Arrivederci
Del Neri não teve tempo para aquecer o lugar. Ainda bem! Como portista, a minha confiança nele era pouco menos que zero.Só espero que a SAD portista acerte agora num treinador de jeito.
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Sigo com interesse a polémica entre Francisco José Viegas e Pedro Ornelas sobre ortografia e outras questões (por exemplo, o ensino de literatura no básico e secundário). Os argumentos aduzidos por ambos são bastante interessantes e deveriam fazer reflectir muita gente com responsabilidade que, todavia, continua a assobiar para o ar como tudo estivesse no melhor dos mundos.
A discussão sobre a ortografia fez-me logo lembrar o "Prólogo" de Teixeira de Vasconcelos no seu livro "O prato de arroz doce".
António Augusto Teixeira de Vasconcelos (Porto, 1816 - Paris, 1878) é um escritor do séc. XIX, participou na revolta da Junta do Porto em Outubro de 1846, redactor da Convenção de Gramido de 29 de Junho de 1947 que pôs fim à revolta de Maria da Fonte e escreve um livro sobre esse acontecimento. No prólogo desse livro (Prólogo datado de 20 de Setembro de 1862), escreve o seguinte sobre a ortografia (ortografia do trecho actualizada pelo editor):
Da ortografia peça o leitor contas a quem melhor lhe parecer. Eu não lhe posso dar o que não possuo, nem há. Nós somos o único povo da Europa que admite anarquia nesta parte da gramática. Se aos portugueses apraz permanecer em tão descuidoso atraso, com que direito me hei-de insurgir contra a vontade geral? Assim a querem, assim a tenham.
Em havendo lei, prometo cumpri-la segundo nela se contiver. Enquanto a não há, estou reduzido a escrever ora de um modo, ora de outro, conforme mo pede a vontade ou o capricho, e a deixar ao revisor da imprensa faculdade absoluta de adoptar a ortografia que quiser, sem exceptuar a do autor de Santarenaida. Quero entenebrecer mais o caos, a ver se ao cabo nascerá dele ordem e luz.
(Teixeira de Vasconcelos, O prato de arroz doce, Porto: Lello & Irmão, 1981, p. 13-14.)
A queixa de Teixeira de Vasconcelos é pertinente, pois a anarquia e o caos na escrita nunca fizeram bem a nenhuma língua.
É importante escrevermos correctamente. Na escola, deveria ser induzida nos alunos a preocupação de escrever ortograficamente correcto (que não é o mesmo que escrever bem). Todos damos erros ortográficos, mas devemos ter a preocupação em não os darmos. Não é uma obsessão pela norma ou pela procura do erro, é antes a procura de um rigor que nos levará também a ser rigorosos em outras coisas que fazemos (afinal temos direito a que no rodapé da TVI não apareça coisas como "prédios em perigo eminente" de queda).
Outra questão levantada, a da literatura nas aulas de Português do ensino básico e secundário, é também bastante interessante. No Ensino Secundário, que é o que conheço melhor (antes da reforma), havia literatura a mais, mas também um modo errado de dar o programa. O FJV refere Os Maias. O que é que os alunos retêm de Os Maias? Os chamados "episódios". E mais nada. Mas mesmo os "episódios" são mal assimilados porque os alunos nada conhecem da sociedade do séc. XIX que Eça critica e, por isso, limitam-se (na maioria dos casos) a repetirem o que os professores disseram. Se os professores não tiverem falado de algum aspecto, então se sai no exame (a questão do "reverendo Bonifácio" por exemplo em Português A na 1.ª fase) temos disparate livre, provando à saciedade que não leram o romance integralmente (para além do aspecto de compreensão do texto por parte dos alunos também ficar seriamente afectado, pois duas linhas abaixo estava mencionado "gato" com todas as letras). Mas, a literatura é indispensável, qualquer que seja a posterior formação do aluno, para a aquisição de um bom domínio da língua.
