Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Super Flumina

Liberae sunt enim nostrae cogitationes - Cícero (Mil. 29 - 79) . Um blog de Rui Oliveira superflumina@sapo.pt

Super Flumina

Liberae sunt enim nostrae cogitationes - Cícero (Mil. 29 - 79) . Um blog de Rui Oliveira superflumina@sapo.pt

Lulices 2

No seguimento da entrada de ontem sobre a retaliação ordenada por um juiz brasileiro sobre os visitantes americanos que entram no Brasil, o Jornal de Notícias volta a dar mais informações sobre o assunto com este artigo.

Fico satisfeito por ver que há gente no Brasil com bom senso, como o presidente da Câmara do Rio de Janeiro, que diz que a decisão é uma "retaliação burra". De facto, os mais prejudicados são os países que tomam estas atitudes. Quer se queira, quer não, os EUA têm um problema de segurança aérea. Não me parece que isso aconteça com o Brasil. Mas o anti-americanismo fala muito mais alto do que a razão.

Lulices

O Jornal de Notícias informa-nos de que o Brasil bate o pé aos EUA.  Sem dúvida: que acção heróica! Bater o pé a esses imperialistas...

Independentemente da justiça, ou não, da decisão do EUA que levaram agora à decisão do juiz Julier Sebastião da Silva e mesmo se considerarmos que esta decisão saiu de um tribunal e não do governo, parece-me que seria impossível essa decisão com um outro clima político no país e Lula está a levar o país para um caminho mais perigoso. As suas relações com a Venezuela de Chavez, a Cuba de Fidel, as relações nunca explicadas com as FARC (de que a imprensa bem domadinha também não fala) não ajudam nada a ter confiança no futuro do país.

Algo me diz que a aventura vai acabar mal.

Um Rio que incomoda muita gente

Hoje no Jornal de Notícias, o escritor Álvaro Magalhães (sem link), na página desportiva, destila mais um bocadinho de fel contra o presidente da Câmara do Porto a propósito da inauguração do novo Estádio do Bessa.

Para além de falar em fantasmagóricas humilhações (sem dúvida confundindo desejos com realidade) e hipotéticas campanhas de reabilitação na imprensa (é bom de ver que estas são hipotéticas, mas as campanhas para o denegrir são bem reais), assume ainda que o povo não irá perdoar a Rio ter enfrentado o FCP.

Se há coisa que AM não pode fazer é assumir o sentir do povo pois, por exemplo, eu, portuense e portista desde que me lembro, votei em Rui Rio e voltarei a fazê-lo sem o menor problema se ele se candidatar nas próximas eleições. E não é por isso que sou menos portista. Por isso, não pode assumir que a cidade quer ver-se livre de Rio.

A seguir recorre a uma acusação habitual quando diz:

"E não se trata apenas da sua aversaõ ao F.C. Porto, mas também do modo como dimensionou a cidade à imagem do seu olhar de contabilista, a desvitalizou e a apoucou, dotando-a de uma insuportável modorra provinciana. Este Porto de Rui Rio é uma cidade asfixiada, a precisar urgentemente de respiração assistida."

Isto, normalmente, é dito pelos socialistas e seus amigos. Mas será que há verdade nisto. Eu vivo no Porto desde que nasci e simplesmente acho que anos dos PS à frente da Câmara com Fernando Gomes, sobretudo, foram pura propaganda política mas muito pouca acção. Se a cidade é provinciana, já o era com Fernando Gomes, que apenas disfarçava isso com anúncios de feitos na imprensa, mas nada no terreno. A cidade continuou a perder habitantes, por exemplo. O centro esvaziou-se cada vez mais. E que maior provincianismo pode haver do que alguém reclamar-se cosmopolita, berrar com o Poder Central, e depois ser chamado de Vice-Rei do Norte. Faz lembrar os infelizes tempos antes do 25 de Abril em que o FC Porto era, na imprensa do regime, o "grande clube do Norte" e outros epítetos iguais. O Porto 2001 foi fogo-fátuo e nem, na época, chegou a mexer verdadeiramente com a cidade (a não ser com as intermináveis obras que ficaram para o Rui Rio resolver).

