Do plágio em tradução a algumas leituras difíceis..
Nos últimos tempos não tenho tido muito tempo para blogar nem para ler alguns dos meus blogs preferidos. Mas, hoje, com um pouco mais de tempo, não quero deixar de falar de dois assuntos diferentes, mas que estão de algum modo ligado, ou seja, metem livros pelo meio.
O primeiro é a referência não a um post em especial, mas antes ao blog de uma tradutora brasileira, Denise Bottmann, que se chama Não gosto de plágio. De que plágio está a falar a Denise? Plágio de tradução. Sim, ao que parece há quem faça plágio de tradução.
A história conta-se em poucas palavras. No Brasil, há editoras que editam obras de autores de língua estrangeira que já estão em domínio público, mas utilizando traduções de pessoas que ainda estão vivas ou cujas traduções ainda não estão em domínio público (ou alguns que já estãom, mas atribuem-nas a outros como se fossem novas). Para evitarem pagar direitos de autor a estes tradutores, alteram os nomes dos tradutores diferentes, induzindo o público leitor em erro, pois assim, as traduções são apresentadas como se fossem traduções diferentes ou novas.
O problema é que, cotejando-se as várias traduções de uma mesma obra, verifica-se que as traduções são plagiadas. Até tradutores portugueses como Maria Helena da Rocha Pereira ou Adolfo Casais Monteiro, entre outros, foram plagiados.
No entanto, a luta da Denise, e também de outros, levou que uma editora retirasse do mercado a tradução com o nome do tradutor inventado, e fizesse uma nova edição, mencionando o verdadeiro tradutor.
É, sem dúvida, um caso triste de plágio e também um triste exemplo do (baixo) estatuto ou invisibilidade (seja lá o signficiado que demos a esta palavra) que o tradutor tem para muita gente, inclusivamente na edição literária.
Ligado com literatura, ou para alguns com a paraliteratura (cf. Aguiar e Silva in Teoria da Tradução), está o post inconsistência da Adriana sob a suas experiência de leitura de um livro de um jornalista-escritor da nossa praça.
A Adriana irrita-se com a inconsistência da personagem principal e os exemplos que dá são, verdadeiramente, signficiativos, tendo eu alguma experiência com um deles, o caso do alfabeto grego e cirílico. Não sei grego, mas sei ler o alfabeto grego. Ou seja leio grego como leio finlandês, isto é, não percebo nada de finlandês, mas como ele é escrito em alfabeto romano, consegue-se ver as palavras (bem se calhar sei mais palavras em grego, pois conheço aquelas palavras que me ficaram na cabeça desde o tempo das aulas de Introdução à Cultura Clássica e do estudo da Ilíada e Odisseia). E de facto, conhecendo o alfabeto grego, dá para ler (não quero dizer compreender) algumas palavras em cirílico, sobretudo nomes (melhor ainda quando já temos uma vaga ideia do que procuramos).
Entre estas e outras inconsistências, a Adriana parou de ler o livro. E fica aborrecida por isso. Eu compreendo, também não gosto de deixar livros a meio, sejam eles aborrecidos, maus ou outra coisa qualquer. Mas. às vezes o que tem que ser tem muita força e, de qualquer modo, se calhar, a verdadeira razão é que estas inconsistências foram apenas a gota de água que fez acabar a paciência.
Eu sei que grandes autores também cometem deslizes - estou a agora a ler Chateaubriand e em Atala, ele menciona o rouxinol no Novo Mundo, quando ele afinal se restringe apenas ao Velho Mundo -, mas o problema, pelo que a Adriana dá a entender, é que o livro em questão nem sequer consegue ser verosímel.
Geralmente, também não me aventuro na leitura deste tipo de (para)literatura, sobretudo a mais recente, porque acabo por esbarrar em dezenas de lugares comuns e de situações mais ou menos esperadas que, francamente, me tiram todo o prazer a leitura (isto, apesar de alguma desta literatura até poder estar bem escrita). Como o meu tempo para ler é reduzido e eu faço questão de arranjar sempre um minutinos diários para o fazer, certo é que já não pego num livro destes há muito tempo (o meu Código da Vinci está a ganhar pó na prateleira - e só tenho este livro porque mo deram).
Enfim, há muita gente a escrever, mas não há tantos escritores assim.