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Super Flumina

Liberae sunt enim nostrae cogitationes - Cícero (Mil. 29 - 79) . Um blog de Rui Oliveira superflumina@sapo.pt

Super Flumina

Liberae sunt enim nostrae cogitationes - Cícero (Mil. 29 - 79) . Um blog de Rui Oliveira superflumina@sapo.pt

Parabéns

Eu sei que é um pouco como advogar em causa própria (pois também lá escrevo), mas não poderia deixar de passar o segundo aniversário d'O Insurgente.

Só posso desejar a continuação de boas insurgências, agora reforçadas pelo Migas, o Alberto Gonçalves e a Patrícia Lança. E, já agora, espero lá escrever com uma frequência um bocadinho maior, que até agora o tempo não deu para isso.

Lavagens ao cérebro

Parece que o "bicho papão" foi substituído nos pesadelos das criancinhas pelo "aquecimento global". Pelo menos é o que nos diz esta notícia.

Mas, apesar disso, ainda acham que estão a fazer pouco:
Pete Williams, of Somerfield, said: "Concerns over our environment dominate the media at present and kids are exposed to the hard facts as much as anybody."

"While many adults may look the other way, this study should show that global warming is not only hurting the children of the future, it's affecting the welfare of kids now.

"By raising awareness amongst today's young, hopefully we are improving our chances of reaching a solution.''
Mas esta gente está toda doida ou quê? Esta gente devia era ser denunciada à protecção de menores lá do sítio.  Ainda acham que a doutrinação feita é pouca? Além de que se o aquecimento global está a afectar o bem-estar das criancinhas, a culpa é dos alarmistas que andam por aí a fazer previsões que são completamente inverificáveis. Alterações climáticas é coisa que existe na terra desde que ela existe. Se o homem está influenciar ou não o clima é coisa que não sei (embora tenha, sem dúvida, influência sobre o ambiente, o que é coisa diferente), mas previsões catrastofistas é coisa em que não acredito, pois parece-me coisa mais de política do que de ciência.

O caminho da servidão

Se há alguma coisa que está, paradoxalmente, a caracterizar as democracias modernas é a sistemática restrição das liberdades individuais e a cada vez maior intrusão do Estado na vida das pessoas. Um dos maiores atentados às liberdades individuais, nos últimos tempos, tem sido a contínua pressão por meio judicial que organizações comunitaristas (de vários tipos, étnicas, relgiosas, opções sexuais, etc.) têm feito sobre a "liberdade de expressão" das pessoas.

Ainda recentemente, n'O Insurgente, escrevi sobre a interferência da embaixada da Arábia Saudita junto do goveno holandês, apenas porque consideravam islamofóbicas as declarações do deputado Geert Wilders.

Há uma intimidação que pretende discutir impedir uma discussão verdadeira dos assuntos e impor "verdades absolutas". Veja-se o que se passa nos Estados Unidos com o aquecimento global e com alguns apelos a considerarem os cépticos na mesma categoria dos "holocaust deniers". Para mim, tal comparação representa a estupidez em estado puro.

Por isso, acho muito oportuno este texto La banalisation des procédures arbitraires de Anne-Marie La Pourhiet. Eis alguns excertos:

