Segundo o calendário litúrgico anterior à reforma de 1969, hoje é o Domingo da Quinquagésima. É o último domingo do Tempo da Septuagésima, conhecido por “Esto mihi” que são as duas primeiras palavras do introito.
Neste Domingo, o Evangelho de São Lucas fala do terceiro anúncio da paixão e também da cura do cego de Jericó. As traduções da leitura são dos textos litúrgicos actualmente em vigor em Portugal e a do Evangelho é proveniente da tradução publicada pela Conferência Episcopal Portuguesa ad experimentum que, quando aprovada e ratificada, será de uso oficial na Igreja Portuguesa.
Domingo da Quinquagésima (Dominica in Quinquagesima)
2.ª Classe (II Classis)
Estação em São Pedro (Statio ad S. petrum)
Paramentos roxos
Intróito (Ant. ad Introitum) Salmo 30, 3-4 e 2
Esto mihi in Deum protectorem, et in locum refugii, ut salvum me facias: quoniam firmamentum meum, et refugium meum es tu: et propter nomen tuum dux mihi eris, et enutries me. Ps. In te, Domine, speravi, non confundar in aeternum: in justitia tua libera me, et eripe me. ℣. Gloria Patri.
Sê para mim um Deus protetor, e uma casa de refúgio para me pores a salvo. Porque Tu és a minha fortaleza e o meu refúgio, e por causa do teu nome me conduzirás e sustentarás. Sl. Em ti, Senhor, esperei, não permitas que eu seja jamais confundido, pela tua justiça, livra-me e salva-me. ℣. Gloria ao Pai.
Oração (Oratio)
Preces nostras, quaesumus, Domine, clementer exaudi: atque, a peccatorum vinculis absolutos, ab omni nos adversitate custodi. Per Dominum nostrum Iesum Christum, Filium tuum: Qui tecum vivit et regnat in unitáte Spíritus Sancti Deus, per ómnia saecula saeculórum.
Nós te suplicamos, Senhor, que atendas benigno às nossas preces, e, libertando-nos das cadeias do pecado, nos preserves de toda a adversidade. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, teu Filho, que contigo vive e reina em unidade do Espírito Santo, Deus por todos os séculos dos séculos.
Leitura (1 Cor 13, 1-13)
Léctio Epistolae beati Pauli Apostoli ad Corinthios.
Fratres: Si linguis hóminum loquar, et Angelórum, caritátem autem non hábeam, factus sum velut aes sonans, aut cýmbalum tinniens. Et si habúero prophetiam, et noverim mysteria omnia, et omnem sciéntiam: et si habúero omnem fidem, ita ut montes transferam, caritatem autem non habuero, nihil sum. Et si distribuero in cibos pauperum omnes facultates meas, et si tradidero corpus meum, ita ut ardeam, caritatem autem non habuero, nihil mihi prodest. Caritas patiens est, benigna est: caritas non aemulatur, non agit perperam, non innatur, non est ambitiosa, non quaerit quae sua sunt, non irritatur, non cogitat malum, non gaudet super iniquitate, congaudet autem veritati: omnia suffert, omnia credit, omnia sperat, omnia sustinet. Caritas numquam excidit: sive prophetiae evacuabuntur, sive linguae cessabunt, sive scientia destruetur. Ex parte enim cognoscimus, et ex parte prophetamus. Cum autem venerit quod perfectum est, evacuabitur quod ex parte est. Cum essem parvulus, loquebar ut parvulus, sapiebam ut parvulus, cogitabam ut parvulus. Quando autem factus sum vir, evacuavi quae erant parvuli. Videmus nunc per speculum in aenigmate: tune autem facie ad faciem. Nunc cognosco ex parte: tune autem cognoscam sicut et cognitus sum. Nunc autem manent fides, spes, caritas, tria haec: maior autem horum est caritas.
