Datas...
Interessante o artigo de opinião de Francesco Alberoni hoje no I "Estudar as datas na escola ajuda a compreender a identidade do país" (cujo original "Studiare le date a scuola fa capire l'identità del Paese" foi publicado no Corriere della Sera em 02/11/2009).
Interessante porque, no breve período em que dei aulas, foi a incapacidade da maioria dos alunos (mesmo aqueles considerados bons) de ordenar cronologicamente os acontecimentos e a subsequente confusão que tal provocava na expressão dos seus pensamentos foi uma coisa que sempre me frustrou bastante. E u não dei aulas de História, mas de Português e Francês e não era raro os alunos colocarem a poesia galego-portuguesa no século XVI, por exemplo.
Alberoni queixa de fenómenos idênticos como se pode ver por este excerto:
Nos últimos 40 anos, os pedagogos quase destruíram as bases do pensamento racional e os fundamentos da nossa civilização. E fizeram-no com a ajuda de uma única decisão: eliminando as datas, acabando com a obrigatoriedade de apresentar os factos por ordem cronológica. Agora é normal ouvir dizer que Manzoni viveu no século xvi. Não há razões para espanto porque na escola já não se ensinam os acontecimentos pela respectiva ordem temporal, dizendo, por exemplo, que Alexandre Magno viveu antes de César, que, por sua vez, viveu antes de Carlos Magno, e só depois vem Dante e, em seguida, Cristóvão Colombo.
É claro que esta incapacidade para ordernar cronologicamente os acontecimentos, de conhecer as datas, tem consequências. O passado torna-se assim uma almágama. Não advogo que, por exemplo, se aprenda história a decorar datas. Mas o seu conhecimento ajuda.
E quem deu aulas sabe bem isso.