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Super Flumina

Liberae sunt enim nostrae cogitationes - Cícero (Mil. 29 - 79) . Um blog de Rui Oliveira superflumina@sapo.pt

Super Flumina

Liberae sunt enim nostrae cogitationes - Cícero (Mil. 29 - 79) . Um blog de Rui Oliveira superflumina@sapo.pt

Polémicas

No mínimo lamentável a polémica levantada pela crónica de Eduardo Prado Coelho no Publico de hoje (cujo conteúdo pode ser lido aqui. As acusações feitas ao Luís Pedro Coelho, Vasco Pulido Valente e Luís Aguiar-Conraria são perfeitamente disparatadas e ridículas, pois não há qualquer argumentação, apenas má-educação.

Um dos visados, o LA-C,  já respondeu e respondeu bem.

Que ilação se pode tirar de mais este episódio de confronto entre blogs e gurus da opinião publicada (que não opinião pública)? Ao que parece, os blogs vieram perturbar muita gente que, até agora, por terem acesso a um bem restrito, a possibilidade de escreverem/falarem em meios de comunicação social, não estavam sujeitos a um debate contraditório alargado.
Quem comentavam as opiniões destes senhores não saía daquilo a que se podem considerar do nível da conversa de café. A audiência era limitada. Com a expansão dos blogs, outro galo canta. A possibilidade de edição imediata a nível mundial (mesmo que nem sempre lido por muita gente) fez com que muita gente pudesse dizer, (normalmente) sem constrangimentos de espaço ou censura, dizer o  que pensa. E a opinião deixou de ser monopólio de alguns...

Não falta quem diga que há muito lixo nos blogs. É verdade que há, mas também há gente com muita qualidade que  sabe bem  do que fala e, sobretudo, com melhor conhecimento dos assuntos que esses opinadores encartados.

É que na blogosfera há maior pluralidade de opiniões do que nos meios de comunicação social tradicionais e, frequentemente, tratados com maior profundidade. E isto, parecendo que não, incomoda muita gente.

Nunca ninguém aceitou bem perder um monopólio.

O direito à dúvida

Claude Allègre não é certamente alguém que pertença à "grande conspiração direitista-fundamentalista-cristã" que quer negar aquilo que toda a gente sabe: que o CO2 é o principal responsável pelas alterações climáticas. No entanto, Allègre tem dúvidas e isso valeu-lhe fortes críticas em França (é certo que Allègre tem uma certa propensão para polémicas). Allègre não se intimidou com as críticas e, hoje, no Le Monde, volta à carga com o artigo Le droit au doute scientifique. Eis alguns excertos (destaques meus):

A-t-on le droit d'émettre des doutes sur une théorie scientifique "officielle", estampillée par les médias et les politiques ? A partir des années 1980, un groupe de scientifiques a défendu l'idée que l'augmentation de la teneur en gaz carbonique dans l'atmosphère allait conduire à un réchauffement généralisé du climat de la Terre, à partir d'un mécanisme physique bien connu, l'effet de serre. C'est-à-dire l'absorption par certaines molécules, dont le CO2, mais aussi l'eau et le méthane, des rayons infrarouges émis par la Terre chauffée par le Soleil.

Ce groupe de scientifiques s'est organisé à l'échelon international sous l'égide des Nations unies pour rédiger des rapports officiels et promouvoir la recherche en climatologie. Sous-jacente à cette démarche, l'idée que l'homme est coupable et que nous courons à la catastrophe planétaire. Aujourd'hui, la climatologie est devenue une science à la mode, et ses budgets de recherche ont été multipliés par des facteurs importants (sans doute presque 10 aux Etats-Unis). Du point de vue médiatique et politique, cette théorie est devenue pour certains une certitude, une vérité incontestable. [...]

Tous les quatre ans, un premier panel international de scientifiques réalise un premier rapport. Celui-ci est transmis à un second panel composé de représentants des gouvernements (certains sont scientifiques, d'autres non) qui établit le consensus sur un scénario. Le premier rapport, très volumineux, contient des points de vue assez nuancés, mais il n'est guère lu. C'est le second rapport, plus court, plus politique, plus affirmatif, quidevient de fait la vérité officielle. On imagine les effets de la même procédure appliquée aux OGM ou aux cellules souches !

