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Super Flumina

Liberae sunt enim nostrae cogitationes - Cícero (Mil. 29 - 79) . Um blog de Rui Oliveira superflumina@sapo.pt

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Liberae sunt enim nostrae cogitationes - Cícero (Mil. 29 - 79) . Um blog de Rui Oliveira superflumina@sapo.pt

De ignorantia

Escreveu uma vez Daniel J. Boorstin (1914-2004) que.

The greatest obstacle to discovering the shape of the earth, the continents, and the oceans was not ignorance but the illusion of knowledge.

Aquilo que Boorstin disse sobre as descobertas poder-se-ia também dizer de muitos jornalistas (e não só) portugueses sobre a sua ilusão de conhecimento que têm sobre a Igreja Católica.

Por isso, já nem me admiro quando vejo disparates escritos em jornais dito de referência, como é o caso do Diário de Notícias, em notícia assinada por C.F., intitulada "Veltroni responde à letra às críticas da Igreja Católica" (sem link). E o que diz a notícia? Ei-la:

"Estes romanos devem estar louco." Por Toutatis? Não, por Veltroni. Walter Veltroni, o político italiano que, à frente da esquerda e depois de ter conquistado a simpatia geral enquanto autarca de Roma, "ousa" enfrentar a Igreja Católica num país mais papista do que o Papa.

Tudo porque a revista conservadora Família Cristã - passe o pleonasmo - zurziu, forte e feio, na aliança eleitoral entre o Partido Democrático, de Veltroni, e o Partido Radical, de Marco Penella. Como se o PD e o PR fossem água e axeite.

Responde Veltroni, em entrevista a uma rádio italiana: "A ideia de que os católicos e os laicos não podem coabitar no seio do mesmo partido não é de um país moderno."

[...]

Como se tem verificado em Espanha, a Itália está também a ser palco de crescente intervenção da Igreja Católica na vida política, causando dissabores aos responsáveis laicos. [...]

Não me querendo meter nos aspectos da política italiana, gostava de salientar o carácter muito opinativo e ao mesmo tempo demonstrador de ignorância que esta pequena notícia revela. Apesar do artigo ser pequeno, merecia estar no corpus de um estudo sobre o discurso dos media no campo da análise crítica do discurso, tal como Emília Ribeiro Pedro fez no artigo "O discurso dos e nos media" no livro Análise Crítica do Discurso da Caminho. Com mais algumas "notícias" destas os resultados deveria ser giros.

Mas, passemos aquilo que primeiro me chamou a atenção. A ignorância (e, já agora, o preconceito).

Só porque vivemos num país católico, muita gente pensa conhecer a Igreja Católica, suas instituições, publicações, etc. Vai daí, o(a) jornalista classifica a revista Famiglia Cristiana como conervadora. Como diria o outro, "só contado p'ra você!". Há muitos anos que os católicos mais conservadores desprezam esta revista (aliás como se pode ler na entrada da Wikipedia sobre a revista). Mas, para além do desconhecimento efectivo da revista e do seu posicionamento, a seguir, vem o preconceito: "passe o pleonasmo". Uauuu!

Se atentarmos à definição de pleonasmo (uso o livro Aprender a comentar um texto literário, de Luís de Lima Barreto, da Texto Editora), lemos:

PLEONASMO - redundância resultante da repetição de duas palavras ou expressões que têm o mesmo sentido.

Sem bem compreendi, "revista conservadora = Famiglia Cristiana" ou que é incorrecto ou será, implicitamente, "cristianismo = conservadorismo"? E, claro, subentende-se "conservador" como algum de mau ou prejudicial (por contraponto a "progressista" que é visto sempre como algo de positivo). E terão, mesmo, o mesmo sentido?

Mas, enfim, mais do que estas considerações possam significar, o uso desta figura de retórica (com um efeito de insistência) vem revelar a posição do(a) jornalista e indica-nos claramente de que lado está.

Se alguém quiser saber do que se fala, talvez seja melhor ler os jornais italianos e, já agora o artigo da Famiglia Cristiana sobre o assunto: Pasticcio veltroniano in salsa pannelliana. Talvez fiquem um pouco mais esclarecidos do que está verdadeiramente em questão.

De qualquer modo, é uma "notícia" que revela bem o estado da nossa imprensa de referência.

Pachorra...

... é coisa  que não há para ver o Prós e Contras com ministra e professores.

Vendo esta gente, percebe-se agora por que é que a educação está tão mal.

Vou tentar ver mais um bocado, a ver se percebo alguma coisa, que foi coisa que até não consegui.

Tácticas esquerdistas

Pela quarta vez numa semana, em Espanha, elementos da oposição foram alvo de tentativas de agressão . Desta vez calhou a Esperanza Aguirre e a dois conselheiros do PP, numa visita a um hospital em Madrid.

