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Super Flumina

Liberae sunt enim nostrae cogitationes - Cícero (Mil. 29 - 79) . Um blog de Rui Oliveira superflumina@sapo.pt

Super Flumina

Liberae sunt enim nostrae cogitationes - Cícero (Mil. 29 - 79) . Um blog de Rui Oliveira superflumina@sapo.pt

Inimputável

Ouço na RTP, Francisco Louçã, durante um comício na Madeira, aliás escassamente participado, que "não temos ministros que nos governam, mas ministros que se governam" (cito de memória, mas o sentido é este).

Se não fosse triste, era no mínimo grave. O que Louçã diz é que todos, mas mesmo todos, os ministros estão lá para se governar à conta do Estado, sendo por isso desonestos. Ou seja, são todos uma espécie de Verres, administrador romano corrupto a quem Cícero dedicou as verrinas.

Louçã, armado em Cícero moderno (mas sem o talento do original), vem acusar o governo de se governar. Claro, sem apresentar a mínima prova, coisa em que ele é useiro e vezeiro.

Para o BE e o seu insuportável líder, todos os outros não têm qualquer moralidade. Apenas eles são impolutos e acima de qualquer suspeita.

Provavelmente, num país a sério, Louçã teria que provar que todos os ministros deste governo se governavam enquanto exerciam o poder. Assim, num país destes, só posso concluir que Louçã (e também o resto do Bloco) é inimputável.

Afeganistão

Independentemente das vicissitudes do processo eleitoral, as eleições no Afeganistão correram até muito bem.

Os talibãs não conseguiram transformar o dia das eleições num "banho de sangue" e as votações, para além de pequenos problemas (para quem nunca votou), decorreram numa certa normalidade. As alegações de fraude serão investigadas, o que também é bom que aconteça.

É óbvio que o Afeganistão não se transformou num paraíso desde a queda do regime talibã, mas deu passos significativos na direcção correcta. Vamos lá ver como as coisas continuam.

Ideias brilhantes

Quando discursou na ONU, esse impagável Zapatero propôs uma aliança entre civilizações. Claro que é uma ideia peregrina, mas do Zapatero o que é que se pode esperar?

Hoje, li no Telegraph que uma conferência realizada em Córdoba para uma melhor compreensão mútua entre muçulmanos e cristãos deu barraca. Eis um excerto da notícia:

The conference organisiers, led by the financer of the event, the Kuwaiti tycoon Abdul Aziz al-Babtain, set out to confront stereotypes of Islamic extremism.

But even the supposedly benign field of Islamic poetry and the history of Andalusia - known to the Moors and to modern Arabs as al-Andalus - touched raw nerves.

An academic speaking in English was heckled by jeering Arabs even though there were extensive translation facilities. In the end, he spoke in Arabic.

But the peace was shortlived. There was more shouting when European historians touched on Islamic sensibilities by discussing the more liberal era when Muslim women did not wear the veil. An African Muslim was also heckled for complaining of Arab dominance of his faith.

The only Jew to speak was heard in polite silence, but it was assumed that was because he was preaching the destruction of Israel, which he described as an apostatic state: a point of view which presumably went down rather well with the audience. It was uncertain, though, how this squared with the seminar's title of "Arab-Islamic civilisations and the West: from Disagreement to Partnership".

The organisers described the event as a success but the angry tone of the debate will have disappointed Spain's new government.

A compreensão mútua é necessária, mas é também preciso que os árabes não queiram sempre impor as suas visões. Se eles nos podem criticar, nós (os ocidentais que mandamos às malvas e para o caixote do lixo teorias de Orientalismo do Said) também os podemos criticar. Enquanto não estiverem prontos a aceitar este ponto, o diálogo será sempre de surdos (pelo menos, de uma das partes).

Derrida morreu

O filósofo francês Jacques Derrida morreu hoje.

Não sendo um dos meus filósofos preferidos (nem de longe nem de perto), era alguém que marcou mesmo a segunda metada do séc. XX.

Howard reeleito

John Howard foi reeleito como primeiro-ministro da Austrália. Os australianos não foram nas cantigas do Partido Trabalhista e das suas promessas de retirar as tropas do Iraque e Howard venceu.

O próximo é Bush...

D. Dinis I

O sexto Rei de Portugal, D. Dinis I, nasceu a 9 de Outubro de 1261 (1299 da era de César, então utilizada em Portugal até ao reinado de D. João I, que por carta régia de 22 de Agosto de 1422 instituiu a era de Cristo), isto é, há 743 anos.

Foi um dos melhores reis de Portugal de todos os tempos e, também, um dos seus melhores poetas de sempre, sendo, talvez, o melhor dos poetas galego-portugueses (e também o mais prolífico, 137 composições poéticas, se exceptuarmos as cerca de 400 cantigas marianas do seu avô Afonso X, o Sábio, de Castela).