Cette manière de faire ressemble à celle qui eut lieu autrefois dans certains régimes et qu'on ne veut pas revoir dans le monde libre. L'épisode actuel n'est qu'une petite manifestation de cette pratique de dictature intellectuelle.

On nous dit que 99 % des scientifiques sont d'accord ! C'est faux. Quatre-vingts scientifiques canadiens, dont beaucoup de spécialistes du climat, ont écrit au premier ministre pour le mettre en garde contre le prétendu consensus. En France, des scientifiques et ingénieurs m'écrivent pour dire que, mettant en doute la vérité officielle, ils ont été empêchés de s'exprimer. Enfin, l'article publié dans le Wall Street Journal du 12 avril, "Climat de peur", écrit par l'un des plus grands météorologues mondiaux, professeur au MIT, Richard Lindzen, raconte comment des scientifiques de talent ont perdu leur poste pour avoir contesté la vérité officielle, et comment d'autres ont perdu leurs moyens de recherche. Il ne parle pas de la campagne de calomnie que l'on a orchestrée pour le salir, l'accusant d'être à la solde des compagnies pétrolières, ce qui est infâme !

Bem o artigo é longo, pelo que aconselho a sua leitura integral. Não quero, no entanto, deixar de realçar a conclusão:

Je revendique le droit de dire que j'émets des doutes sur le fait que le gaz carbonique est le principal responsable du changement climatique. Horreur, au pays de Descartes, je revendique le droit au doute !

Pelo artigo ficamos também a saber que a Academia das ciências francesa vai fazer um debate contraditório sobre o assunto. Ainda bem! Esperemos que seja um debate sério (cientificamente falando).

Figurinhas e outras espécies...

Os dirigentes máximos do Benfica lá andam na sua rábula habitual antes de mais um Porto/Benfica. Coitadinhos, foram prejudicados por um árbitro-bandido no jogo com o Estrela, que estava tudo premeditado, que há corrupção no futebol português e como os jornalistas não perceberam isso, o Vieira até diz que se calhar, do Benfica, o que os jornalistas vão ter é um silêncio total.

Espero bem que ele (por uma vez) cumpra o que diz. Sempre deixávamos de ouvir baboseiras.

Rankings

Estive a ler os suplementos que tanto o Jornal de Notícias
(em que parte do suplemento se pode ler aqui) como o Público trazem hoje sobre o ranking das escolas secundárias, tendo como base os resultados obtidos nos exames pelos alunos do 12.º ano.

Já sabemos que estes rankings valem o que valem, que até se pode tentar desvalorizá-los, mas mesmo assim, há algumas conclusões que eles nos permitem tirar e em, em concreto, sobre uma dessas conclusões que vou referir: a desigualdade que provoca no acesso à universidade.

Não ligando às escolas privadas, vê-se que a igualdade propalada pela escola pública é uma falsidade pois os resultados do litoral são sistematicamente superiores aos do interior, no fundo, replicando a diferença que se nota a vários níveis entre litoral e interior em Portugal. É certo que, por exemplo, as condições sócio-económicas são muito diferentes, mas essas diferenças notam-se também dentro dos próprios concelhos.

Ora, esta disparidade nas notas de exame, que depois têm repercussão na classificação final da disciplina (para os alunos internos os exames só contam 30%), faz com que, com o actual sistema centralizado de ingresso na universidade estatal, os que têm condições mais desfavoráveis estejam sempre em desvantagem, pois, naqueles cursos em que se exigem médias de entrada elevadas, pois as condições de que dispõem não lhes permitem, geralmente, ter resultados tão bons como os outros.

Este sistema é bom para dar mais hipóteses a quem tem mais e, frequentemente, deixar de fora quem tem menos. A conclusão do Secundário e o acesso à universidade deveriams ser coisas diferentes. As universidades, sem capacidade de escolherem os seus alunos segundo os seus próprios critérios, limitam-se a receber alunos... E isso também tem reflexos no aproveitamento académico.

