José Rodrigues dos Santos pensou que, tendo vendido já tantos livros, lhe faltava o título de autor perseguido pela Igreja (se calhar com inveja de Saramago), como se isso fosse tão perigoso como ser perseguido pela Inquisição. Vai daí, e seguindo o caminho (discutível) de Dan Brown, decidiu que ia revelar a verdadeira identidade de Cristo e isto através de um "romance". Qual estudo académico, qual quê! Qual estudar o originais? nem é preciso! Lê-se umas coisas que outros escreveram e, prontos!, sai "romance" a desmascarar o verdadeiro retrato de Jesus. Enfim, para pretensioso, não está mal...
Se há textos bem estudados, esses textos são os do Antigo e do Novo Testamento. E não é de agora, há séculos que inúmeros académicos se dedicaram à exégese. Ao contrário dos muçulmanos que consideram o Alcorão como tendo sido revelado por Deus a Maomé, os cristãos consideram que a Bíblia foi inspirada por Deus, mas os que escreveram os seus livros são homens, pelo que os textos podem e devem ser interpretados. Todo o processo de constituição do cânone bíblico é constantemente estudado, o porquê de terem entrado uns livros e outros terem ficado de fora.
A entrevista que Rodrigues do Santos deu a uma colega sua na RTP é bastannte simbólica disso. Todas as perguntas e dúvidas de que ele fala são perguntas há muito feitas. Tudo era requentado, sem uma única novidade. Mas depois, quer-nos fazer crer que, através da história ficcional, apresenta factos que não podem ser contraditados. Enfim, presunção e água benta cada um toma a que ter.
No fim de contas, um livro apenas para o "escândalo", para tentar vender um pouco mais. Parece que conseguiu, pois a Igreja Católica já veio criticar o livro. Nihil noui sub sole.
Hoje na primeira página do Expresso está a proposta de uma medida, por parte do governo, com a qual eu concordo plenamente: O fim dos subsídios de férias e de Natal e a integração do seu valor nos salários mensais. É isso que acontece em muitos países por toda a Europa.
Na sessão comemorativa do encerramento das comemorações do centenário daRepública, hoje, apenas um discurso valeu a pena: o de Adolfo Mesquita Nunes do CDS. Vale a pena ouvir.
Ouve-se frequentemente dizer que a actual geração de jovens é a mais qualificada de sempre e que apesar disso está no desemprego. Sempre pensei que o facto de ser ter uma licenciatura (por exemplo) não tinha que dar direito a ter um emprego. Através do Instapundit cheguei a este artigo de Charlie C. W. Cooke intitulado "Don't Occupy Education?" que também aborda este problema (destaques meus):
The number of people participating in the Occupy Wall Street sit-ins because they are angry that their education has not yielded the fruits that they hoped it would becomes more apparent by the day. Many of the protesters I have met are understandably ruffled that they are unemployed, and they often finish their remonstrations with a non-sequitur, delivered as if it were a knockout blow: “And I went to college!” Well, one might ask, “So what?”
I first noticed this “college = good life” fallacy back in England. A close friend of mine was looking for a job straight out of college, and remained unemployed for six months while he searched for what he described as a “graduate job.”
Aqui em Portugal também já ouvi muito licenciado dizer que tinha que arranjar um emprego adequado às suas qualificações (e, ainda por cima, na "sua área"). Como se tal fosse um direito divino!
In the West, we are hard at work establishing a culture that fetishizes education, and instills the belief that college — regardless of its content or application — will, and should, inexorably lead to a better job, or a better life, or even a better America. Worse, that one has a right to these things. In doing so, we have created a Potemkin aristocracy, one based upon the erroneous and tragic conceit that having letters after one’s name intrinsically confers excellence. We are happily encouraging our children to join its ranks, regardless of whether there is any evidence that to do so will be in their interest.
De facto, para muita gente, a educação é a panaceia para tudo. Infelizmente, não é. Não é que eu seja contra o se ter um curso superior. É lógico que um curso superior dá melhores hipóteses de se conseguir um melhor emprego. Mas, sobretudo, tem que dar uma capacidade para ter um melhor desempenho, mesmo em tarefas em que não é preciso ter uma licenciatura. Eu sei que sou melhor tradutor por ter o curso que tenho. Mas o curso foi apenas a base, o resto foi trabalho meu. Não conheço praticamente nenhum recém-licenciado de tradução que esteja completamente apto para ser tradutor independente.
Um licenciado tem que saber em que medida o facto de ter tirado essa licenciatura melhorou a suas capacidades e, também, convencer um potencial empregador das vantagens em o contratar e de lhe mostrar aquilo que poderá aportar como mais-valia à empresa.