Leitura da Primeira Epístola do apóstolo São Paulo aos Coríntios
Irmãos: Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver caridade, sou como bronze que ressoa ou como címbalo que retine. Ainda que eu tenha o dom da profecia e conheça todos os mistérios e toda a ciência, ainda que eu possua a plenitude da fé, a ponto de transportar montanhas, se não tiver caridade, nada sou. Ainda que distribua todos os meus bens aos famintos e entregue o meu corpo para ser queimado, se não tiver caridade, de nada me aproveita. A caridade é paciente, a caridade é benigna; não é invejosa, não é altiva nem orgulhosa; não é inconveniente, não procura o próprio interesse; não se irrita, não guarda ressentimento; não se alegra com a injustiça, mas alegra-se com a verdade; tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O dom da profecia acabará, o dom das línguas há-de cessar, a ciência desaparecerá; mas a caridade não acaba nunca. De maneira imperfeita conhecemos, de maneira imperfeita profetizamos. Mas quando vier o que é perfeito, o que é imperfeito desaparecerá. Quando eu era criança, falava como criança, sentia como criança e pensava como criança. Mas quando me fiz homem, deixei o que era infantil. Agora vemos como num espelho e de maneira confusa, depois, veremos face a face. Agora, conheço de maneira imperfeita, depois, conhecerei como sou conhecido. Agora permanecem estas três coisas: a fé, a esperança e a caridade; mas a maior de todas é a caridade.
Gradual (Graduale) Salmo 76, 15-16
Tu es Deus qui facis mirabilia solus: notam fecisti in gentibus virtutem tuam.
℣. Liberasti in bracchio tuo populum tuum, filios Israel, et Ioseph.
Tu és o único Deus que operas maravilhas. Fizeste conhecer entre os povos o teu poder.
℣. Com o teu braço resgatastes o teu povo, os filhos de Israel e José.
Tracto (Tractus) Salmo 99, 2-3
Iubilate Deo, omnis terra: servite Domino in laetitia.
℣. Intrate in conspectu ejus in exsultatione: scitote, quod Dominus ipse est Deus.
℣. Ipse fecit nos, et non ipsi nos: nos autem populus ejus, et oves páscuae ejus.
Aclamai a Deus, terra inteira! Servi o Senhor com alegria.
℣. Vinde à sua presença com júbilo! Sabei que o Senhor é Deus.
℣. Ele nos fez, e não nós a nós mesmos. Somos, pois, o seu povo e as ovelhas do seu pasto.
Evangelho (Lc 18, 31-43)
Sequéntia sancti Evangélii secúndum Lucam
In illo tempore: Assumpsit Iesus duodecim, et ait illis: Ecce ascendimus Ierosolymam, et consummabuntur omnia, quae scripta sunt per prophetas de Filio hominis. Tradetur enim gentibus, et illudetur, et flagellabitur, et conspuetur: et postquam flagellaverint, Occident eum, et tertia die resurget. Et ipsi nihil horum intellexerunt, et erat verbum istud absconditum ab eis, et non intellegebant quae dicebantur. Factum est autem, cum appropinquaret Iericho, caecus quidam sedebat secus viam, mendicans. Et cum audiret turbam praetereuntem, interrogabat quid hoc esset. Dixerunt autem ei, quod Iesus Nazarenus transiret. Et clamavit, dicens: Iesu, fili David, miserere mei. Et qui praeibant, increpabant eum ut taceret. Ipse vero multo magis clamabat: Fili David, miserere mei. Stans autem Iesus, iussit ilium adduci ad se. Et cum appropinquasset, interrogavit ilium, dicens: Quid tibi vis faciam ? At ille dixit: Domine, ut videam. Et Iesus dixit illi: Respice, fides tua te salvum fecit. Et confestim vidit, et sequebatur ilium, magnificans Deum. Et omnis plebs ut vidit, dedit laudem Deo.
Continuação do santo Evangelho segundo São Lucas
Naquele tempo, tomando consigo os Doze, disse-lhes: «Eis que subimos para Jerusalém, e vai consumar-se tudo o que foi escrito por meio dos Profetas acerca do Filho do Homem, pois será entregue aos pagãos, escarnecido, injuriado e cuspido. Depois de o chicotearem, matá-lo-ão, e ao terceiro dia ressuscitará. Mas eles nada disto entenderam: estas palavras estavam-lhes escondidas e não percebiam o que estava a ser dito. Ora aconteceu que, quando Ele se aproximava de Jericó, estava um cego sentado junto ao caminho a mendigar. Ao ouvir a multidão a passar, procurou saber o que seria. Anunciaram-lhe: «É Jesus o Nazareno que está a passar. Então clamou, dizendo: «Jesus, filho de David, tem misericórdia de mim!». Os que iam à frente repreendiam-no severamente para que se calasse, mas ele gritava ainda mais: «Filho de David, tem misericórdia de mim». Então, parando, Jesus ordenou que lho trouxessem. E, quando ele se aproximou, interrogou-o: «Que queres que te faça?». Ele disse: «Senhor, que eu volte a ver». Jesus disse-lhe: «Volta a ver, a tua fé te salvou». Subitamente, ele voltou a ver e seguia-o, glorificando a Deus. Todo o povo, ao ver isto, deu louvor a Deus.
