Ratisbona, laicidade e laicismo
O título acima é o título do artigo de opinião de Anselmo Borges de hoje no Diário de Notícias. Um excelente texto que recupera a lição de Ratisbona de Bento XVI, para terminar a falar do grande desafio que o mundo islâmico tem pela frente (agora que a Primavera árabe se está a transformar num longo Inverno). Os dois últimos parágrafos sintetizam a questão (destaques meus):
Ainda nesse ano, Bento XVI visitou a Turquia. No regresso, declarou que o mundo muçulmano se encontra hoje, "com grande urgência", perante uma tarefa semelhante à dos cristãos a partir do Iluminismo e que o Vaticano II levou a bom termo. "É necessário acolher as verdadeiras conquistas do Iluminismo, os direitos humanos e especialmente a liberdade da fé e do seu exercício, reconhecendo neles elementos essenciais também para a autenticidade da religião." Mas, por outro lado, não deixou de prevenir para os perigos do laicismo, que quer retirar a religião do espaço público, cortando a relação com a Transcendência. Não é aceitável "uma ditadura da razão positivista que exclui Deus da vida da comunidade e dos ordenamentos públicos, privando assim o Homem de critérios específicos seus de medida".
Por mim, penso que este diálogo, que foi tão difícil para Igreja Católica, o será ainda mais para o mundo islâmico. De facto, enquanto Jesus disse que se deve dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus, mandou Pedro meter a espada na bainha, e os cristãos nunca entenderam a Bíblia como ditado de Deus; o Alcorão, para lá de um livro sagrado, vindo directamente de Deus, é um código civil e penal, e Maomé, para lá de fundador religioso, foi também um líder político e militar.