Se bem nos lembramos, Zapatero disse, quando pensava estar com os microfones desligados, que era necessário fazer subir a tensão para que o PSOE voltasse a ganhar. Pelo visto, parece que é isso mesmo que o PSOE anda a fazer (destaques meus):

Sin embargo, este incidente supone un punto de inflexión en el tipo o la procedencia de los agresores. De esta forma, si en anteriores ocasiones fueron realizadas en su mayor parte por estudiantes universitarios de ultraizquierda o independentistas, émulos de los «borrokas», en ésta es muy significativo que entre las personas que se encontraban ayer a las puertas del hospital hubiera sindicalistas críticos con la política sanitaria de Aguirre y simpatizantes de la Unión Cívica por la República, que protestaban contra la Comunidad, mientras ondeaba banderas tricolores y gritaban «esta es la bandera, la verdadera».

[...] Antonio Beteta, quien además de exigir la «inmediata» actuación de la Fiscalía General del Estado concluyó que «la crispación alentada desde el PSOE se ve que está teniendo resultado». Los socialistas, aseguró, «no tienen inconveniente en contribuir a esa tensión que pedía Zapatero». El altercado de ayer se produce tras la difusión por este periódicos de la consigna distribuida por el PSOE entre sus candidatos bajo el título «Líneas de discurso para la campaña». El manuscrito lo dice muy claro: ordena a los políticos socialistas que califiquen al PP como un «búnker de extrema derecha» y que se apele a las «emociones» en la campaña. Ferraz ya advertía a los suyos: «Debemos apelar en nuestra campaña al voto emocional» para, en teoría, movilizar a la izquierda ante las urnas. «Tensión» y «dramatismo» se produjeron en el primer día de la campaña electoral, una jornada que a punto estuvo de acabar en una desgracia personal.

Parece que o PSOE, depois de ganhar as eleições de 2004 sem saber ler nem escrever, aproveitando a extrema nabice do Governo PP a lidar com os atentados, pensa que tudo é permitido para manter-se no poder.

Por isso recorrem a uma velha táctica da esquerda que é a desqualificação do adversário para, assim, não terem que debater ideias.

Esta gente, apesar das falinhas mansas e dos olhinhos de carneiro mal morto, é extremamente perigosa para a liberdade, pois têm em si todos os germes liberticidas que pulsam nos amantes do socialismo.

Uma opinião lúcida sobre Obama

Ontem, no editorial do Diário de Notícias, falava-se sobre a atracção que Barack Obama despertava em pessoas de diferente índole e, até, da unanimidade de opiniões favoráveis que Obama reune na esquerda portuguesa. Dizia o editorialista:

Esta unanimidade é estranha, politicamente. Não pode haver um projecto que recolha simpatias, embora do mesmo lado do espectro, tão diferentes [...]
Obama fala para os vários pontos cardiais do panorama político. Isto pode ser sinal de um discurso superficial, que lhe permite reunir opostos porque nada aprofunda. [...] Ou pode ser o denominador comum de que a América precisa, neste momento.

Mas, Gerard Baker, no Times Online tem um outro ponto de vista (destaque meus):

But if you listen to Mr Obama's speeches, it is not the lack of substance but the quality of it that ought to worry Americans. [...]

There was no shortage of proposals. He plans large increases in government spending on health and education. He wants to tax the rich more to pay for it. He is against companies using the opportunities of free markets to restructure their operations in the US. He is vehemently protectionist. He continues to insist, despite the growing evidence that this left-wing nostrum would be lunacy, that the US must pull its troops out of Iraq with the utmost dispatch.

De facto, Obama, para além daquele aspecto messiânico (quase que parece o homem providencial), tem um programa que só dá para aumentar o peso do estado. Enfim, mas um socialista...

Acordo ortográfico

Não me lembro se alguma vez escrevi aqui no blog sobre o acordo ortográfico, mas, há uma coisa que me aborrece verdadeiramente, é o tipo de informação que passa, por exemplo, nas televisões portuguesas sobre o assunto.

Ainda hoje, na RTP-N, de manhã, uma notícia começou com algo deste género: "a única língua com duas ortografias". A sério? É certo que Portugal e Brasil têm ortografias oficiais, não sei se outros países de dedicam a isso. Mas, dito como foi dito, até parece que os ingles não escrevem "metre" e os americanos "meter". E como esta, muito mais. Que eu saiba, alemães e suíço também não escrevem exactamente da mesma maneira.

Depois, no decorrer da reportagem, ainda se ouvem outras barbaridades. Alguém disse, já não lembro quem, que, no caso dos documentos internacionais é preciso escrever duas versões: a portugues e a brasileira. Mas, alguém pensa que por termos uma ortografia igual (que, na verdade, mesmo com o acordo, não é integralmente igual), os documentos poderiam ser exactamente iguais para Portugal e Brasil. Será que esta gente não percebeu que a diferente ortografia é, embora a mais visível, a menos importante das diferenças entre o português falado dos dois lados do Atlântico?