Mas esta desigualdade nem sequer é, talvez a conclusão mais importante que se pode tirar destes rankings. A propósito destes, nunca pensei que elee, por si só, nos digam qual é a melhor ou pior escola "tout court". Como diz, no Público, Fernando Adão da Fonseca, presidente do Fórum para a Liberdade de Educação:

O cerne da questão quando se fala em rankings, este ou qualquer outro, não é tanto a parcela de realidade que conseguem iluminar, mas a capacidade de acção dos agentes sobre essa realidade.

Que é muito pouco como se sabe. Por experiência própria, por pertencer à direcção de uma Associação de Pais de uma Secundária c/ EB, sei que, por melhor que sejam os órgãos de gestão da escola, eles podem muito pouco. Por outro lado, as associações de pais, também por muita vontade que tenham, conseguem influenciar pouco, o sistema não permite. E, no meu caso, nem sequer estou a falar de uma escola complicada, mesmo sendo pública.

Por isso, não deixo também de continuar a concordar com Fernando Adão da Fonseca quando ele diz:

Mais do que a realidade desigual, a duas ou mais velocidades, que os números reflectem, a história do ranking é o espelho de um sistema de ensino pesado, burocrático e centralizado, que ano após ano vai deixando para trás, esquecido até ao próximo ranking, um vasto conjunto de escola e alunos.

Como se vê, para quem quiser olhar com olhos de ver, os rankings não são tão inúteis como isso.

Novas religiões, novas inquisições

O João Miranda escreveu hoje, como de costume de modo incisivo, sobre a religião ambientalista, elecando algumas das características desta nova religião. O ponto número 4 reza assim:
Os ambientalistas, tal como os os fanáticos religiosos, reagem irracionalmente às heresias.
E como reagem irracionalmente a quaisquer heresias, querem-nas castigar. Assim, um tal David Roberts não hesita em propor uma espécie de tribunal de Nuremberga para todos aqueles que que pertençam à "denial industry", só que aqui os negacionistas não são aqueles que negam o holocausto, mas todos aqueles que, por um ou outro motivo, são cépticos quanto à esta questão do "aquecimento global", sobretudo, no que diz respeito às suas origens antropogénicas.

Toda esta linguagem de equiparar o aquecimento global ao Holocausto e a tentativa de associar o negacionismo do Holocausto ao cepticismo sobre o aquecimento global, chamando negacionistas a estes últimos, não passa de uma tentativa torpe, totalitária e politicamente corrente (tautologia: o politicamente correcto é totalistarista por definição) de encerrar o debate, escudando-se num inexistente consenso científico e demonizando o adversário (velha táctica por demais empregue).

Daqui a pouco ser céptico sobre o aquecimento global será quase considerado como crime contra a humanidade. A este propósito, ler também Global warming: the chilling effect of free speech de Brendan O'Neill.

É certo que as ameaças à liberdade de expressão se multiplicam, mesmo em países democráticos como a França (cf. Génocide arménien: la décision française mal accueillie en Turquie; não tenho dúvidas que o genocídio dos arménios aconteceu, mas uma lei a penalizar quem expresse dúvidas sobre ele é qualquer muito estúpida), mas é preciso não nos intimidarmos perante estes exemplos, sob pena da liberdade de expressão ser coisa do passado, passando a existir, apenas, a verdade oficial.

De qualquer modo, pelos exemplos vistos, parece não haver dúvidas que para alguns o ambientalismo está a tornar-se numa verdadeira religião, com dogmas de fé e tudo, em que os hereges têm que ser condenados pela sua dissêndia em relação à verdade oficial.

Belos tempos progressistas, sem dúvida.

Jornalismo copy+paste (ou copiar + colar)

Ontem dei conta aqui de um texto de Jorge Silva Melo em que ele se demonstrando insatisfeito com a qualidade das traduções no teatro, fala também de uma crítica "estilo copy + paste".

