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Super Flumina

Liberae sunt enim nostrae cogitationes - Cícero (Mil. 29 - 79) . Um blog de Rui Oliveira superflumina@sapo.pt

Super Flumina

Liberae sunt enim nostrae cogitationes - Cícero (Mil. 29 - 79) . Um blog de Rui Oliveira superflumina@sapo.pt

Dia Mundial da Poesia

A TAÇA DE CHÁ

 

O luar desmaiava mais ainda uma máscara caída nas esteiras bordadas. E os bambús ao vento e os crysanthemos nos jardins e as garças no tanque, gemiam com elle a advinharem-lhe o fim. Em róda tombávam-se adormecidos os idolos coloridos e os dragões alados. E a gueisha, procelana transparente como a casca de um ovo da Ibis, enrodilhou-se num labyrinto que nem os dragões dos deuses em dias de lagrymas. E os seus olhos rasgados, perolas de Nankim a desmaiar-se em agua, confundiam-se scintillantes no luzidio das procelanas.
Elle, num gesto ultimo, fechou-lhe os labios co'as pontas dos dedos, e disse a finar-se: Chorar não é remédio; só te peço que mão me atraiçoes emquanto o meu corpo fôr quente. Deitou a cabeça nas esteiras e ficou. E Ella, num grito de garça, ergueu alto os braços a pedir o Ceu para Elle, e a saltitar foi pelos jardins a sacudir as mãos, que todos os que passavam olharam para Ella.
Pela manhã vinham os visinhos em bicos dos pés espreitar por entre os bambús, e todos viram acocorada a gueisha abanando o motor com um leque de marfim.

A estampa do pires é igual.

 

José de Almada-Negreiros.


(Orpheu, n.º 1 - 1915, p. 59)

Sim, a poesia também pode ser escrita em prosa.

Guerra no Iraque

Fez ontem quatro anos que os Estados Unidos e o Reino Unido começaram a invasão do Iraque. O resultado mais palpável foi o derrube de Sadam por um lado, e o confronto entre comunidades religiosas que se tornou particularmente sangrenta, por outro lado.

Não é que o Iraque de Sadam fosse particularmente pacífico antes da invasão pois o seu governo matava alguns milhares de iraquianos por ano, para além de o programa "petróleo por alimentos" da ONU ter sido utilizado, com a colaboração de altos funcionários da ONU, para enriquecer ainda mais o regime, deixando morrer o povo à fome (e pondo as culpas no bloqueio anglo-americano).

Parece hoje claro que os Estados Unidos subestimaram o pós-derrube do regime. Mas aquilo que a chamada "resistência iraquiana" faz é realmente algo particularmente bárbaro, pois a esmagadora maioria dos mortes das suas acções são iraquianos, não os soldados estrangeiros e, ainda por cima utilizando técnicas que mostram o completo desrespeito pela vida humana como é o caso contado pela AFP: "Iraq insurgents used children in car bombing: general":

Insurgents in Iraq detonated an explosives-rigged vehicle with two children in the back seat after US soldiers let it through a Baghdad checkpoint over the weekend, a senior US military official said Tuesday.

Isto não é resistência, é assassínio.

On connaît la chanson...

Leio no Público que alguns cantores portugueses vão fazer no dia 23 de Março um espectáculo chamado "Canções pelo Iraque". O objectivo é, segundo declarações de José Mário Branco "não é fazer do espectáculo um discurso político sobre a guerra, mas alertar para os aspectos mais gravosos do conflito, as consequências humanitárias". Pois, deve ser isso! Continuando...

"Uma grande parte da opinião pública portuguesa está anestesiada e intoxicada, não tem acesso a todos os factos", referiu o músico, para quem este espectáculo é uma oportunidade dos músicos mostrarem ao seu público que estão contra a guerra.

Como estes senhores são iluminados e têm acesso a informações que não estão ao alcance do comum dos mortais, eles decidiram então brindar-nos com a sua imensa sabedoria. Por mim dispenso, que lhes faça bom proveito.

Já agora, por que é que quando dizem que são contra guerra falam sempre na do Iraque (ou então dos israelitas). Podiam de quando em vez lembrar-se , sei lá, do Darfur, por exemplo.

A verdade a que temos direito

Hoje, por duas vezes, ouvi na RTP, a propósito da passagem dos 4 anos das cimeira dos Açores que deu luz verde à invasão do Iraque, a referência às supostas 650 000 mortes que a invasão terá provocado.

Como se sabe, saiu um estudo na Lancet, reclamando que desde a invasão, morreram 650 000 iraquianos por causa dela. Ora, este estudo o que mais fez foi levantar dúvidas, tanto junto da comunidade científica como junto de organizações que se opuseram à guerra, sobretudo quanto à metodologia utilizada, tal como se pode ver neste artigo do Times online.