Isso leva-me aos novos programas de Português do Secundário. Ainda só fiz uma leitura transversal do programa. Se abandona a linguística de frase e parece abraçar uma espécie de linguística de texto, parece-me também que há por ali uma certa superficialidade. Farta-se de falar em "tipos de textos", mas não o definem. Não vi os manuais, mas tenho a impressão que haverá ali uma confusão de conceitos.
Na bibliografia do prgrama especificamente relacionada com "tipos de textos" mencionam apenas um trabalho de Jean-Michel Adam de 1985. O autor, desde então, já escreveu vários livros (não apenas artigos) em que a sua posição evolui consideravelmente. Por outro lado, falta a bibliografia de autores de língua alemã (que, apesar de tudo, tem muitos artigos e livros escritos em inglês e, por isso, mais acessíveis) de linguística de texto, autores imprescindíveis para fundamentar um programa deste género.
Mas, relativamente aos programas, preciso de os ler melhor, para tirar alguma conclusão. Gostaria também de saber como é que foi este ano o 10.º ano para alunos e professores. Temo que muitos destes últimos não estejam preparados para tão grande mudança. Também me vou tentar informar sobre isto.
Há outros aspectos, como por exemplo, o Dicionário da Academia em que eu não daria tantos louvores como Pedro Ornelas o faz. Não é tanto pela escolha de alguma das palavras (lembram-se do "bué"?), mas mais por questões que têm que ver com as definições propostas e por análise comparativa que fiz com outros dicionários nacionais e estrangeiros. Também fica para outra oportunidade que o artigo já vai longo.
Há 426 anos, a 4 de Agosto de 1578, ocorreu a batalha de Alcácer-Quibir. Por isso, nada mais apropriado do que este poema de Pessoa:
D. Sebastião
Rei de Portugal
Louco, sim, louco, porque quis grandeza
Qual a Sorte a não dá.
Não coube em mim minha certeza;
Por isso onde o areal está
Ficou meu ser que houve, não o que há.
Minha loucura, outros que me a tomem
Com o que nela ia.
Sem a loucura que é o homem
Mais do que a besta sadia,
Cadáver adiado que procria?
(Fernando Pessoa, Mensagem, Lisboa: Edições Ática, 19.ª edição, 1997, p. 44)
Quando se trata de Gibraltar, os espanhóis são muito sensíveis. Deve ser algo que lhes atinge gravemente o orgulho. Por isso, não admira que a visita do ministro britânico da defesa Hoon levante algum mal-estar no governo espanhol.
O ministro da defesa britânico está em Gibraltar para comemorar os 300 anos da conquista, de surpresa, do Rochedo por uma força anglo-holandesa comandada por Georg von Hesse-Darmstadt, em 1704, durante a Guerra da Sucessão espanhola, em nome do arquiduque Carlos de Habsburgo, um dos candidatos ao tromo espanhol.
Como o Tratado de Utreque de 1713 reconheceu como rei de Espanha o outro candidato, Filipe de Anjou (um Bourbon, neto de Luís XIV), que tomou o nome de Filipe V, a Grã-Bretanha ficou com Gibraltar para si. Em 1727 e em 1779/1782, os espanhóis tentaram a reconquista pela força, mas falharam.
O que me espantem é que os espanhóis fiquem tão incomodados com este assunto de Gibraltar, mas quando reclamam a sua devolução, esquecem-se de assuntos como, por exemplo, Ceuta (conquistada em 22 de Agosto de 1415 pelos portugueses, mas sob soberania espanhola oficial desde 1668) ou, já agora, Olivença (não que eu reclame a devolução de Olivença) que foi conquistada em 1801, durante a Guerra das Laranjas contra Portugal (e o nosso país nunca reconheceu a soberania espanhola sobre Olivença).
Espanha, se quiser resolver o assunto de Gibraltar, vai ter que olhar o assunto de modo global. Estas histerias dos governantes espanhóis (algumas declarações foram muito pouco diplomáticas) não levam a lado nenhum.
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