98 anos de República
Emboa republicano, não sinto particular afeição pela 1.º República, nem pelo modo como foi implantada (consequência do regicídio), nem pela sua ideologia jacobina. Além do mais, a 1.º República não foi lá muito democrática (muito menos democrática do que a monarquia constitucional).
Por exemplo, veja-se o que aconteceu nas primeiras eleições realizadas pela República, para a Assembleia Constituinte:
[...] foi anunciado que apenas haveria eleição onde houvesse mais do que uma candidatura. Quer dizer que só se poderia votar a sério onde o directório não apresentasse candidatos, porque opor-se aos homens do partido era correr o risco de ficar marcado como anti-republicano. Foi o fim da abertura. A eleição ia ser feita dentro do Partido Republicano, e portanto as atenções para com antigos influentes da Monarquia passaram a ser irrelevantes. Toda a gente se apressou a puxar o lustre às suas medalhas partidárias, ou a reclamar «radicalismo». No dia 28 de Maio, só houve votação em 22 dos 50 círculos eleitorais do continente e ilhas. A maioria dos 226 candidatos foram pura e simplesmente proclamados sem oposição. Eram todos republicanos.
[Rui Ramos, História de Portugal, Sexto volume - A segunda fundação, Dir. José Mattoso, Círculo de Leitores, 1994, pp. 452-453]
A 1.º República foi sectária e tudo fez para que as eleições apenas fossem disputadas entre republicanos. Mudou as leis eleitorais, para estas se ajustarem aos seus desígnios, fabricou círculos eleitorais, intimidou adversários, reduziu o universo de eleitores. Governou contra a maioria dos portugueses. Talvez por isso, em 1926, não houve muita gente a querê-la defender.