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Super Flumina

Liberae sunt enim nostrae cogitationes - Cícero (Mil. 29 - 79) . Um blog de Rui Oliveira superflumina@sapo.pt

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Liberae sunt enim nostrae cogitationes - Cícero (Mil. 29 - 79) . Um blog de Rui Oliveira superflumina@sapo.pt

Soares? Não, obrigado!

Neste momento Mário Soares está a discursar na sua cerimónia de anúncio de candidatura a Presidente da República. Até agora, nada de especial no seu discurso, para além de banalidades e expressões que nada querem dizer (tipo "multiculturalismo lato" - o que quer isto dizer? absolutamente nada).

Não votei em Soares nem em 1986, nem em 1992, pelo que também não votarei Soares em 2006. Está na hora de dar uma lição de democracia e um banho de humildade a este rei sem coroa, vaidoso até dizer não. Por mim, ele não terá um terceiro mandato.

Much ado about nothing

Absolvidos todos os arguidos no caso de peculato que envolveu ex-deputado
O colectivo de juízes do Tribunal de Águeda absolveu hoje os sete arguidos no caso de peculato que envolveu o presidente da Câmara de Águeda, Castro Azevedo, e o ex-deputado do PSD Cruz Silva. O colectivo de juízes considerou haver dúvidas em relação a três dos arguidos e considerou como não provadas as acusações em relação aos restantes quatro arguidos.

Fonte

Eça de Queirós

Já que nos algumas das últimas entradas trataram de efemérides, não queria deixar de passar esta: a passagem do 105º aniversário da morte de Eça de Queirós, ocorrida a 16 de Agosto de 1900 em Paris.

De tudo quanto li de Eça, gosto, sabe-se lá porquê, particularmente do Primo Basílio - se calhar, o facto de o meu livro preferido dele não ser Os Maias deve-se ao pequeníssimo mas importante pormenor de durante alguns anos o ter ensinando quase às fatias (pois o programa assim o exige) aos alunos do secundário (depois viu-se, no ano passado, numa passagem que a leitura global teria resolvido a dificuldade do exame de Português A, a propósito do gato, muito disparate se leu, pois os alunos decoram os episódios e pouco mais) - apesar de ser um Eça ainda mais novo.

Neste Primo Basílio, Eça criou a famosíssima personagem do Conselheiro Acácio, símbolo de toda a mediocridade que grassava no sistema político da época e que mesmo assim chegava a lugares de grande improtância (não, não sejam mauzinhos, não estou a pensar no Armando Vara, esse não chega ainda ao Conselheiro Acácio).

Nestas páginas d'O Primo Basílio, o Conselheiro Acácio, recebendo os seus amigos em casa, mostrou-lhes o seu escritório, o seu sanctum sanctorum, decidiu lê-lhes um dos seus textos do seu novo livro - «Descrição das Principais Cidades do Reino e Seus estabelecimentos » - abrindo-o na sua página de Coimbra.
[O Conselheiro] Escolheu então, «como mais própria para dar a ideia da importância do trabalho», a página relativa a Coimbra. Assoou-se, colocou-se no meio da saleta, de pé, com as folhas na mão e, com uma voz cheia, gestos pausados, leu:
- «Reclinada molemente na sua verdejante colina, como odalisca em seus aposentos, está a sábia Coimbra, a Lusa Atenas. Beija-lhe os pés, segredando-lhe de amor, o saudoso Mondego. E em seus bosques, no bem conhecido salgueiral, o rouxinol e outras aves canoras soltam seus melancólicos trilos. Quando vos aproximais pela estrada de Lisboa, onde outrora uma bem organizada mala-posta fazia o serviço que o progresso hoje encarregou à fumegante locomotiva,vêde-la branquejando, coroada do edifício imponente da Universidade, asilo de sabedoria. Lá campeia a torre com o sino, que em sua folgazã linguagem a mocidade estudiosa chama a cabra. Para além logo uma copada de árvore vos atrai as vistas: é a celebrada árvore dos Dórias, que dilata seus seculares ramos no jardim de um dos membros desta respeitável família. E avistais logo, sentados nos parapeitos da antiga ponte, em seus inocentes recreios, os briosos moços, esperança da pátria, ou requebrando galanteios com as ternas camponesas que passam reflorindo de mocidade e frescura, ou revolvendo em suas mentes os problemas mais árduos de seus bem elaborados compêndios...»
O Primo Basílio, Ed. Livros do Brasil, pp. 328-329)
Este texto do Conselheiro Acácio é uma sucessão de lugares comuns, o arquétipo de um Romantismo degenerescente. Vejam só a profusão e a qualidade dos adjectivos. Por toda a obra, o Conselheiro recorre a lugares comuns que ele repete, nas suas conversas, como opiniões pessoais, recorrendo ainda a um vocabulário mais erudito do que o da maioria das personagens. O seu idolecto pessoal caracteriza um tipo de político (que, com algumas variantes, chega até aos dias de hoje, como, é bom dizer, também já existia antes de Eça o ter passado ao papel).

