Dizia Cícero (De Oratore, 2:36): Historia uero testis temporum, lux ueritatis, uita memoriae, magistra uitae, nuntia uetustatis (A história é, de facto, testemunha dos tempos, luz da verdade, vida da memória, mestra da vida, mensageira do passado).
Só que, actualmente (e, se calhar, sempre o foi), a história é uma arma de arremesso político, como se pode ver pelo que se passa aqui ao lado em Espanha, a propósito da chamada “Lei da Memória História”, que mais não é um revanchismo, um acerto de contas, de Zapatero e o seu bando com a história, não a procura de uma memória histórica o mais imparcial possível (a objectividade absoluta é impossível) sobre os horríveis acontecimentos de há 70 anos (onde estavam em confronto, lembre-se, duas visões antidemocráticas da vida política).
Talvez, muito assim o pensam, como resposta, o Vaticano beatificou hoje 498 mártires de Espanha (correspondentes aos anos 1934, 36, 37). O facto é que já João Paulo II tinha, anteriormente, beatificado mártires do tempo da guerra civil.
Mas, quanto a este assunto, não posso deixar de concordar com o que diz Vasco Pulido Valente hoje no Público. Depois de criticar esta mania da Europa Ocidental pedir desculpa por coisas feitas no passado, VPV passa à questão da Lei de Memória Histórico (nome que considera grotesco):
Ora se a Igreja Católica esteve com Franco, também é verdade que os partidos de “esquerda” a perseguiram por meios drásticos (roubando, matando, violando, incendiando) muito antes da sublevação de Franco, mas sobretudo a partir da vitória da Frente Popular.
[…] A propaganda atrai propaganda. Se Zapatero se recusa a esquecer a República, não se pode espantar que a Igreja se recuse a esquecer os crimes da República contra ela cometidos. Quem usa a História como arma encontra fatalmente outra arma da História. A História não é imutável, é o que quiser quem se apropriar dela. Com “desculpas”, com leis ou com beatificações.