AM deveria, talvez, lembrar-se que a decadência do Porto para o conjunto do país vem já do séc. XIX. Nos tempos da Revolução Liberal, da Guerra Civil e tempos subsequentes o Porto ainda teve importância. Fernandes Tomás ou Passos Manuel marcaram a história do país. Em 1865, com a Exposição internacional o Porto ainda tinha dinamismo próprio. Mas em 31 de Janeiro já não conseguiu fazer o mesmo do que em 1820. O mesmo em 1919, com a chamada Monarquia do Norte. Idem, idem, aspas, aspas com o 3 de Fevereiro de 1927.

Há muita conversa sobre o ser portuense, ser do norte, mas depois, nada, nenhuma ideia consistente, nenhuma estratégia para inverter a situação. Não é que eu considere que em Lisboa não há provincianos; basta ver as primeiras páginas do Record ou da Bola para percebemos que eles sofrem de um provicianismo atroz. O mesmo se passa com as televisões.

Pelo menos, Rui Rio não passa a vida a dizer mal do poder central, a pôr-se em bicos de pés, a dizer que conseguiu grandes vitórias, para depois tudo continuar na mesma. Gostava que me mostrassem, a mim que vivo na cidade há 40 anos, que grande impulso deu Fernando Gomes à cidade que não tivesse sido consequência do natural desenvolvimento do país desde 1985 com a adesão à CEE.

Enfim, escritos destes são habituais por parte dos ressabiados.

Camões e o salmo 136 (137)

O meu blog, como expliquei quando da sua criação, deriva o seu nome de parte do 1º verso do salmo 136 da antiga versão da Vulgata (na actual é o 137), Super flumina Babylonis. Este salmo foi uma fonte fecundíssima para imensos poetas, entre os quais Camões com as suas conhecidíssimas redondilhas Sobre os rios (ed. 1595), também conhecidas por Sôbolos rios (ed. 1598), de que eu hei-de falar mais pormenorizadamente, pois considero-o um dos maiores poemas de sempre da literatura portuguesa.

Mas, em Camões, há pelos menos dois sonetos que fazem eco deste salmo. Porque os acho, também, muito bonitos, vou transcrevê-los:

Na ribeira do Eufrates assentado,
Discorrendo me achei pela memória
Aquele breve bem, aquela glória,
Que em ti, doce Sião, tinha passado.

Da causa de meus males perguntando
Me foi: - Como não cantas a história
De teu passado bem, e da vitória
Que sempre de teu mal hás alcançado?

Não sabes que a quem canta se lhe esquece
O mal, inda que grave e rigoroso?
Canta, pois, e não chores dessa sorte.

Respondo com suspiros: - Quando cresce
A muita saudade, o piadoso
Remédio é não cantar senão a morte.

Este soneto é claramente inspirado nos primeiros versículos do salmo, incluindo a figura sedens que reforça o pendor meditativo do soneto. Também a dicotomia mal presente/bem passado está bem visível.


Cá deste Babilónia donde mana
Matéria a quanto mal o mundo cria;
Cá onde o puro Amor não tem valia,
Que a Mãe, que manda mais, tudo profana;

Cá onde o mal se afina e o bem se dana,
E pode mais que a honra a tirania;
Cá, onde a errada e cega monarquia
Cuida que um nome vão a Deus engana;

Cá neste labirinto, onde a nobreza,
Com esforço e saber pedindo vão
Às portas da cobiça e da vileza;

Cá neste escuro caos de confusão,
Cumprindo o curso estou da natureza.
Vê se me esquecerei de ti, Sião!

Este poema recorre também a evocação do salmo 136, mas, aqui, há que veja Babilónia como Goa. Então, Sião seria Lisboa.


Tenho muitos outros poemas de poetas bem menos conhecidos, portugueses e estrangeiros, sobretudo dos sécs. XVI-XVII, que utilizam o salmo 136 para se inspirarem. Aos poucos hei-de também dar a conhecer alguns deles.

Complexos

Estava a ler o Aviz e numa das entradas, de 31/12/2003, Francisco José Viegas falava do romance Sefarad de Antonio Munõz Molina que na sua edição portuguesa viu o seu subtítulo alterado de "Entre o Nazismo e o Comunismo. Um romance sobre o exílio" para "Entre o Nazismo e o Estalinismo. Um romance sobre o exílio".

