Embora nenhuma destas características possam ser absolutas, a república é aquela que melhor pode cumprir a isocracia, até porque, para mim, a ideia de alguém ser chefe de estado apenas por uma questão de nascimento não me agrada muito.
Deste modo, prefiro antes celebrar (celebrar não será bem a palavra certa) o facto de sermos uma república, até porque esta nossa 3.ª República não é (felizmente, apesar de todos os seus defeitos), uma descendente directa da 1.ª República.
Mas, se pensarmos bem, nem há muito para celebrar, nem esta 3.ª República nem a 1.ª República de há 100 anos.