Como homenagem, deixo aqui um dos seus poemas, neste caso, uma Cantiga de Amigo (muitíssimo conhecida): 

Ai flores, ai flores do verde pino,
se sabedes novas do meu amigo!
         Ai Deus, e u é?

Ai flores, ai flores do verde ramo,
se sabedes novas do meu amado!
         Ai Deus, e u é? 

Se sabedes novas do meu amigo,
aquel que mentiu do que pôs comigo!
         Ai Deus, e u é?

Se sabedes novas do meu amado,
aquel que mentiu do que mi á jurado!
         Ai Deus, e u é? 

- Vós me perguntades polo voss' amigo,
e eu ben vos digo que é san' e vivo. 
         Ai Deus, e u é?

- Vós me perguntades polo voss' amado,
e eu ben vos digo que é viv' e sano.
         Ai Deus, e u é? 

E eu ben vos digo que é san' e vivo,
e seerá vosc' ant' o prazo saído.
         Ai Deus, e u é?

E eu ben vos digo que é viv' e sano,
e seerá vosc' ant' o prazo passado.
         Ai Deus, e u é?

D. Dinis (CV 171/CBN 568)

Boas notícias

As histórias da justiça americana são mais que muitas e há já muito tempo que as sentenças dos seus juízes são motivo de observações irónicas deste lado do Atlântico. E, temos de convir, que muitas vezes essas sentenças são mais do que estranhas aos olhos dos europeus.

Por outro lado, os juízes americanos também são frequentemente atacados pela febre de defender causas politicamente correctas, tendo como consequências sentenças que até espantam na própria América. Mas, de vez em quando, vêm notícias que nos mostram que o bom senso também existe nos tribunais americanos.

É o caso desta notícia em que um juiz federal norte-americano condenou uma escola pública de Detroit por impedir uma estudante de exprimir os seus pontos de vista (que, obviamente, não eram politicamente correctos).

A história conta-se em poucas palavras.Durante a "diversity week" (mais uma daquelas palhaçadas) anual da sua escola, a estudante Betsy Hansen foi impedida de exprimir o seu ponto de vista contrário à homossexualidade. Porquê, segundo responsáveis da escola:

(...) Hansen's religious objection toward homosexuality was a "negative" message and would "water-down" the "positive" religious message that they wanted to convey-that homosexuality was consistent with Christianity and that homosexual behavior is not immoral or sinful.

É de rir esta argumentação. Os que eles queriam dizer, apenas, era que só aceitavam a versão oficial e que a estudante devia estar calada para não provocar perturbação nas almas. Se há quem pense que a homossexualidade é compatível com o Cristianismo, há outros que pensam o contrário. Porque é que deveríamos aceitar apenas uma das opiniões. Ainda para mais no quadro de uma "semana da diversidade" (já estou mesmo a ver, "diversidade", mas apenas se concordarem com eles). Isto mesmo disse o juiz Gerald E. Rosen:

"This case presents the ironic, and unfortunate, paradox of a public high school celebrating 'diversity' by refusing to permit the presentation to students of an 'unwelcomed' viewpoint on the topic of homosexuality and religion, while actively promoting the competing view".

Tenho a impressão que os responsáveis desta escola, se fossem portugueses, votariam no Bloco...

O politicamente correcto quer calar todos as opiniões contraditórias, para obrigar todos a pensar num quadro de pensamento único (dito "progressista", "moderno", whatever), chamando nomes aos que não pensam como eles (tipo "homófobos", "racistas", "neo-conservadores", "fascistas", etc...) de modo a impedir um verdadeiro debate de ideias e, já agora, a verdadeira diversidade (que obviamente tem que incluir outros pensamentos, como o conservador ou o liberal).

Esta notícia é mais uma daquelas que têm vindo a acontecer nos últimos tempos nos Estados Unidos, em que estudantes conservadores que se sentiram de alguma forma impedidos de exercer o seu "free speech", contra-atacaram com a mesma táctica que os liberais (no sentido americano) tinham feito no passado, isto é, utilizando a lei através de organizações de defesa dos seus direitos, para obrigarem as suas escolas a respeitarem os estudantes com opiniões diferentes daquelas que imperam no meio escolar e, nomeadamente, universitário nos EUA.

A "crise" e consequências

Quando houve a crise provocada pela saída de Durão Barroso, quando comentei esse facto fi-lo também na qualidade militante de base do PSD. É também nessa qualidade, para que os meus leitores não fiquem com quaisquer dúvidas (até porque eu não acredito em "objectividade" ou "imparcialidade" absolutas), que vou comentar a actual "crise marcelista".

