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Super Flumina

Liberae sunt enim nostrae cogitationes - Cícero (Mil. 29 - 79) . Um blog de Rui Oliveira superflumina@sapo.pt

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Vargas Llosa e o Nobel da Literatura

Ficou-se hoje a saber que o prémio Nobel da Literatura 2010 foi para Mario Vargas Llosa. Confesso que fiquei surpreendido, não pela qualidade literária, que praticamente todos dizem ser excelente (não posso aferi-la por mim próprios pois conheço relativamente mal a obra de Llosa), mas pelo facto de ele ser um homem conotado com a direita, um intelectual latino-americano nada típico, crítico das ditaduras, de Chavez e irmãos Castro.

 

É usual a Academia sueca escolher prémios Nobel da Literatura mais por considerações extraliterárias do que literárias. Mas, se calhar, sempre assim o foi, pois desde o início o ignorou grandes nomes como Ibsen, Joyce, Nabokov, Brecht, Malraux, Pound ou Borges. De qualquer modo, pensava-se que Llosa já tinha perdido as melhores hipóteses de ser Nobel.

 

Era bom que o prémio Nobel da Literatura abordasse apenas a questão literária, mas talvez isso seja impossível. Poderia era evitar premiar escritores medíocres. De notar que penso que o prémio Nobel da Literatura é um prémio de muito mais difícil atribuição do que a maioria dos outros prémios. Em primeiro lugar, o comité não consegue conhecer toda a literatura do mundo, pois não tem nem os recursos nem as competências para isso (inúmeros escritores de literaturas mais desconhecidas passarão despercebidos), depois, a maioria das obras não serão lidas na sua língua original. Por outro lado, a classificação de alguém como grande escritor depende muito de opções pessoais. É tudo bastante subjectivo, como aliás não poderia deixar de ser.

 

Por isso, para mim, o facto de alguém ter recebido um Nobel da Literatura não tem mais nem menos importância, nem é por isso que eu o vou considerar como um grande escritor ou que me vou apressar a lê-lo. Quando Le Clézio foi premiado em 2008, fiquei contente porque realmente tinha-o lido e tinha gostado imenso, não fiquei a gostar mais por ter ganho o Nobel.

 

Tomemos o Nobel pelo que realmente é, um prémio concedido por um número limitado de pessoas, com as suas naturais limitações e com os seus próprios preconceitos, que todos os anos tem que entregar um prémio em que entram em equação diversas questões extraliterárias, não um selo de garantia da qualidade do escritor premiado.

 

No entanto, ainda bem que este ano foi para Mário Vargas Llosa.

Nos cem anos da República

Celebra-se hoje o primeiro centenário da República Portuguesa e, sinceramente, não sei o que se vai celebrar: se a Primeira República, se a forma de governo "República". Por mim, sem dúvida republicano, não encontro muito que celebrar na 1.ª República, que se tornou, muito rapidamente, num feudo das várias facções republicanas e com um conceito de democracia muito discutível.

 

Um país não é mais ou menos democrático por ser uma monarquia ou uma república, como abundantemente demonstram os vários exemplos europeus de monarquias democráticas (Reino Unido, Bélgica, Noruega, Suécia, Holanda, etc.). De qualquer modo, parece-me que a ideia da monarquia, por boas ou más razões, já não tem uma grande base de apoio em Portugal. A monarquia caiu com muito poucos a defendê-la (e a 1.ª República, em 1926, também). Agora, ainda haverá menos a defendê-la e, por vezes, as manifestações monarquicas que se vão fazendo parecem, frequentemente, foclóricas.

 

A Atenas do século de Péricles orgulhava-se de possuir a isonomia ("igualdade de direitos"), isegoria ("igualdade no falar") e isocracia ("igualdade no acesso aos cargos"). Embora nenhuma destas características possam ser absolutas, a república é aquela que melhor pode cumprir a isocracia, até porque, para mim, a ideia de alguém ser chefe de estado apenas por uma questão de nascimento não me agrada muito.

 

Deste modo, prefiro antes celebrar (celebrar não será bem a palavra certa) o facto de sermos uma república, até porque esta nossa 3.ª República não é (felizmente, apesar de todos os seus defeitos), uma descendente directa da 1.ª República.

 

Mas, se pensarmos bem, nem há muito para celebrar, nem esta 3.ª República nem a 1.ª República de há 100 anos.

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