Mitos de esquerda
Vi hoje na SIC-Notícias, num daqueles magazines culturais que por lá existem, uma notícia sobre uma peça teatral intitulada em português "Foder e ir às compras" (em inglês "Shopping and Fucking") de um tal Mark Ravenhill que, segundo Gonçalo Amorim, o encenador, "faz um diagnóstico assertivo sobre a sociedade de consumo" (pág. 5 do programa on-line). Este mesmo Gonçalo Amorim diz, na entrevista passada na SIC-N, ao apresentar a peça que "este texto foi escrito pelo Ravenhill em 96 logo a seguir aos anos negros de Thatcher".
Ok, já percebemos, os últimos anos da governação trabalhista na Grã-Bretanha nos anos 70 é que foram bons. A indústria era pujante, a economia florescia, os amanhãs cantavam...
É engraçado como a mitologia de esquerda vê os anos Thatcher como uma época tenebrosa. Alguma dessa esquerda é completamente incapaz de encontrar algo de mal na URSS ou qualquer outro sistema de socialismo real.
Por outro lado, nos textos que fazem parte do programa on-line, há também um bastante interessante de Ana Bigotte Vieira (pág. 13), que indica o quadro ideológico em que esta gente se move, em que ela escreve:
Em Shopping and Fucking, como na maioria dos textos da Blank Generation, os protagonistas são rapazes e raparigas novos que cresceram mergulhados na cultura consumista da era Tatcher/Reagan (ao contrário dos seus pais que viveram as esperanças dos anos 60 e 70) e que agora se aborrecem numa sociedade anestesiante e competitiva, onde vigora a lei do mercado e o dinheiro se tornou o valor dominante.
Uma vez mais, o blá blá esquerdista, Reagan/Thatcher = mau, idealismos utópicos e irrealizáveis (e que, frequentemente, levaram a sociedades totalitárias e opressivas) = bom.
Enfim, tudo bons motivos para não pôr lá os pés.