Ofertório (Ant. ad Offertorium) Salmo 118, 12-13.
Benedictus es, Domine, doce me Justificationes tuas: in labiis meis pronuntiavi omnia iudicia oris tui.
Bendito sejas, Senhor! Ensina-me as tuas leis. Com os meus lábios tenho anunciado todos os decretos da tua boca.
Secreta
Haec hostia, Domine, quáesumus, emundet nostra delicta: et, ad sacrificium celebrandum, subditorum tibi corpora mentesque sanctificet. Per Dominum nostrum.
Nós te suplicamos, Senhor, que esta hóstia apague os nossos pecados e que, pela celebração deste sacrifício, santifique os corpos e as almas dos teus servos. Por nosso Senhor…
Comúnio (Ant. ad Communionem) Salmo 77, 29-30
Manducaverunt, et saturati sunt nimis, et desiderium eorum attulit eis Dominus: non sunt fraudati a desiderio suo.
Comeram até ficarem bem saciados, e assim o Senhor satisfez os seus desejos; não foram iludidos os seus desejos.
Pós-comúnio (PostCommunio)
Quaesumus, omnipotens Deus: ut, qui caelestia alimenta percepimus, per haec contra omnia adversa muniamur. Per Dominum nostrum Iesum Christum, Filium tuum, qui tecum vivit et regnat in unitáte Spíritus Sancti Deus, per ómnia saecula saeculórum.
Nós te pedimos, Deus todo-poderoso, que este alimento celestial que recebemos nos fortifique contra todas as adversidades. Por nosso Senhor Jesus Cristo, teu Filho, que contigo vive e reina em unidade do Espírito Santo, Deus por todos os séculos dos séculos.
Hoje é o Domingo da Sexagésima segundo o Ano Litúrgico anterior a 1969, que é seguido na Forma Extraordinária do Rito Romano. A seguir, apresento o Próprio da Missa deste dia. As traduções das orações e antífonas são da minha autoria e as da leitura e do evangelho da Bíblia Sagrada dos Capuchinhos online (que, para mim, é actualmente a Bíblia de referência em Portugal).
O Domingo da Sexagésima é o segundo domingo do Tempo da Septuagésima. Este tempo é composto pelos três domingos anteriores à Quaresma e é um tempo de preparação e reflexão para a Quaresma.
O Tempo da Septuagésima, juntamente com o Tempo da Quaresma, o Tempo da Paixão, o Tempo da Páscoa e os Domingos depois do Pentecostes compõem o Ciclo da Páscoa ou da Redenção.
O ano litúrgico segundo a forma extraordinária do Rito Romano, começa no primeiro Domingo do Advento e termina no 24.º Domingo depois do Pentecostes. Divide-se em dois grandes ciclos: o Ciclo de Natal ou da Encarnação e ciclo da Páscoa ou da Redenção. Voltarei a este assunto.
Domingo da Sexagésima (Dominica in Sexagesima)
2.ª Classe (II classis)
Estação em São Paulo (Statio ad S. Paulum)
Paramentos roxos
Intróito (Ant. ad Introitum) Salmo 43, 23-26, 2
Exsúrge, quare obdórmis, Dómine? exsúrge, et ne repéllas in finem: quare fáciem tuam avértis, oblivísceris tribulatiónem nostram? adhaesit in terra venter noster: exsúrge, Dómine, ádiuva nos, et líbera nos. Ps. Deus, áuribus nostris audívimus: patres nostri annuntiavérunt nobis.
℣. Glória Patri.
Desperta, Senhor, por que dormes? Levanta-te e não nos rejeites para sempre. Por que desvias de nós o teu rosto e te esqueces da nossa tribulação? O nosso ventre está pegado ao chão. Levanta-te, Senhor, socorre-nos e salva-nos. Sl. Ó Deus, ouvimos com os nossos ouvidos, os nossos pais no-lo anunciaram.
℣. Glória ao Pai.
Oração (Oratio)
Deus, qui cónspicis, quia ex nulla nostra actióne confídimus: concéde propítius; ut, contra advérsa ómnia, Doctóris géntium protectióne muniámur. Per Dominum nostrum Iesum Christum.
Ó Deus, que vês que não podemos confiar nas nossas obras, concede, benigno, que contra todas as adversidades, sejamos protegidos pelo Doutor dos Gentios. Por Nosso Senhor Jesus Cristo.