Estar à espera de um emprego conforme às qualificações académicas e, ainda por cima, na sua área de estudos, é estar a candidatar-se ao desemprego de lonfa duração. Um curso não é um direito a um emprego, mas apenas mais uma ferramenta que nos permitirá ter sucesso na nossa vida.
Apenas sete por cento da população – um em cada 14 residentes – acha que se trata do mais sério problema que a humanidade está neste momento a enfrentar e 28 por cento dizem que é um dos três maiores problemas actuais. A média da União Europeia é de 20 por cento e 51 por cento, respectivamente.
Bom, ainda bem que há algo em que os portugueses mostram que há vida inteligente no país.
Que todos os dias quando abrimos os jornais encontramos erros de tradução mais ou menos clamorosos (bem, a discussão sobre o que é um erro de tradução pode ser algo verdadeiramente complexa, mas aqui até sou vou falar daqueles que são evidentes) é quase um facto da vida. Se tivessemos que apontar esse tipo de erros, não teríamos tempo para mais nada. Por isso, não foi com surpresa que vi este texto no Linguagista sobre um artigo no Público on-line (publicado em 06.09) que levou a uma carta de uma leitora ao provedor do leitor do jornal, criticando a tradução e sintaxe desse mesmo artigo, não faltando mesmo um malfadado "eventually" traduzido por "eventualmente" (como acontece com demasiada frequência).
O texto do Helder Guégués despertou-me curiosidade para visitar o blog do provedor do leitor do Público, José Queirós, para ver a resposta e a justificação da Direcção do jornal e, francamente, não fiquei espantado.
Diz então Bárbara Reis, directora do Público:
Usamos tradutores profissionais para grandes textos, publicados na revista, por exemplo No dia-a-dia já tivemos secretárias com essa formação e especialidade, mas tal não é verdade há uns anos, dada a gradual diminuição da redacção. Os jornalistas usam fontes em várias línguas. Alguns dos erros que notamos não tem a ver com ignorância, mas com distracção. Ou seja, alguém que passa o dia a ler ou a falar em inglês, quando vai escrever não se apercebe das traduções literais que está a fazer. É um problema que só se consegue resolver reforçando o número de desks e editores online, incapazes de lerem com atenção todos os 150 textos que publicamos por dia. Estamos neste momento a equacionar esse mesmo reforço.
O Público até usa tradutores, mas para grandes textos na revista. Antes tinhas secretárias com essa formação e especialidade. Alto! Secretárias que tinham a formação e especialização de tradução. Então, eram tradutoras, não secretárias! Ou eram secretárias que faziam traduções nas horas vagas ou entre outros afazeres? Que tipo de formação e especialização? É que ser tradutor não é uma questão de ter ou não um curso de tradução. É um bocadinho mais do que isso.
Mas o terceiro parágrafo é verdadeiramente espantoso. Os jornalistas não erram por ignorânica, mas por distracção: "alguém que passa o dia a ler ou a falar em inglês, quando vai escrever não se apercebe das traduções literais que está a fazer". Sinceramente, nem acredito que leio isto. Por um lado, talvez isso aconteça pelo facto de eles não serem tradutores. Um tradutor passa o dia a ler em língua estrangeira para escrever um texto em português (neste caso) e não é por isso que faz traduções literais.
Em segundo lugar é bastante grave que um jornalista não tenha a sensibilidade para perceber que o texto que escreveu não está em bom português ou num português minimamente escorreito. É que alguns decalques sintácticos soam tão mal que o jornalista deveria perceber que haveria algo de errado com o seu texto (por ex. a frase que a leitora dá como exemplo de má construção "e há estirpes muito resistentes que a medicina actual tem menos e menos ferramentas para lutar contra" e que no texto actualmente on line já foi retocada com "cada vez menos" a substituir "menos e menos").
O que me parece é que muito jornalismo actual é feito à base de traduções e que nem toda a gente é competente para as fazer. O controlo é inexistente (e não só para as notícias que são traduzidas). E que, também, não basta saber línguas para as saber fazer.
Por vezes, a leitura dos jornais pode ser algo muito engraçado. No Correio da Manhã, leio que um caçador foi detido pela GNR e que:
Na sequência da detenção, que ocorreu cerca das 17h55, os militares da GNR apreenderam a arma do caçador, 13 cartuxos e uma peça de caça.
Um leitor menos versado nestas coisas da caça haveria de pensar por que raio teriam sido os frades apreendidos. Continua-se a escrever bem na comunicação social, sem dúvida.