Eça não se resume aos Maias que os nossos alunos (não) lêem no Ensino Secundário (ou se lêem, fazem-no às postas, na maioria dos casos). O Primo Basílio, se bem que um pouco mais rígido no seguimento do credo naturalista, é um livro que ainda vale bem a pena ler.

Há 620 anos,...

...a razão porque não somos espanhóis (no sentido moderno da palavra) .


(...) Quando el-Rei de Castela fugiu, começou-se a demonstrar claramente que os portugueses de todo venciam a batalha, estando já a bandeira dos inimigos derrubada e mortos numerosos castelhanos e todos os maus portugueses que tinham vindo na vanguarda dos castelhanos.
(...)
Entretanto , vendo os castelhanos que o seu Senhor [el-Rei de Castela] havia fugido e que a batalha em toda a parte estava vencida pelos portugueses, perdida toda a esperança e sem vontade de mais combaterem, começaram todos a recuar e a desamparar o campo, de modo que em breve cedeu o ardor de tamanha multidão de gente [dos castelhanos], pois a batalha não durou mais que escassa meia hora até mostrar-se de todo perdida [para Castela].
(...)
E travou-se esta batalha, numa segunda-feira, aos catorze dias de Agosto da era de César de mil quatrocentos e vinte e três anos.

Fernão Lopes, Crónica de D. João I, Cap. XLIV (ed. Frederico Alves)

Ainda os incêndios...

Se há alguma coisa que incendeia os blogues, essa coisa são as discussões sobre incêndios florestais, sobretudo nos caso dos textos de João Miranda no Blasfémias (é só ver estes últimos 15 dias, por exemplo).

Ainda ontem, João Miranda inclui uma entrevista com Gonçalo Ribeiro Telles, saída na Visão de 14/08/2003 (por aqui se vê que ano após ano se está sempre a falar do mesmo).

Aliás o mesmo Gonçalo Ribeiro Telles tem também uma entrevista na semana passada (J.A. Souza, Jornal de Notícias, p. 4, 04/08/2005) em que volta a criticar a "política florestal" em Portugal nas últimas décadas. Leitura recomendada.
Gonçalo Ribeiro Telles [arquitecto paisagista]

"Continua o embuste na nossa política florestal"

A primeira edição foi há 45 anos. "A Árvore em Portugal", de Ribeiro Telles e Francisco Caldeira, traçava já então um cenário pouco optimista da política florestal portuguesa. Uma segunda edição ampliada, nos anos 70, voltava à carga. A terceira mantém o texto e as críticas.

JN: Há quarenta anos, as razões do livro "A Árvore em Portugal" já eram de alarme. E acha que continuam tudo na mesma...