Leitura 2 Cor 11, 19-33; 12, 1-9
Lectio Epístolae beáti Pauli Apóstoli ad Corinthios
Fratres: Libénter suffértis insipiéntens: cum sitis ipsi sapiéntes. Sustinétis enim, si quis vos in servitútem rédigit, si quis dévorat, si quis áccipit, si quis extóllitur, si quis in fáciem vos cædit. Secúndum ignobilitátem dico, quasi nos infírmi fuérimus in hac parte. In quo quis audet, – in insipiéntia dico – áudeo et ego: Hebraei sunt, et ego: Israelítæ sunt, et ego: Semen Abrahæ sunt, et ego: Minístri Christi sunt, – ut minus sápiens dico – plus ego: in labóribus plúrimis, in carcéribus abundántius, in plagis supra modum, in mórtibus frequénter. A Iudaeis quínquies quadragénas, una minus, accépi. Ter virgis cæsus sum, semel lapidátus sum, ter naufrágium feci, nocte et die in profúndo maris fui: in itinéribus sæpe, perículis flúminum, perículis latrónum, perículis ex génere, perículis ex géntibus, perículis in civitáte, perículis in solitúdine, perículis in mari, perículis in falsis frátribus: in labóre et ærúmna, in vigíliis multis, in fame et siti, in ieiúniis multis, in frigóre et nuditáte: præter illa, quæ extrínsecus sunt, instántia mea cotidiána, sollicitúdo ómnium Ecclesiárum. Quis infirmátur, et ego non infírmor? quis scandalizátur, et ego non uror? Si gloriári opórtet: quæ infirmitátis meæ sunt, gloriábor. Deus et Pater Dómini nostri Iesu Christi, qui est benedíctus in saecula, scit quod non méntior. Damásci præpósitus gentis Arétæ regis, custodiébat civitátem Damascenórum, ut me comprehénderet: et per fenéstram in sporta dimíssus sum per murum, et sic effúgi manus eius. Si gloriári opórtet – non éxpedit quidem, – véniam autem ad visiónes et revelatiónes Dómini. Scio hóminem in Christo ante annos quatuórdecim, – sive in córpore néscio, sive extra corpus néscio, Deus scit – raptum huiúsmodi usque ad tértium cælum. Et scio huiúsmodi hóminem, – sive in córpore, sive extra corpus néscio, Deus scit:- quóniam raptus est in paradisum: et audivit arcána verba, quæ non licet homini loqui. Pro huiúsmodi gloriábor: pro me autem nihil gloriábor nisi in infirmitátibus meis. Nam, et si volúero gloriári, non ero insípiens: veritátem enim dicam: parco autem, ne quis me exístimet supra id, quod videt in me, aut áliquid audit ex me. Et ne magnitúdo revelatiónem extóllat me, datus est mihi stímulus carnis meæ ángelus sátanæ, qui me colaphízet. Propter quod ter Dóminum rogávi, ut discéderet a me: et dixit mihi: Súfficit tibi grátia mea: nam virtus in infirmitáte perfícitur. Libénter ígitur gloriábor in infirmitátibus meis, ut inhábitet in me virtus Christi.
Leitura da Primeira Epístola do apóstolo São Paulo aos Coríntios
Irmãos: Na verdade, tão sensatos como sois, suportais de bom grado os insensatos. Suportais quem vos escraviza, vos devora, vos explora, vos trata com arrogância, vos esbofeteia. Para nossa vergonha o digo: como fracos nos mostramos. Mas daquilo de que alguém se faz forte - eu falo como insensato - também eu me posso fazer. São hebreus? Também eu. São israelitas? Também eu. São descendentes de Abraão? Também eu. São ministros de Cristo? - Falo a delirar - eu ainda mais: muito mais pelos trabalhos, muito mais pelas prisões, imensamente mais pelos açoites, muitas vezes em perigo de morte. Cinco vezes recebi dos Judeus os quarenta açoites menos um. Três vezes fui flagelado com vergastadas, uma vez apedrejado, três vezes naufraguei, e passei uma noite e um dia no alto mar. Viagens a pé sem conta, perigos nos rios, perigos de salteadores, perigos da parte dos meus irmãos de raça, perigos da parte dos pagãos, perigos na cidade, perigos no deserto, perigos no mar, perigos da parte dos falsos irmãos! Trabalhos e duras fadigas, muitas noites sem dormir, fome