Dada as mais do que justificadas dúvidas sobre o assunto, por que é que a RTP se põe a repetir este número que está longe de ser uma verdade indesmentível. Mas, para a RTP é o número conveniente, a verdade que se lixe.

15 de Março de 1147

CAPITULO XXXII

 

Como El-Rei D. Affonso Anriques e os seus escalaram a Villa de Santarém, e foi entrada, e tomada.

 

DESQUE veio a madrugada sobre o quarto dalva, quando elles entederam que as velas estavam mais sossegadas, e sonorentas, e os da Villa mais desegurados, e entregues ao sono, partiram donde estavam, leixando naquelle valle os pajes com os cavalos, e tomaram o somideiro antre Motiraz, e a fonte Datamarma, a qual assi chamam em Arabigo, pelas aguas della, que são doces, e foram assi pelo meio do Vale, indo diante D. Mem Moniz que sabia bem as entradas, e saidas, e El-Rei mais atraz, e posto que por onde levaram tenção de escalar, achassem o contrario do que cuidavam, porém deos a cujo poder não póde haver contrario, lhe tornou em bem este impedimento, por mostrar assi seu poder e ajuda, que no lugar porque haviam de entrar, e sobir, tinham por certo não haver ahi nhuma guarda, e acharam estar duas velas, postas em um cadafalço, feito de novo, que se espertavam um ao outro; e nisto, a rolda que andava pelo muro requerendoás velas, chegou por hi, e falou-lhe, e os Christãos leixáram-se estar quedos, em um pão, que hi estava, até lhe parecer que as velas poderiam adormecer.
E ao cabo de pouco abalou D. Mem Martins trigozo com os seus pelo infesto, e foi por cima da caza de um oleiro, ao muro a poer a escada, em uma aste a fundo, e deu no telhado fazendo grande som; do que D. Mendo havendo grande pezar de pela ventura, espertaram as velas amergeu-se, e de hi a pouco fez assentar curvo, um mancebo, e por cima delle poz a escada mais entregue no muro por onde tanto que acima sobio logo levantou a bandeira del-Rei, que levava; subiram dous com elle, e não sendo ainda mais de tres sobre o muro, não leixaram as velas de acordar, e senti-los, e falou um delles com voz rouca, e dormente, como desvelado, e tresnoitado, e disse: Menhu que quer dizer, quem anda ahi. Respondeo então a Mendo por Aravia, que era dos da rolda, e tornava por lhe dizer cousas que compriam, que decesse abaixo; o Mouro tanto que deceo foi D. Mendo mui prestes a mata-lo, e cortou-lhe a cabeça, e deitou-a aos de fóra, para mais seu esforço, e seguro, e nesto a outra vela quando ouvio, e conheceo que eram Christãos, e não sendo ainda em cima do muro, mais que dez dos nossos, chegaram os da rolda correndo aos brados da vela que ouviram, e encontrando-se com os Christãos, vieram ás cutiladas bravamente os nossos por darem começo, e entrada ao porque iam, e os Mouros pola tolher, antes que o mais mais crecesse.
[...]
Mas o Senhor Deos, que ajuda as obras de seu serviço lhes mudou em melhor, e mais seguro sua tenção, e fadiga, que onde se trabalhavam de entrar pelo muro, entraram pela porta, e de dez escadas que fizeram, duas só abastaram para tudo, porque sobiram até vinte e cinco, os quaes correram mui prestes a quebrar as portas com um machado que lhes fora dado de fora, e britadas as fechaduras, e ambudes entrou El-rei a pé com os seus, e poendo os giolhos em terra, antre as portas, com grande prazer, se encomendou, e deu muitas graças a Deos.
Os Mouros acodiram todos alli peleijando mui rijamente, e vendo já dentro comsigo tanta gente desesperando de se poder alli ter, acolheram-se os mais delles a Alfam, mas pelo despercebimento em se acharam foram logo entrados, e mui muitos delles homens, e molheres, e moços trazidos á espada de que foi o sangue tanto pelas ruas, que parecia serem alli mortos grandes multidão de gados. Todos os que escaparam de não serem mortos na peleija, foram cativos com grandes, e ricos despojos que na Villa se acharam.

Duarte Galvão (1446?-1517) Crónica do Mui Alto e Mui Esclarecido Príncipe D. Afonso henriques, Primeiro Rei de Portugal in Biografias da História de Portugal - Volume XXXII - D. Afonso Henriques (2004), coord. José Hermano Saraiva, Matosinhos: Quid Novi, p. 54-55

Super flumina em catalão

No seguimento do artigo anterior Bons exemplos, encontrei a tradução da Bíblia em catalão feitas pelos monges da Abadia de Montserrat. Muito naturalmente procurei logo o salmo 137 (136) que, como aqui expliquei dá o nome a este meu blog (tendo nessa altura publicado as versões latina e portuguesa deste salmo). Agora, publico a versão catalã (diga-se de passagem que sou um apaixonado pela lingua catalã, que não falo, mas que me esforço por ler cada vez melhor).