E a sintaxe? E a terminologia? Não serão muito diferentes? Por exemplo, no caso da tterminologia: um documento de saúde que fale da SIDA, teria que pôr AIDS/SIDA. E na manutenção industrial em que a confiabilidade dos brasileiros é a fiabilidade dos portugueses. Isto são apenas exemplos básicos, pois em qualquer uma das línguas de especialidade, as diferenças entre Portugal e Brasil são absolutamente abissais. Temos práticas diferentes, métodos diferentes de ir buscar a terminologia. E não falo dos PALOP porque não conheço bem a sua realidade linguística. Mas, certamente também têm os seus usos próprios, sintácticos e terminológicos.

Se alguém pensa que o português europeu e o brasileiro estão apenas separados pela ortografia, bem, pode tirar o cavalinho da chuva, porque esse é o menor dos problemas.

Por mim, contabilidades do género Portugal vai mudar um maior número de palavras do que o Brail não me serve de argumento. A ortografia mudará, como sempre, mudou. Como esvremos agora, não será como os portugueses escreverão no futuro.

O meu problema com o acordo (para além de ser uma opção dirigista) é o da sua utilidade, pois, prevejo, que na maioria dos casos as vantagens apregoadas não passam de wishful thinking.

Voltarei ao assunto.

Insurgente

Não sei se já repararam mas o Insurgente continua desligado. Esperemos que regresso rápido. Não é que tenha lá escrito muito nos últimos tempos, mas gosto de ler os que os meus kamaradas por lá publicam.

Pessoal, ponham lá essa coisa de pé, de novo, ou vair haver revolução!

Pecado original

Ao que parece o serviço de prisões sueco (Kriminalvården) acredita que os filhos devem ser culpados pelos crimes dos seus pais. Só assim se compreende esta notícia, que nos informa que um guarda prisional perdeu o seu emprego porque o seu pai foi condenado por um crime de venda ilegal de bebidas alcoólicas.

O homem nem sequer vive com os pais, mas, enfim, segundo a sua entidade patronal, deve ser castigado pelo crime do pai.

A não ser que haja mais alguma coisa que não está explícita na notícia, e desconhecida de nós, esta situação parece-me de todo idiota. Tal como diz um sindicalista na notícia, parece que os serviços prisionais suecos decidiram restabelecer e aplicar a teoria do pecado original.

Alain Robbe-Grillet est mort

E o "nouveau roman" perdeu o seu papa, que faleceu esta segunda-feira aos 85 anos. Sei que haverá muitos que não apreciam a sua obra, nem sequer o movimento em que se integrou, nem os seus pressupostos.Para muitos é descontrução a mais, história a menos, mas para ele o desafio não estava na história, mas na forma.

Em Pour un nouveau roman [1963], Robbe-Grillet escreveu:

[...] On connaît le dessin satirique russe où un hippopotame, dans la brousse montre un zèbre à un autre hippopotame: «Tu sais, dit-il, ça, c'est du formalisme.» L'existence d'une oeuvre d'art, son poids, ne sont pasà la merci de grilles d'interprétation qui coïncideraient, ou non, avec ses contours. L'oeuvre d'art, comme le monde, est une forme vivante: elle est, elle n'a pas besoin de justification. Le zèbre est réel, le nier ne serait pas raisonnable, bien que ses rayures soient sans doute dépourvues de sens. Il en va de même pour une synphonie, une peinture, un roman: c'est dans leur forme que réside leur réalité.

Mais - et cela nos réalistes socialistes devraient y prendre garde - c'est aussi dans leur forme que réside leur sens, leur «signification profonde», c'est-à-dire leur contenu. Il n'y a pas, pour un écrivain, deux manières possibles d'écrire un même livre. Quand il pense à un roman futur, c'est toujours une écriture qui d'abord lui occupe l'esprit, et réclame sa main. [...]

Kosovo

Hoje foi o dia da independência do Kosovo. Sendo certo que sou por princípio pela auto-determinação dos povos, tenho muito dúvidas quanto a esta "independência". Tudo neste processo está errado. A situação histórica é complexa, depois da intervenção da NATO de 1999, o retorno à Sérvia da província era, praticamente, impossível.

No entanto, penso que o Kosovo é um problema que os europeus vão pagar bem caro (pagar, mesmo no sentido real, pois a UE é quem vai pagar a factura). Os 8 anos de protectorado para nada serviram, não desenvolveram nada, a corrupção continuou, a limpeza étnica feita pelos kosovares albaneses foi sancionada pelos ocupantes, etc.

Enfim, um processo que começou mal, continua mal e, provavelmente, terá um final feliz...

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