e sede, frequentes jejuns, frio e nudez! Além de outras coisas, a minha preocupação quotidiana, a solicitude por todas as igrejas! Quem é fraco, sem que eu o seja também? Quem tropeça, sem que eu me sinta queimar de dor? Se é mesmo preciso gloriar-se, é da minha fraqueza que me gloriarei. O Deus e Pai do Senhor Jesus, que é bendito para sempre, sabe que não minto. Em Damasco, o etnarca do rei Aretas mandou guardar a cidade dos damascenos para me prender. Mas fui descido num cesto, por uma janela, ao longo da muralha, e assim escapei das suas mãos. É necessário que me glorie? Na verdade, não convém! Apesar disso, recorrerei às visões e revelações do Senhor. Sei de um homem, em Cristo, que, há catorze anos - ignoro se no corpo ou se fora do corpo, Deus o sabe! - foi arrebatado até ao terceiro céu. E sei que esse homem - ignoro se no corpo ou se fora do corpo, Deus o sabe! - foi arrebatado até ao paraíso e ouviu palavras inefáveis que não é permitido a um homem repetir. Desse homem gloriar-me-ei; mas de mim próprio não me hei-de gloriar, a não ser das minhas fraquezas. Decerto, se quisesse gloriar-me, não seria insensato, pois diria a verdade. Mas abstenho-me, não vá alguém formar de mim um juízo superior ao que vê em mim ou ouve dizer de mim. E porque essas revelações eram extraordinárias, para que não me enchesse de orgulho, foi-me dado um espinho na carne, um anjo de Satanás, para me ferir, a fim de que não me orgulhasse. A esse respeito, três vezes pedi ao Senhor que o afastasse de mim. Mas Ele respondeu-me: «Basta-te a minha graça, porque a força manifesta-se na fraqueza.»
Gradual (Graduale) Salmo 82, 19 e 14
Sciant gentes, quóniam nomen tibi Deus: tu solus Altíssimus super omnem terram. ℣. Deus meus, pone illos ut rotam, et sicut stípulam ante fáciem venti.
Fiquem a saber as nações que o teu nome é Deus; só Tu és o Altíssimo sobre toda a terra. ℣. Ó meu Deus, fá-los girar como um turbilhão, e como palha levada pelo vento.
Tracto (Tractus) Salmo 59, 4 e 6
Commovísti, Dómine, terram, et conturbásti eam. ℣. Sana contritiónes eius, quia mota est. ℣. Ut fúgiant a fácie arcus: ut liberéntur elécti tui.
Senhor, abalaste a terra e a fizeste estremecer. ℣. Repara as suas brechas, porque ela está abalada. ℣. Para que fujam de diante do arco; para que vossos eleitos sejam livres.
Evangelho Lc 8, 4-15
Sequéntia sancti Evangélii secúndum Lucam
In illo témpore: Cum turba plúrima convenírent, et de civitátibus properárent ad Iesum, dixit per similitúdinem: Exiit, qui séminat, semináre semen suum: et dum séminat, áliud cécidit secus viam, et conculcátum est, et vólucres cæli comedérunt illud. Et áliud cécidit supra petram: et natum áruit, quia non habébat humórem. Et áliud cécidit inter spinas, et simul exórtæ spinæ suffocavérunt illud. Et áliud cécidit in terram bonam: et ortum fecit fructum céntuplum. Hæc dicens, clamábat: Qui habet aures audiéndi, audiat. Interrogábant autem eum discípuli eius, quæ esset hæc parábola. Quibus ipse dixit: Vobis datum est nosse mystérium regni Dei, céteris autem in parábolis: ut vidéntes non videant, et audientes non intéllegant. Est autem hæc parábola: Semen est verbum Dei. Qui autem secus viam, hi sunt qui áudiunt: déinde venit diábolus, et tollit verbum de corde eórum, ne credéntes salvi fiant. Nam qui supra petram: qui cum audierint, cum gáudio suscipiunt verbum: et hi radíces non habent: qui ad tempus credunt, et in témpore tentatiónis recédunt. Quod autem in spinas cécidit: hi sunt, qui audiérunt, et a sollicitudínibus et divítiis et voluptátibus vitæ eúntes, suffocántur, et non réferunt fructum. Quod autem in bonam terram: hi sunt, qui in corde bono et óptimo audiéntes verbum rétinent, et fructum áfferunt in patiéntia.