O politicamente correcto novamente ao ataque? Medo de ofender os comunistas? No entanto, eu lembro-me bem de nos anos 70 ouvir dirigentes e militantes partidários comunistas portugueses defenderem com unhas e dentes Estaline.

Ou será que também a Ed. Notícias entrou na onda de que o estalinismo foi um desvio da verdadeira essência do socialismo? Como dizia o outro, para esse peditório já dei!

É que no Laos, os comunistas no poder prenderam 11 cristãos por estes terem praticado o gravissimo crime de celebrar o Natal. Outro desvio? Na Coreia do Norte, o povo morre à fome enquanto o governo brinca às potências nucleares. Ainda outro desvio?

Para mim nada disto são desvios, antes constituindo diferentes manifestações da própria essência do comunismo/socialismo, umas mais hediondas do que as outras. Não se compreende por isso a alteração feita pela Ed. Notícias (só se foi como diez FJV por razões de marketing...)

Multiculturalismos...

Não acredito muito em sociedades multiculturais perfeitas, embora existe na coexistência de várias culturas numa mesma sociedade, pois haverá de uma parte ou de outra incompreensões mútuas. Mas tal como na matemática para fazer operações com fracções temos que achar mínimo denominador comum, também a convivência entre várias culturas terá que respeitar algum tipo de lei comum mínima.

Essa lei nunca poderá abdicar de algumas conquistas feitas nos últimos dois séculos como, por exemplo, a questão dos direitos humanos. Por isso, quando ouço dizer que todas as culturas são iguais ou têm o mesmo valor, penso logo que quem diz isso só o diz porque vive, na maioria dos casos, confortavelmente, na civilização ocidental (sendo no entanto os seus maiores detractores).

Por tudo isso, achei interessante um artigo, provavelmente, muito politicamente incorrecto, escrito por Edwin A. Locke, com o título The Greatness of Western Civilization. Não estando totalmente de acordo com toda a argumentação desenvolvida, deixo só aqui o parágrafo inicial para quem quiser ler o artigo todo:

In this age of diversity-worship, it is considered virtually axiomatic that all cultures are equal. Western culture, claim the intellectuals, is in no way superior to that of African tribalists or Eskimo seal hunters. There are no objective standards, they say, that can be used to evaluate the moral stature of different groups. They assert that to deny the equality of all cultures is to be guilty of the most heinous of intellectual sins: “ethnocentrism.” This is to flout the sacred principle of cultural relativism. I disagree with the relativists -- absolutely.

Segundo o autor, há três aspectos em que a cultura ocidental é objectivamente a melhor: "reason", "individual rights" e "science and technology". Devo confessar que em relação à primeira, i.e. "reason", tenho algumas objecções, pelo menos da forma como foi utilizada no Ocidente nos últimos dois séculos. O autor conclui que:

Despite its undeniable triumphs, Western civilization is by no means secure. Its core principles are under attack from every direction -- by religious fanatics, by dictators and, most disgracefully, by Western intellectuals, who are denouncing reason in the name of skepticism, rights in the name of special entitlements, and progress in the name of environmentalism. We are HEADing rapidly toward the dead end of nihilism.

The core values and achievements of the West and America must be asserted proudly and defended to the death. Our lives depend on them.


Tinha acabado de encontrar este artigo, quando encontrei um outro Justifying rape trough cultural relativity, em Daniel Pipes conta um caso violações, repetidas, incluindo a de menores, concluindo da seguinte forma:

What caught my eye in today's paper, however, was the justification proferred for Yusuf Bey's serial rapes by one Maleek Al Maleek, described as a 62-year-old mathematician:
He was a born leader in the sense of an African chief or a Muslim caliph. What is prohibited here is not prohibited in East India, where there are child marriages. I can show you chiefs in Africa who have 30 wives ….The ways of the high priests are not shared by the commoner.

In addition to waving away the rapes, what so impresses me about his statement is the casual willingness to import the standards of East India or Africa to the Bay area. Another benefit of multiculturalism?

Nestes casos, o relativismo não vai a lado nenhum. Qualquer dia estão a justificar as violações em grupo que acontecem nas "cités" francesas.

Nenhuma cultura pode, de forma alguma, dispensar o respeito pelos direitos humanos individuais. A sociedade é um ente abstracto, mas os seres que a compõem são muito reais e concretos. Não se pode em nome de uma "bem comum abstracto" atropelar os direitos de cada pessoa. E isto os relativistas raramente compreendem em nome das suas belas utopias, pois o tempo em que o "... o lobo habitará com o cordeiro, e o leopardo deitar-se-á ao lado do cabrito" (Is. 11,6) não é certamente para esta terra.