GRT: Continua, totalmente. Inventou-se que Portugal tinha uma floresta do tipo do Norte da Europa, monoespecífica, e todo esse embuste tem sido trágico. Quando há incêndios, as pessoas julgam que está a arder uma floresta, mas não está: o que está a arder são povoamentos de resinosas (os pinheiros) ou de eucaliptos. Entre estes povoamenbtos (sic) e uma floresta, a única coisa comum é que ambos tê árvores.

JN: E na sua opinião, dar a volta a este estado de coisas passa por recuperar a vegetação que havia antes da florestação de "lucro fácil".

GRT: Nós temos, ou tínhamos, uma mata natural que também tem, ou tinha, valor económico: basta ver os montados de sobro (a cortiça..) ou os soutos (castanheiros)... E essa mata natural é que tem características de floresta, e arde menos e recupera muito mais depressa. Mas além dos incêndios, uma das consequências mais trágicas de toda esta política florestal foi o despovoamento das aldeias e o consequente abandono da agricultura tradicional do interior e do Norte do país.

JN: Os donos das terras quiseram, afinal, um lucro rápido...

GRT: Os donos das terras já não sabem onde são as suas terras, porque já são netos e bisnetos dos primitivos donos, e entretanto como tudo tudo (sic) foi transformado em grandes extensões de pinhal ou eucaliptal, os marcos foram completamente alterados e na maior parte dos casos não sabem onde começa ou acaba o que lhes pertence.

JN: E em sua opinião, o lucro dessas plantações acaba por ser fictício?

GRT: Estamos agora a pagar esse lucro. Mas também foi fictício, porque poderia haver culturas monoespecíficas de árvores, mas nunca nas enormes e contínuas extensões que aconteceram. Isto foi um erro enorme da Universidade, principalmente do Instituto de Agronomia.

JN: E no caso do eucalipto, há ainda a ideia de que mata a terra.

GRT: Não é matar a terra, é despovoar o território, o que é muito grave. Não será impossível recuperar desta situação, mas é muito difícil. Tudo isto começou nos anos 30, quando saiu "Quando os Lobos Uivam", do Aquilino Ribeiro. Houve, nessa altura, o primeiro ataque aos baldios, no norte do país. Esse ataque provocou o desequilíbrio nas economias das aldeias, que era baseado na pecuária e contribuiu também para a migração das populações.

JN: E para mudar este estado de coisas que lhe parece catastrófico, propõe o quê?

GRT: Para começar, não repetir os erros que já se cometeram. E depois fazer um odrdenamento de características mediterrânicas, onde a agricultura e a pecuária têm papéis a desempenhar.

Batalha de Canas

Segundo os registos, no decurso da 2.ª Guerra Púnica, a 2 de Agosto de 216 a.C., travou-se a batalha de Canas, em que Aníbal Barca, general cartaginês, venceu um exército romano comandado por Paulo Emílio e Terêncio Varrão, naquela que foi, muito provavelmente, a maior batalha do mundo antigo. As perdas romandas foram elevadas, mais de 40000 romanos e aliados mortos ou feitos prisioneiros, tendo morrido 80 senadores e 2 cônsules caíram nesta batalha.

Mas apesar da magnitude da derrota, Roma não caiu. Aníbal achou que o seu exército não seria capaz de tomar Roma. Assim. abrigou-se Cápua, na Campânia, disfrutando de todos os prazeres que os saques lhe podiam proporcionar. Tendo estado em Itália em 202 a.C. foi perdendo progressivamente terreno, pois foi-lhe impossível receber um exército de socorro ou reabastecimentos através do mar, sendo que também não conseguiu um levantamento das cidades italianas contra Roma, até que em 202 a.C. foi obrigado a socorrer Cartago. de facto, a cidade foi atacada pelos romanos sob o comando de Cipião, o Africano. Na batalha de Zama, Aníbal é derrotado por Cipião e Cartago tem que aceitar as condições de paz impostas por Roma.