Continuação do santo Evangelho segundo São Lucas
Naquele tempo, como estivesse reunida uma grande multidão, e de todas as cidades viessem ter com Ele, disse esta parábola: «Saiu o semeador para semear a sua semente. Enquanto semeava, uma parte da semente caiu à beira do caminho, foi pisada e as aves do céu comeram-na. Outra caiu sobre a rocha e, depois de ter germinado, secou por falta de humidade. Outra caiu no meio de espinhos, e os espinhos, crescendo com ela, sufocaram-na. Uma outra caiu em boa terra e, uma vez nascida, deu fruto centuplicado.» Dizendo isto, clamava: «Quem tem ouvidos para ouvir, oiça!» Os discípulos perguntaram-lhe o significado desta parábola. Disse-lhes: «A vós foi dado conhecer os mistérios do Reino de Deus; mas aos outros fala-se-lhes em parábolas, a fim de que, vendo, não vejam e, ouvindo, não entendam.» «O significado da parábola é este: a semente é a Palavra de Deus. Os que estão à beira do caminho são aqueles que ouvem, mas em seguida vem o diabo e tira-lhes a palavra do coração, para não se salvarem, acreditando. Os que estão sobre a rocha são os que, ao ouvirem, recebem a palavra com alegria; mas, como não têm raiz, acreditam por algum tempo e afastam-se na hora da provação. A que caiu entre espinhos são aqueles que ouviram, mas, indo pelo seu caminho, são sufocados pelos cuidados, pela riqueza, pelos prazeres da vida e não chegam a dar fruto. E a que caiu em terra boa são aqueles que, tendo ouvido a palavra, com um coração bom e virtuoso, conservam-na e dão fruto com a sua perseverança.»
Credo.
Ofertório (Ant. ad Offertorium) Salmo 16, 5.6-7
Pérfice gressus meos in sémitis tuis, ut non moveántur vestígia mea: inclína aurem tuam, et exáudi verba mea: mirífica misericórdias tuas, qui salvos facis sperántes in te, Dómine.
Firma os meus passos nas tuas veredas, para que os meus pés não vacilem. Inclina para mim os teus ouvidos, e escuta as minhas palavras. Faz brilhar as maravilhas da tua misericórdia, Tu que salvas os que esperam em ti, Senhor.
Secreta (Secreta)
Oblátum tibi, Dómine, sacrifícium, vivíficet nos semper et múniat. Per Dominum nostrum Iesum Christum.
Senhor, faz com que o sacrifício que te oferecemos nos vivifique sempre e nos fortaleça. Por Nosso Senhor Jesus Cristo.
Prefácio da Santíssima Trindade.
Comúnio (Communio) Salmo 42, 4
Introíbo ad altáre Dei, ad Deum, qui lætíficat iuventútem meam.
Vou-me aproximar do altar de Deus, do Deus, que é a alegria da minha juventude.
Pós-comúnio (Postcommunio)
Súpplices te rogámus, omnípotens Deus: ut, quos tuis réficis sacraméntis, tibi étiam plácitis móribus dignánter deservíre concédas. Per Dominum nostrum Iesum Christum.
Nós te suplicamos, ó Deus omnipotente: aos que renovas pelos teus sacramentos, concede também a graça de te servir dignamente vivendo segundo a tua vontade. Por Nosso Senhor Jesus Cristo.
Hoje, celebra-se mais um 14 de Fevereiro, mais um Dia de São Valentim e mais um Dia dos Namorados, mas não é isso o que me interessa.
Quero antes falar do facto de este dia ser conhecido como o Dia de São Valentim, mas, para a Igreja Católica, que festejava São Valentim neste dia, neste momento, este dia já não é o de São Valentim. Assim, se consultarmos o Calendário Litúrgico (Calendário Romano Geral) actual, hoje não é dia de São Valentim, mas sim dos santos Cirilo (826-869), monge, e Metódio (815-885), bispo, que eram irmãos e criaram um alfabeto próprio para traduzir da língua grega para a língua eslava os livros sagrados e são conhecidos como os “Apóstolos dos Eslavos”.
E São Valentino, por que ficou de fora? Pelas muitas dúvidas que o envolvem, com muitas lendas e poucos documentos históricos.
Segundo a Catholic Encyclopaedia, nos antigos martirológios são mencionados pelo menos três santos chamados Valentim na data de 14 de Fevereiro, todos eles mártires, sendo um descrito como sacerdote de Roma e o outro como bispo em Interamna (hoje Terni), tendo sido ambos, aparentemente, martirizados na segunda metade do século III e enterrados na Via Flamínia, mas a diferentes distâncias da cidade. O terceiro São Valentim seria de África.