L'on rencontre déjà, dans des procédés extra-judiciaires, l'intimidation, la menace et l'injure qui révèlent la violence psychique des militants et l'intolérance de ceux-là mêmes qui, sous prétexte de prêcher la tolérance, utilisent des méthodes dignes du maccarthysme. L'outing pratiqué par les associations homosexuelles qui ne supportent plus qu'un seul membre du groupe se permette encore de distinguer la sphère privée de la sphère publique, ou le procédé sournois et délateur du testing, tristement validé par la Cour de cassation, révèlent une évidente perte de morale et de repères dans les mœurs collectives. L'utilisation systématique du suffixe « phobie » pour désigner l'opinion coupable suffit à illustrer la « tentation totalitaire » de traiter le dissident en malade mental, auquel une rééducation psychiatrique devrait sans doute être prescrite en sus de la sanction pénale (2).
...
N'importe quelle association composée de militants parfois incultes et souvent hystériques, simplement déclarée depuis cinq ans, détient ainsi le pouvoir exorbitant de menacer de procès pénal aussi bien les citoyens ordinaires que les intellectuels, journalistes, universitaires ou même les élus de la Nation. Le danger est d'autant plus réel que la formation juridique et la rigueur intellectuelle de certains magistrats siégeant en correctionnelle laissent à désirer, de telle sorte qu'il faut souvent envisager de faire appel pour tenter de se libérer des « groupes d'oppression ». A la violation de la liberté s'ajoute aussi celle du principe d'égalité puisque des catégories d'individus sont ainsi munies de véritables privilèges, au sens étymologique de lois privées, tandis que la sélection qu'opèrent les associations entre les personnes qu'elles décident de poursuivre et celles qu'elles préfèrent ignorer crée une rupture manifeste de l'égalité des citoyens devant la loi.

Falsos amigos

Quando vejo uma tradução escrita de alguma coisa ou veio um filme ou série de TV legendada, não costumo andar a fazer aquilo que se pode chamar de caça ao erro, tentando descobrir uma ou outra palavra que o tradutor possa ter traduzido mal. A avaliação de uma tradução é algo um pouco mais complexo, onde entram muitos outros factores,  para além de uma ou outra palavra mal traduzida.

No entanto, por vezes não resisto a comentar quando vejo algo que me parece mais estranho, até por se tratar do tipo de erro em relação ao qual os tradutores estão mais do que avisados (ou deveriam estar): o dos "falsos amigos".

Amanda Grey, no seu blog, conta uma história divertida que lhe acontenceu com as palavras "préservatifs" (do inglês "preservative")  versus "conservateurs" (que aliás para português se traduz, neste caso, por "conservantes", não por "conservadores").

Pois, estava eu a ver a série "24" na Fox Life, hoje de tarde, quando numa frase de Mrs. Logan, falando do assinado presidente Palmer, refere "his inauguration" é traduzido como "a sua inauguração". No contexto, esta tradução não tem qualquer sentido. Claro que "inauguration", naquele contexto, era a "tomada de posse".

No mesmo episódo, quando a Chloe é detida, a frase dita é traduzida como "apreendemos a sua agente". Ora, em inglês, "apprehend" tem o sentido de "capturar alguém" que, vulgarmente, o verbo "apreender" em português não tem. Apreendemos alguma coisa (por exemplo, a matéria que é ensinada nas escolas, ou noutro sentido, "a polícia apreendeu tabaco ilegal").

Digo que este tipo de erros não bastam para classificar uma tradução (ou legendagem) como má, mas, mesmo assim, é o tipo de erro que fica mal na fotografia, pois qualquer tradutor, desde cedo, na sua formação, é alertado para este tipo de problemas.

Referendo ao aborto

Ainda não falei neste blog do referendo do aborto do próximo domingo. Vou falar agora. Na minha opinião, no caso do aborto há dois direitos, pelo menos, em conflito: o do feto e o da mulher. Para mim o direito a nascer do feto é fundamental e sobrepõe-se a todos os outros. Por isso, tal como em 1998, o sentido do meu voto será NÃO.

Por outro lado, se o aborto é um mal (e nisto até os defensores da chamada despenalização concordam), o voto "sim" nada irá resolver, pois, por um lado, continuará, por diversos motivos, a haver aborto clandestino (embora muito mais reduzido como é óbvio) e, por outro lado, não apresenta qualquer solução para minorar (não sou lírico, pois resolver isto nunca será possível) o problema. O que o "sim" faz é pura e simplesmente chutar este "mal" para canto.