O resto da história já o sabemos. Roma acabou por destruir Cartago no decorrer da 3.ª Guerra Púnica, de 149 a 146 a.C.

Mas há uma expressão que ficou desta história, as célebres "delícias de Cápua". Como se disse, Aníbal ocupou Cápua, entre 215 e 211 a.C., onde, segundo a história, os seus soldados, em contacto com os requintes e prazeres, amoleceramm, tendo Aníbal perdido a iniciativa. Assim a expressão "delícias de Cápua" ficaram como uma frase feita para ilustrar o facto de alguém se entregar aos prazeres e à preguiça, esquecendo os seus objectivos iniciais e por isso não os alcançando

O nosso grande Sá de Miranda na sua "Carta a João Roiz de Sá de Menezes" (Obras Completas, ed. de Rodrigues Lapa, Sá da Costa, 1976-77), também teme que Portugal se afunde no luxo e no prazer:

Destes mimos Indianos
hei gram medo a Portugal,
que nos recreçam tais danos
como os de Cápua a Aníbal,
vencedor de tantos anos.
A tempestada espantosa
de Trébia, de Trasimeno,
de Canas, Cápua viciosa
venceu em tempo pequeno.

Todas as espantosas vitórias de Aníbal anuladas pelo hedonismo em Cápua. Tal perigo via também Sá de Miranda nos luxos que existiam já em Lisboa desde a descoberta do caminho marítimo para a Índia.

Aliás Sá de Miranda (tal como Gil Vicente - cf. Auto da Índia) não era um entusiasta da opção pelo Índico tomada pelo rei D. Manuel I. Na sua "Carta a António Pereira, senhor do Basto, quando se partiu para a Corte co a casa toda", refere:

Não me temo de Castela,
donde inda guerra não soa;
mas temo-me de Lisboa,
que, ao cheiro desta canela,
o Reino nos despovoa.

Sá de Miranda conseirava o Oriente como causa de decadência (futura) de Portugal.

Voltando a Aníbal, este não aproveitamento (ou melhor, "esbanjamento") das suas vitórias, tornou-se paradigmático e aproveitado para ilustrar inúmeras histórias exemplares.

A expulsão dos Judeus da Península Ibérica

A 1 de Agosto de 1492 terminava o prazo dado pelos Reis Católicos, Fernando e Isabel, para que os judeus saíssem de Espanha. A expulsão não teve, ao contrário do que muita gente pensa, uma motivação principalmente religiosa (embora ela também existisse), mas sobretudo financeira. Os judeus constituiam grande parte da burguesia emergente que, pelo seu poder financeiro, provocavam a inveja de nobres e clero.

Aliás, essa motivações financeiras nas expulsões dos judeus, bem como a chantagem que os reis da Europa Ocidental faziam sobre a sua população judia, mantendo-os sempre sob ameaça para lhe poder extorquir dinheiro, sempre existiram durante toda a Idade Média. Por isso houve expulsões sucessivas em vários países europeus. Por exemplo, não nos podemos esquecer de que antes da expulsão decretada pelo Reis Católicos, já Filipe Augusto (1182), Filipe, o Belo (1306) e Carlos VI (1394) decretaram a expulsão dos judeus em França. Na Inglaterra, também João Sem-Terra (1210) e Eduardo I (1290) decretaram a expulsão dos judeus (sendo que com esta última a comunidade judaica inglesa praticamente se extinguiu).

Uma boa parte desses judeus veio para Portugal, no reinado de D. João II, mas também aqui não tiveram a vida fácil pois, passados poucos anos, a 5 de Dezembro de 1496, no início do reinado de D. Manuel I, foi ordenada também a sua expulsão do reino.

Obviamente que estas expulsões foram extremamente prejudiciais para os reinos ibéricos, pois grande parte da "massa cinzenta" e de sectores dinâmicos da sociedade estavam exactamente localizados nos judeus...

Mas a História não se pode reescrever (embora haja sempre quem tente).

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