 

Salm 137 (136): Cant dels exiliats


1    Vora els rius de Babilònia ens assèiem

tot plorant d'enyorança de Sió.

2    Teníem penjades les lires

als salzes que hi ha a la ciutat.

3    Quan volien que cantéssim

els qui ens havien deportat,

quan demanaven cants alegres

els qui ens havien entristit,

i ens deien: «Canteu-nos

algun càntic de Sió»,

4    ¿com podíem cantar cants de Jahvè

en una terra estrangera?

5    Si mai t'oblidava, Jerusalem,

que se'm paralitzi la mà dreta;

6    que se m'encasti la llengua al paladar,

si deixés d'anomenar-te,

si deixés d'evocar el teu record,

per inspirar els meus cants de festa.

 

7    Tingueu en compte, Jahvè,

com parlaven els d'Edom

el dia que caigué Jerusalem:

«Arraseu-la, deien, arraseu-la

amb els fonaments i tot».

 

8    Babilònia, ciutat destructora!

allò que tu vas fer amb nosaltres,

d'altres ho faran amb tu:

9    et prendran les criatures

per esclafar-les a la roca.


(Fonte)

Na Biblioteca Virtual Lluis Vives encontram toda a Bíblia traduzida pelos monges de Montserrat. E já agora paroveitam por dar uma volta por toda a biblioteca. Vão ver que o catalão não é uma barreira intrasponível.

Bons exemplos

O projecto de digitalização de livros da Google criou e cria ainda grande polémica, sobretudo na Europa, por muitos motivos (desde, por exemplo, problemas de copyright levantados por editores e livreiros até problemas mais políticos, como o facto dos europeus (leia-se, sobretudo, franceses) não quererem que os americanos digitializassem  a "cultura" europeia (com as habituais referências ao domínio da língua inglesa, da cultura ameriacana e visão unilateral do mundo, etc.). Enfim, o blá-blá do costume.

Por meu lado, confesso a minha dependência da Internet para encontrar livros e referências, por vezes, completamente inacessíveis de outro modo, para além do uso habitual das bibliotecas digitais que por aí existem, aliás como se pode ver pela pequena amostra nas hiperligações mencionadas no meu outro blog Humanae Litterae.

Hoje, no suplemento Digital do Público em artigo sem link, informa-nos que o "fundo da biblioteca da Abadia de Montserrat [...] irá ser digitalizado e ficará disponível para os utilizadores do motor de busca do Google (www.google.es/books). Sendo um projecto a longo prazo, prevê-se que dentro de dois anos várias obras estejam já disponíveis para os interessados, quer através do Google, quer da página www.bibliotecademontserrat.net.".

Mas o acordo inclui ainda outra quatro instituições: Biblioteca da Catalunha, Biblioteca Pública Episcopal do Seminário de Barcelona, o Aeneo Barcelonês e o Centro excursionista da Catalunha. Ao todo, 330 mil volumes. O artigo informa ainda que a "sua concretização  significa que estas instituições passarão a ser o segundo parceiro do Google-livros fora do universo anglo-saxónico - o outro é a Universidade Complutense de Madrid.

Mas as declarações ao Digital do padre Damià Rourel, responsável pela biblioteca de Montserrat, são ainda mais interessantes pois ele sublinha a importância de "permitir aos leitores não anglófonos a leitura de livros em outras línguas europeias", como catalão, alemão, castelhano, francês e latim, além do inglês. "Até agora, só as grandes bibliotecas americanas e a de Oxford", no Reino Unido, participavam neste projecto. Os acordos com a Complutense e as cinco bibliotecas catalãs permitem ampliar o universo linguístico.

É bom vermos alguém que tem alguma largueza de vistas, e não esteja somente a arengar contra moinhos de vento, como o domínio da língua inglesa e outras coisas assim.

Guerras climáticas

Na Grã-Bretanha, o Channel 4 vai transmitir no próximo dia 8 de Março um documentário polémico em que o realizador Martin Durkin "argues that the theory of man-made global warming has become such a powerful political force that other explanations for climate change are not being properly aired."

O documentário junta a opinião de vários cientistas que contesta o "consenso"  que muitos clamam existir sobre a causa humana no aquecimento global do planeta.

Será que, a bem do contraditório, José Sócrates também vai ver este filme como fez com o documentário oscarizado apresentado pelo Al Gore e, depois, fazê-lo distribuir este documentário pela escolas tal como pretende fazer com o filme do Al Gore?

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