Também há quem quer fazer crer que os argumentos do "não" são religiosos. Claro que há muitos que o são. Mas também há argumentos completamente laicos a favor do "não". Veja-se o caso de Norberto Bobbio na entrevista que deu ao Corriere della sera em 1981, nas vespéras do referendo ao aborto em Itália, que a seguir se transcreve:

Na véspera do referendo ao aborto, o «Corriere della sera» de 8 de Maio de 1981 publicou uma entrevista de Giulio Nascimbeni a Norberto Bobbio. O filósofo, entre os máximos expoentes da cultura laica do pós-guerra explica assim as suas razões a favor da vida.

Estou com Norberto Bobbio no seu escritório de Turim, entre estantes cheias e mesas cobertas de jornais e revistas. «Não falo com muito gosto deste problema do aborto» diz-me. Pergunto-lhe porquê. «É um problema muito difícil, é o clássico problema em que nos encontramos perante um conflito de direito e de deveres».

Que direitos e deveres estão em conflito?
«Antes de mais, o direito fundamental do concebido, aquele direito a nascer sobre o qual, no meu entender, não se pode transigir. É o mesmo direito em nome do qual sou contrário à pena de morte. Pode falar-se de despenalização do abordo, mas não se pode ser moralmente indiferente perante o aborto».

Fala de direitos, não de um único direito?
«Há também o direito da mulher a não ser sacrificada a tomar conta de filhos não desejados. E há um terceiro direito: o da sociedade. O direito da sociedade em geral e também das sociedades particulares em não serem sobrepovoadas e, por isso, a exercitar o controlo dos nascimentos».

Não lhe parece que, posto assim, o conflito entre estes direitos se apresente quase como insanável?
«É verdade, são direitos incompatíveis. E quando nos encontramos perante direitos incompatíveis, a escolha é sempre dolorosa».

Mas é preciso decidir.
«Falei em três direitos: o primeiro, o do concebido, é fundamental; os outros, o da mulher e o da sociedade, são derivados. Além disso, e isto para mim é o ponto central, o direito da mulher e o da sociedade, que são habitualmente aduzidos para justificar o aborto, podem ser satisfeitos sem o recurso ao aborto, isto é, evitando a concepção. Uma vez ocorrida a concepção, o direito do concebido só pode seer satisfeito deixando-o nascer».

Que críticas faz à lei 194?
«No primeiro artigo é dito que o Estado "garante o direito à procriação consciente e responsável". No meu entender, este direito só tem razão de ser se se afirmar e aceitar o dever de uma relação sexual consciente e responsável, isto é, entre pessoas conscientes das consequências dos seus actos e prontas a assumir as obrigações deles decorrentes. Adiar a solução após a ocorrência da concepção, isto é quando as consequências que podiam evitar não foram evitadas, isto não me parece ir ao fundo do problema. Tanto é verdade que, no mesmo primeiro artigo da 194, escreve-se logo a seguir que a interrupção da gravidez não é meio para o controlo dos nascimentos».

E se, revogando-se a lei, 194, se voltasse aos «médicos abortistas», às «parteiras», aos dramas e às injustiças do aborto clandestino? O aborto é uma triste realidade, não se pode negá-lo.
«O facto do aborto estar difundido, é um argumento fraquíssimo do ponto de vista jurídico e moral. E admiro-me que seja aduzido com tanta frequência. Os homens são como são: mas a moral e o direito é para isso que existem. O furto de automóveis, por exemplo, está difundido, quase impune: mas isto legitima o furto? Pode-se, no máximo, sustentar que como o aborto está difundido e incontrolável, o Estado tolera-o e procura regulá-lo para limitar-lhe os danos. Deste ponto de vista, se a lei 194 fosse bem aplicada, poderia ser recebida como uma lei que resolve um problema humana e socialmente relevante».

