A notícia já é de ontem, mas não queria deixar de dar os meus parabéns ao Francisco José Viegas pela sua nomeação como próximo director da Casa Fernando Pessoa.
Há, todavia, na notícia da Lusa uma pequena frase que me faz alguma confusão (ou serei eu que estou a ver demais?). Nesta notícia, depois de dar alguns dados biográficos e curriculares de FJV, é dito o seguinte (destaque meu):
Foi director durante 12 anos da revista Ler do Círculo de Leitores, dirigiu também a revista Grande Reportagem e apresentou programas de televisão sobre literatura.
É autor de romance, conto, teatro, poesia e texto de viagem.
Os seus romances inserem-se no âmbito do romance policial.
E é esta última frase que me faz alguma espécie. E porquê? Por um lado, porque de todos os "géneros" mencionados, apenas o romance tem uma classificação: "policial". E as minhas dúvidas estão mesmo aqui.
Haverá neste caso uma vontade de esclarecimento, de apenas dar um dado factual? E já agora, o porquê de um parágrafo isolado? No entanto, não há nenhuma outra classificação no que se refere aos outros géneros mencionados.
E aí entra a minha dúvida maldosa. Será para informar os leitores que os seus romances são afinal romances de um subgénero, de uma literatura dita "inferior", ou seja, de um género menor?
Se calhar estou mesmo só a ser mauzinho, mas não posso deixar de dizer que quando li o texto isto foi a primeira coisa que me veio à cabeça.
Faz hoje dez anos que morreu François Mitterrand. Por França, e acessoriamente em alguns jornais portugueses também não faltam os panegíricos, vai uma grande "Mitterrandolâtrie". Por isso, talvez não seja mal ler este editorial de Alexis Brézet no Le Figaro. Balanço? Ei-lo:
Car enfin, si l'on va au fond des choses, que reste-t-il, outre l'ancrage européen, du double septennat de François Mitterrand ? L'abolition de la peine de mort et la décentralisation. Des bâtiments qui, si l'on excepte l'étonnante Pyramide et la Grande Arche, se distinguent surtout par une uniforme médiocrité. Et puis quoi ? Dans l'ordre politique, nous dit-on, Mitterrand a installé l'alternance. La belle prouesse ! Il a surtout gagné les élections, et fait son nid dans les institutions. Il aurait, de surcroît, «tué» le Parti communiste. Mais le communisme est mort partout et, chez nous, à quel prix ! Le dogme de «l'union de la gauche» a enfermé le socialisme démocratique dans une gangue de surenchère et de déni de la réalité dont il ne s'est toujours pas libéré.
La conséquence en fut, à l'heure où Reagan, Thatcher et Kohl faisaient entrer leur pays dans l'avenir, une incroyable collection de sottises économiques, dont la facture est loin d'être acquittée. La retraite à 60 ans ? Vingt ans plus tard, c'est, selon Bercy, deux cents milliards de dettes. Les recrutements massifs de fonctionnaires imputables à la gauche ? Au bas mot, cent milliards de mieux. Pour parachever l'édifice, Lionel Jospin, disciple fidèle, inventait les 35 heures : encore cent milliards. A Mitterrand, les générations futures ne diront pas merci.(...)
Sans aucun doute, ce président qui aimait les arbres, les livres, les femmes – et, plus que tout, la politique – fut un être fascinant. Mais où sont, dans son parcours, les hautes vertus, les puissantes réalisations, qui restent dans l'Histoire ? Il ne suffit pas, pour être un grand homme, d'être un bon personnage de roman.
Entretanto, recebi a revista do Círculo de Leitores, onde a páginas tantas me deparei com este "fantástico" livro Clube Bildeberg - Os senhores do mundo de um tal Daniel Estulin. Este, por sua vez, parece estar muito na crista da onda em Portugal, pois o Semanário traz uma entrevista com o autor. Mas ainda há melhor como pode comprovar-se com esta entrevista. Imaginem que até o Michael Moore faz parte da conspiração do Clube de Bildeberg para escravizar todo o mundo (pelos vistos os islamitas fanáticos têm um concorrente a nível mundial). Quando li esta entrevista pensei que estava a ler uma espécie de "Inimigo Público", mas não encontrei nada que assim o indicasse. Leiam a entrevista e ficarão informados sobre a seriedade destas teorias da conspiração.
Parece que há pessoas que não podem imaginar o mundo sem poderes ocultos, sejam eles o Sábios de Sião, o Código Da Vinci ou o Clube de Bildeberg. Enfim, se são felizes assim...
Há quem não goste deste género de títulos, mas com notícias como esta, o que poderemos dizer? Será que a culpa é de Israel? Da ocupação israelita (só desde 1967, até lá a Faixa de Gaza foi ocupada pelo Egipto)?
Nenhuma dessas explicações me satisfaz. Houve países que tiveram ocupações muitíssimo violentas, com massacres que mataram quase 1/5 da população (ex. Timor-Leste), em que a transição democrática se está a fazer de modo muito mais calmo. Bem sei que há muitas diferenças, mas se virmos a atitude dos dirigentes timorenses relativamente aos ocupantes e as dos palestinianos em relação os israelitas as diferenças são abissais.
Por outro lado, há também uma grande diferença. Timor-Leste lutou pela sua independência. Conseguida esta, está vencida a guerra. No caso da Palestina, por um lado, Israel ainda ocupa parte da Cisjordânia, mas, por outro, o objectivo, confessado ou inconfessado, da maioria dos movimentos palestinianos é exterminar Israel, pelo que essa coisa de dois estados diferentes e independentes naquela terra é a última coisa que querem. Por isso, sabotam qualquer melhoria que possa ser tentada para a convivência pacífica dos dois povos (para quem quiser informar-se, sempre pode consultar o Palestinian Media Watch que transcreve o que é emitido e publicado na Palestina em árabe).
Enquanto a mentalidade dos dirigentes palestinianos mantiverem este sonho da erradicação de Israel, dificilmente estarão criadas condições para haver democracia na Palestina.