Devemos tentar melhorar o entendimento entre todas as culturas, aceitar as diferenças, mas nunca transigir em aspectos fundamentais em nome de qualquer uma excepção cultural pois estaríamos a negar a outros aquilo que queremos para nós. Não será isso racismo?

Bom ano 2004

A todos os que visitam este blog, desejo um bom ano de 2004.

Tendo começado o blog a 05/12/2003, considerei estas quase 4 semanas como um ensaio para aprender a administrar um blog e, sobretudo, para ver se o poderia manter numa base regular, com entradas quase diárias. Penso que a experiência foi positiva e por isso decidi continuar, aumentando o ritmo do blog para mais de que uma entrada diária, diversificando os temas tratados.

Espero que gostem, tanto como tenho gostado da experiência até hoje.

PS - Quero agradecer também às referências que o Intermitente, o Valete Fratres e o Contra a Corrente simpaticamente me fizeram. Se esqueci algum, peço desde já desculpa mas não tenho muito tempo para percorrer todos os blogs existentes.

Pág. 7/7

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Links

Blogs

  •  
  • Notícias

  •  
  • Política e Economia

  •  
  • Religião

    Arquivo

    1. 2020
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    14. 2019
    15. J
    16. F
    17. M
    18. A
    19. M
    20. J
    21. J
    22. A
    23. S
    24. O
    25. N
    26. D
    27. 2018
    28. J
    29. F
    30. M
    31. A
    32. M
    33. J
    34. J
    35. A
    36. S
    37. O
    38. N
    39. D
    40. 2017
    41. J
    42. F
    43. M
    44. A
    45. M
    46. J
    47. J
    48. A
    49. S
    50. O
    51. N
    52. D
    53. 2016
    54. J
    55. F
    56. M
    57. A
    58. M
    59. J
    60. J
    61. A
    62. S
    63. O
    64. N
    65. D
    66. 2015
    67. J
    68. F
    69. M
    70. A
    71. M
    72. J
    73. J
    74. A
    75. S
    76. O
    77. N
    78. D
    79. 2014
    80. J
    81. F
    82. M
    83. A
    84. M
    85. J
    86. J
    87. A
    88. S
    89. O
    90. N
    91. D
    92. 2013
    93. J
    94. F
    95. M
    96. A
    97. M
    98. J
    99. J
    100. A
    101. S
    102. O
    103. N
    104. D
    105. 2012
    106. J
    107. F
    108. M
    109. A
    110. M
    111. J
    112. J
    113. A
    114. S
    115. O
    116. N
    117. D
    118. 2011
    119. J
    120. F
    121. M
    122. A
    123. M
    124. J
    125. J
    126. A
    127. S
    128. O
    129. N
    130. D
    131. 2010
    132. J
    133. F
    134. M
    135. A
    136. M
    137. J
    138. J
    139. A
    140. S
    141. O
    142. N
    143. D
    144. 2009
    145. J
    146. F
    147. M
    148. A
    149. M
    150. J
    151. J
    152. A
    153. S
    154. O
    155. N
    156. D
    157. 2008
    158. J
    159. F
    160. M
    161. A
    162. M
    163. J
    164. J
    165. A
    166. S
    167. O
    168. N
    169. D
    170. 2007
    171. J
    172. F
    173. M
    174. A
    175. M
    176. J
    177. J
    178. A
    179. S
    180. O
    181. N
    182. D
    183. 2006
    184. J
    185. F
    186. M
    187. A
    188. M
    189. J
    190. J
    191. A
    192. S
    193. O
    194. N
    195. D
    196. 2005
    197. J
    198. F
    199. M
    200. A
    201. M
    202. J
    203. J
    204. A
    205. S
    206. O
    207. N
    208. D
    209. 2004
    210. J
    211. F
    212. M
    213. A
    214. M
    215. J
    216. J
    217. A
    218. S
    219. O
    220. N
    221. D
    222. 2003
    223. J
    224. F
    225. M
    226. A
    227. M
    228. J
    229. J
    230. A
    231. S
    232. O
    233. N
    234. D