Existem acções moralmente ilícitas mas que não são consideradas ilegítimas?
«Certamente. Cito as relações sexuais nas suas diversas formas, a traição entre cônjuges, a própria prostituição. Permita-me recordar o Ensaio sobre a liberdade de Stuart Mill. São palavras escritas há centro e trinta anos, mas actualíssimas. O direito, segundo Stuart Mill, deve preocupar-se das acções fazem danos à sociedade: "o bem do indivíduo, seja físico ou moral, não é uma justificação suficiente"».

Isso também pode ser válido no caso do aborto?
«Diz ainda Stuart Mill: "Sobre si mesmo, a sua mente e o seu corpo, o indivíduo é soberano". Agora, as feministas dizem: "No meu corpo mando eu". Pareceria uma perfeita aplicação deste princípio. Eu, pelo contrário, digo que é aberrante que abranja o aborto. O indivíduo é uno, singular. No caso do aborto há um "outro" no corpo da mulher. O suicida dispor apenas da sua vida. Com o aborto está-se a dispor da vida de um outro».

Durante toda a sua longa actividade, professor Bobbio, os seus livros, o seu ensinamento são a testemunha de um espírito firmemente laico. Imagine qual será a surpresa no mundo laico por estas suas declarações?
«Gostava de perguntar que surpresa pode haver no facto de um laico considerar como válido em sentido absoluto, como um imperativo categórico, o "não matarás". Pelo meu lado fico estupefacto que os laicos deixem aos crentes o privilégio e a honra de afirmar que não se deve matar».

Lembram-se dos "candidatos bandidos"?

Penso que toda a gente se lembra, durante as últimas autárquicas, da campanha efectuada pelo Bloco de Esqueda, nomeadamente, por Francisco Louçã. Naquela altura, o Bloco fez campanha, especificamente, contra Ferreira Torres, Isaltino e Valentim.

O problema é que, na altura, a única presidente de Câmara do Bloco, a de Salvaterra de Magos, também já estava a ser investigada. Hoje, para além de novas buscas efectuadas nessa Câmara, a presidente da Câmara terá sido constituída arguida, segundo informação da SIC Notícias.

Será que o Bloco não se lembra que não se deve cuspir para o ar...? Ou vai assobiar para o lado e fingir que não se passa nada? Ou, última pergunta por agora, será que os altos padrões morais apenas são exigidos aos outros?

80 ANOS

Há 80 anos nas ruas do Porto combatia-se. Foi a primeira revolta séria contra a Ditadura Militar implantada pelo golpe de 28 de Maio de 1926 (o golpe insurrecional do capitão Alfredo Chaves de 11 de Setembro de 1926 com a infantaria flaviense foi muito incipiente).

Às 4h30 da madrugada iniciou-se a revolta no Porto e à qual se juntaram várias unidades da cidade do Porto, bem como outras vindas de Penafiel, Póvoa de Varzim, Famalicão, Guimarães, Valença, Vila  Real, Régua, Lamego e Amarante.

Foi uma revolta que juntou militares e civis, que pediram ao General Sousa Dias que assumisse o comando. No Comité Militar Revolucionário então formado estavam outras figuras de republicanos bem conhecidos, como o Coronel Fernando Freiria, José Domingues dos Santos, Comandante Jaime Morais, Capitão‑médico Jaime Cortesão e Capitão Sarmento Pimentel.

Os seus objectivos eram o de voltar a instaurar o regime constitucional republicano de 1911. Devido à falta de acção em Lisboa, o governo teve oportunidade de sufocar a revolta no Porto, os revoltosos renderam-se a 7 de Fevereiro, data em que, por fim, Lisboa se revoltou. Tarde de mais. A 9 também em Lisboa a aventura estava acabada. O saldo foi pesado em mortos e feridos.

Até ao golpe de 26 Agosto de 1931, em que Sousa Dias também participou, houve mais tentativas de revolta por parte dos republicanos, mas todas elas acabaram por falhar.  Estava acabada a fase mais insurrecional do Reviralhismo.

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