Mas nem isto é certo, pois todas as notícias que temos de São Valentim são relati3333vamente tardias e sem valor histórico. O mais antigo relato onde Valentim consta é um documento oficial da Igreja dos séculos V-VI, onde aparece o seu aniversário de morte. Ainda no século VIII outro documento conta-nos alguns pormenores do seu martírio: tortura, decapitação à noite, enterro dos discípulos Próculo, Efebo e Apolónio, posterior martírio destes e seu enterro. Outros textos do século VI, contam que São Valentim, cidadão e bispo de Terni, ficou famoso pela santidade de sua vida, pela caridade e humildade, pelo apostolado zeloso e pelos milagres que fez. O seu corpo foi enterrado pelos discípulos em Terni, na milha LXIIII da Via Flamínia.
Nos últimos anos, têm sido realizados numerosos estudos, especialmente dedicados à tentativa de resolver o problema da identificação entre os dois santos do mesmo nome venerados no mesmo dia, o sacerdote romano e o bispo de Terni; as conclusões a que os historiadores mais recentes chegaram falam de um único mártir, o bispo de Terni, enquanto o sacerdote romano parece nunca ter existido e sua figura parece ser o resultado de um mal-entendido. Mas as dúvidas permanecem.
Sobre o terceiro Valentim, além de ter sido martirizado na África juntamente com alguns dos seus companheiros, nada mais se sabe.
Apesar de tudo isto, ainda em 1960, no Calendarium Breviarii et Missalis Romani promulgado pelas Acta Apostolicae Sedis, LII (1960), pp. 686-698, pelo Papa João XXIII, São Valentino era celebrado no dia 14 de Fevereiro, com a classificação de Commemoratio.
Mas em 1969, perante tantas dúvidas e incertezas, Paulo VI, quando promulgou o Calendarium Romanum Generale, em 1969, omitiu São Valentino, bem como outros santos cujas histórias lendárias careciam de confirmação histórica. Assim, no Martirológio, no dia 14 de Fevereiro, aparece apenas e só a seguinte menção:
2. Em Roma, na Via Flamínia, junto à ponte Mílvio, São Valentim, mártir. († data inc.).
Assim sendo, actualmente, a sua memória é apenas facultativa.
Até à reforma da liturgia realizada pelo Concílio do Vaticano II, e que entrou em vigor no Advento de 1969, durante mais de mil anos, houve na Igreja Católica um tempo litúrgico que servia de transição entre as alegrias das festas de Natal e da Epifania e a penitência do tempo quaresmal: o Tempo da Septuagésima.
Este tempo começa com o Domingo da Septuagésima, que é celebrado no terceiro domingo antes da Quarta-feira de Cinzas (e nono domingo antes da Páscoa), e corresponde ao 63.º dia antes da Páscoa. Este domingo é conhecido entre os gregos como o “Domingo do Filho Pródigo”, pois nele se faz a leitura do Evangelho de São Lucas, 15, 11-32. Pelos latinos, também é chamado Dominica Circumdederunt, a partir da primeira palavra do Intróito da Missa da Septuagésima. Os outros domingos agrupados no tempo da Septuagésima são o segundo domingo antes da Quarta-feira de Cinzas, Domingo da Sexagésima, e o domingo imediatamente anterior à Quarta-feira de Cinzas, o Domingo da Quinquagésima. O Tempo da Septuagésima termina na terça-feira anterior à Quarta-feira de Cinzas.
Na literatura litúrgica, o nome “Septuagésima” ocorre pela primeira no Sacramentário gelasiano (sécs. VII ou VIII). Desconhece-se porque se deu o nome de Septuagésima a este dia, pois não é septuagésimo dia antes da Páscoa. Uma possível explicação é que o Domingo da Septuagésima e o Domingo da Sexagésima derivam os seus nomes do Domingo da Quinquagésima, que ocorre 49 dias antes da Páscoa, ou 50 se incluirmos a Páscoa.
Era comum os Cristãos começarem o jejum da Quaresma imediatamente após o Domingo da Septuagésima. Actualmente, a Quaresma inicia-se 46 dias antes da Páscoa, pois os domingos nunca são dia de penitência. Nos primórdios da Igreja, em muitas comunidades, os sábados e as quintas-feiras também não eram dias de penitência. Por isso, para conseguirem fazer 40 dias de jejum antes da Páscoa, o jejum tinha de começar antecipadamente.
Hoje, o Tempo da Septuagésima é preservado na forma extraordinária do rito romano. Na forma ordinária, este tempo passou a fazer parte do Tempo Comum ou Per Annum e, neste ano de 2020, segundo o calendário litúrgico celebrou-se o Domingo V do Tempo Comum.
