Há cem anos atrás, mais precisamente em 26 e 27 de Junho de 1906, disputou-se a primeira corrida de automóveis a que se deu o nome de "Grand Prix": foi o Grand Prix de l'Automobile Club de France, antepassado directo da Fórmula 1 actual. Por isso, o Grande Prémio de França que se disputa este ano, neste fim-de-semana, também é o
Grand Prix du Centennaire.
A história da criação deste grande prémio automobilístico é uma história que nasce do descontentamento francês em relação à prova mais famosa da época. Se o Grand Prix de l'ACF pode ser considerado o antepassado directos dos grandes prémios actuais, é certo que já havia diversas corridas para os tipos de carros que disputaram o primeiro grande prémio da história. Por exemplo, a prova mais famosa da época era a Coupe Gordon Bennet.
Esta competição foi criada por James Gordon-Bennet, filho do proprietário do New York Herald, que vivia em França, seu país de adopção, que decidiu, no final de 1899, criar uma competição internacional, com o seu nome, disputada por todas as nações, cada uma representada por três nações cujas viaturas tinham que ser fabricadas inteiramente nesse país (acessórios e tudo). A organização foi dada ao ACF e as seguintes seriam dadas ao país que vencesse a competição. Em França, na altura o país com a indústria automóvel mais desenvolvida do mundo, o caso deu logo escândalo, pois se a maioria dos países do mundo tinham dificuldades para apresentar três carros na prova, a França tinha várias marcas que o podiam fazer. O ACF escolheu a Panhard-Levassor, deixando de fora, por exemplo a Mors (bastante forte nesse ano).
Embora os franceses tivessem dominado praticamente todas as edições desta competição, excepto 1902 e 1903, ganhas, respectivamente pelo Napier de Edge (Grã-Bretanha) e o Mercedes de Jenatzy (Alemanha), o descontentamento entre as marcas francesas aumentavam cada vez mais. Em 1904 e 1905, o ACF teve que escolher os seus três representantes através de eliminatórias em provas com mais de 500 km, pois várias marcas tinham carros preparados para disputarem a prova.
Os franceses pensavam que a regra de 3 viaturas por nação era injusta para a sua indústria automóvel (a mais pujante de então). Por isso, desde o final de 1904, o ACF idealizou o projecto da realização de um Grand Prix de l'ACF, em que os franceses teriam direito a 18 automóveis, a Inglaterra e a Alemanha 6, os Estados Unidos, Áustria, Itália, Bélgica e Suíça 3. Adiada a sua realização em 1905, ele acabou por ser realizar em 1906.
Em 1906, é desenhado um circuito com um perímetro de 103,180 km (!) em Le Mans (nada a ver com o circuito actual das 24 horas), que seria percorrido 12 vezes em dois dias, totalizando uma distância de 1238,160 km (!!).
Após 6 voltas no primeiro dia os carros iam para um parque fechado, onde nenhuma intervenção era autorizada, partindo no dia seguinte separados pelas distâncias com que tinham acabado o dia anterior.
As regras para os automóveis eram simples: peso máximo de 1000 kg (7 kg de tolerância para os equipados com magneto). Os carros em presença tinham cilindradas que iam dos modestos 7433 cm3 do Grégoire até aos 18279 cm3 do Panhard-Levassor, com motores de 4 cilindros.
O vencedor foi Ferenc Szisz um emigrante húngaro, que primeiro foi mecânico depois pilot principal da Renault, ao voltante do seu Renault de 12986 cm3 que percorreu a distância total em 12h 14m 07s à média de 101,195 km/h, bem à frente do segundo classificado, o italiano Felice Nazzaro (Fiat 16286 cm3), que gastou 12h 46m 26,2s.
Um novo passo em frente foi dado no automobilismo foi dado com a realização deste grande prémio, embora, provavelmente, na época, pouca gente se tivesse apercebido disso (por exemplo, os ingleses boicotaram a prova, mas ninguém notou a sua falta).