Em primeiro lugar, vou dizer o óbvio, penso eu, isto é, Gomes da Silva falou demais e já não deveria estar no governo por esta hora. Se é verdade o que disse a Inês Serra Lopes de que ele foi recebido como herói na reunião do Conselho de Ministro desta semana, o caso parece grave. Não está em causa o ministro exprimir alguma repulsa pelos comentários de Marcelo (nem sequer me posso pronunciar sobre eles, porque já não o via há alguns meses), mas sim a estapafúrida invocação da Alta Autoridade. De qualquer modo, Gomes da Silva poderia ter exprimido a sua indignação em termos muito diferentes.

Por outro lado, não é preciso ser muito esperto para pensar que Marcelo aproveitou a questão para sair, ainda por cima vitimizado, sob aplauso de toda a esquerda e de algum PSD (quem será este PSD? os barões, aqueles que os jornalistas conhecem? A mim ninguém me perguntou nada).

De qualquer modo, o governo não sai bem na fotografia, tal como o professor Marcelo. Houve exageros e a criação de uma crise artificial que não tem razão de existir. O país tem coisas mais importantes em que pensar. E, obviamente, a liberdade de expressão não está em causa. É perfeitamente louco pensar isso. Esta crise tomou proporções que obviamente não justifica. É claro que a oposição tenta tirar dividendos disto, levando aos ombros alguém que ela destesta solenemente. Mas cabe ao governo não dar tiros no pé.

E tiros no pé já este governo deu alguns, não precisava mais deste. Como militante, gostava que o governo mostrasse mais consistência e não se preocupasse tanto com o que dizem dele. Santana Lopes terá que pôr o governo sobre os carris, não se envolver em polemicazinhas e começar a governar a sério. Nestes dois meses de governos houve muito ruído, mas pouca acção. Até ao final do ano, para além do Orçamento para 2005, tem que mostar mais serviço. A ver vamos...

Não queria, no entanto, deixar de dizer que a crise tomou esta proporção porque há gente dentro do PSD que, aproveitando a ocasião, lançou achas para a fogueira. E porquê? É fácil ver que Santana desperta muitas invejas e há gente que pensa ser muita mais qualificada do que ele e que, por isso pensa que é uma injustiça ser Santana o primeiro-ministro e não um deles. Eu estou longe de ser um santanista, aliás, eu tento pensar apenas pela minha cabeça, pelo que não pertenço a qualquer tendência, nem sequer ao nível da Secção onde estou inscrito. Visto que não concordava com a hipótese de eleições antecipadas e Santana foi o indigitado, não tive dúvidas em concordar com a solução do Presidente. Mas, isso não quer dizer que não se critique o governo quando penso ser de criticar. Também não quer dizer que o Congresso deva ser de unanimismo em apoio de Santana. O último Congresso foi pouco mais do que lamentável, pois a discussão foi de baixíssimo interesse. Não sei se está a aberta a corrida para a presidência do PSD, sei que tudo deve ser feito para que o próximo Congresso seja aberto à discussão de ideias e que as lógicas aparelhísticas (que são impossíveis de vencer, como ainda recentemente se viu no PS) não abafem o debate, pois mesmo dentro dos partidos ele é necessário. Para isso estou sempre pronto, senão mais vale não votar sequer nas eleições de delegados, quanto mais ir lá pôr os pés.

Liberdades

Ouvir a Ana Drago na SIC-N, numa intervenção no parlamento, falar como defensora da "liberdade de expressão" e falar em "democratas" (incluindo-se ela entre eles) é um verdadeiro paradoxo.

O Bloco é um partido que se tomasse o poder em Portugal rapidamente tentaria acabar com a liberdade de expressão e a democracia. É claro que eles podem falar do que quiserem, mas para mim soa-me sempre a hipocrisia.

Marcelo

Marcelo Rebelo de Sousa decidiu abandonar os seus comentários dominicais na TVI.

Pela minha parte, não o lamento, já tinha deixado de o ver há bastante tempo, ainda antes de Santana ser primeiro-ministro. Mas toda esta unanimidade à volta da sua saída da TVI como resultado de pressões do governo, deixam-me de pé atrás.

Para além de eu considerar que Gomes da Silva não tinha nada que dizer o que disse, foi puro disparate, considero também, aliás como Meneses e Duarte Lima, que Marcelo começou a sua corrida para as presidenciais.

E que melhor maneira para começar essa corrida com um facto político em que, ainda por cima, consegue ser vitimizado?

Post Scriptum. Ouvi dizer que Sampaio se vai encontrar com Marcelo. Novamente, puro non-sense. Mas o facto político aumenta de volume (e Sampaio ajuda) tal como a bola de neve. Enfim...

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