Durante o Tempo da Septuagésima são utilizados paramentos roxos. Nas Missas de domingo e feriais, o Glória é totalmente omitido e em todas as Missas, após o Gradual, lê-se o Trato em vez do Aleluia. O Glória e o Aleluia só voltam a ser cantados na Vigília Pascal.
In illo témpore: Dixit Jesus discípulis suis parábolam hanc: Simile est regnum coelórum hómini patrifamílias, qui éxiit primo mane condúcere operários in víneam suam. Conventióne autem facta cum operáriis ex denário diúrno, misit eos in víneam suam. Et egréssus circa horam tértiam, vidit álios stantes in foro otiósos, et dixit illis: Ite et vos in víneam meam, et quod justum fúerit, dabo vobis. Illi autem abiérunt. Iterum autem éxiit circa sextam et nonam horam: et fecit simíliter. Circa undécimam vero éxiit, et invénit álios stantes, et dicit illis: Quid hic statis tota die otiósi? Dicunt ei: Quia nemo nos condúxit. Dicit illis: Ite et vos in víneam meam. Cum sero autem factum esset, dicit dóminus víneæ procuratóri suo: Voca operários, et redde illis mercédem, incípiens a novíssimis usque ad primos. Cum veníssent ergo qui circa undécimam horam vénerant, accepérunt síngulos denários. Veniéntes autem et primi, arbitráti sunt, quod plus essent acceptúri: accepérunt autem et ipsi síngulos denários. Et accipiéntes murmurábant advérsus patremfamílias, dicéntes: Hi novíssimi una hora fecérunt et pares illos nobis fecísti, qui portávimus pondus diéi et æstus. At ille respóndens uni eórum, dixit: Amíce, non facio tibi injúriam: nonne ex denário convenísti mecum? Tolle quod tuum est, et vade: volo autem et huic novíssimo dare sicut et tibi. Aut non licet mihi, quod volo, fácere? an óculus tuus nequam est, quia ego bónus sum? Sic erunt novíssimi primi, et primi novíssimi. Multi enim sunt vocáti, pauci vero elécti.
Continuação do santo Evangelho segundo S. Mateus.
Mt 20, 1-16
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos a seguinte parábola: «O reino dos Céus pode comparar-se a um proprietário, que saiu muito cedo a contratar trabalhadores para a sua vinha. Ajustou com eles um denário por dia e mandou-os para a sua vinha. Saiu a meia-manhã, viu outros que estavam na praça ociosos e disse-lhes: ‘Ide vós também para a minha vinha, e dar-vos-ei o que for justo’. E eles foram. Voltou a sair, por volta do meio-dia e pelas três horas da tarde, e fez o mesmo. Saindo ao cair da tarde, encontrou ainda outros que estavam parados e disse-lhes: ‘Porque ficais aqui todo o dia sem trabalhar?’. Eles responderam-lhe: ‘Ninguém nos contratou’. Ele disse-lhes: ‘Ide vós também para a minha vinha’. Ao anoitecer, o dono da vinha disse ao capataz: «Chama os trabalhadores e paga-lhes o salário, a começar pelos últimos e a acabar nos primeiros’. Vieram os do entardecer e receberam um denário cada um. Quando vieram os primeiros, julgaram que iam receber mais, mas receberam também um denário cada um. Depois de o terem recebido, começaram a murmurar contra o proprietário, dizendo: ‘Estes últimos trabalharam só uma hora, e deste-lhes a mesma paga que a nós, que suportámos o peso do dia e o calor’. Mas o proprietário respondeu a um deles: ‘Amigo, em nada te prejudico. Não foi um denário que ajustaste comigo? Leva o que é teu e segue o teu caminho. Eu quero dar a este último tanto como a ti. Não me será permitido fazer o que quero do que é meu? Ou serão maus os teus olhos porque eu sou bom?’. Assim, os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos. Na verdade, muitos são os chamados, mas poucos os escolhidos».
Este é o Evangelho do Domingo da Septuagésima que, segundo o calendário romano geral de 1960, que regula a agora chamada forma extraordinária do Rito Romano, se celebra este domingo. De notar que a frase "Na verdade, muitos são os chamados, mas poucos os escolhidos" foi utilizada por Jesus numa das suas parábolas, em Mateus 22:14, na conclusão da Parábola do Banquete da Boda. Algumas traduções bíblicas também traziam esta frase no final da Parábola dos Trabalhadores da Vinha, em Mateus 20:16, porém ela não consta nos manuscritos gregos mais antigos e, por isso, é geralmente omitida nas mais recentes traduções. Mas, no Missal Romano de 1962, relativo à forma extraordinária, ela ainda está incluída.