Que os jornais hoje em dia dependem muito das agências noticiosas e que, por vezes, se limitam, a traduzir as notícias já toda a gente sabe. Por vezes, também, fazem-no mal e até se consegue ver de que língua é que a notícia foi traduzida. Outras vezes, mesmo em português, nem sequer conseguem aportuguesar a notícia.

Foi o que se passou hoje com uma notícia no JN sobre o Rocco Siffredi (sabem quem é, não?). O jornalista pegou numa notícia da Agência Efe escrita em português do Brasil (que pode ser lida aqui) e inseriu-a no jornal, tentando, apenas, aportuguesá-la. Mas, seja lá por que motivos foi, a coisa não saiu lá muito bem.

Desde frases como «passa pelos "primeiros prazeres solitários no banheiro"» (sabem o que quer dizer banheiro, neste contexto, em português de Portugal?), a flutuações ortográficas na mesma frase "actor/ator" ou a frases com construção típica português do Brasil: «Siffredi decidiu que era a hora de "que lhe pagassem por seus serviços"» (para além da estranhíssima, neste contexto, expressão "era a hora de que" - seria melhor uma formulação "estava na hora de lhe pagarem" -, "por seus serviços" omite o artigo definido na forma plural que é típico do português europeu, tornando a frase um pouco estranha ao nosso ouvido; "pelos seus serviços" seria mais usual.

Por fim, é mesmo a última plavra do texto, fala em "roteiristas", que em Portugal se chamam "guionistas".

Obviamente que, com este texto, não estou a insinuar que os brasileiros escrevem mal português e que nós é que somos bons. Os brasileiros têm uma norma e nós temos outra, é tão simples como isso. Se os jornais querem transcrever as notícias que recebem das agências, tudo bem. O que é preciso é que o façam em bom português e não em versões híbridas, mesmo em notícias como esta que não têm especial relevância.

"Encore bien que je te trouve"

Estava eu a ler a coluna do Jorge Silva Melo, no Mil Folhas de ontem, com o título acima, em que ele vai discorrendo sobre a tradução que por aí se pratica no teatro, quando a certa altura, ele escreve: "Na tradução, diz-se, há-de ouvir-se a língua de origem". Ia eu já rever todos os meus conceitos sobre tradução (a presença ou não da língua de origem na tradução é coisa responsável pelo abate de muitas árvores), o estatuto do texto original e essas coisas mais, mas com a leitura do texto até ao fim, pensei, para comigo, (não sabendo se essa era ou não a intenção original do autor, mas isso também não me interessa, pois como diz Pessoa, "E os que lêem o que escreve, / Na dor lida sentem bem, Não as duas que ele teve, / Mas só a que eles não têm."), que afinal, nos exemplos dados por JSM, ironicamente, a língua original não se ouvia apenas, estava era aos gritos. Escreve JSM:
Na tradução, diz-se, há-de ouvir-se a língua de origem. E é inegavelmente bonita a maneira como o inglês de Shakespeare vai desfilando paralelo ao português de Sophia. Mar porquê pôr as personagens a falar inglês com palavras semiportuguesas naquela maneira "encore bien que je te trouve" ("ainda bem que te encontro") de que nos ríamos, alameda da Universidade abaixo? É nessa língua (o "portinglês") que ouço agora teatro. De palco em palco, as traduções parecem ser feitas, por computador, sem língua que as sustente, palavra a palavra, como se isso fosse fala. (...)

Num [jornal], a propósito de um actor italiano, diz-se que "recita de memória" ("recitare a memoria" = "dizer de cor"); noutro, fala-se de "jóia" que o encenador via no texto (singular tradução de "gioia", "joie", "joy". Em português, ficou "júbilo", mas, trazido de outras terras, dizemos "alegria"). (...)

Uma jornalista escreve que "se morre de pé. como as aves" (terá ouvido mal a gravação, aceite-se; mas onde terá visto, nem que fosse um flamingo, morrer de pé? É que a frase termina com "árvores", no original de Casona que Palmyra celebrizou com o seu trémolo);
Por outro lado, JSM critica a "crítica", quando encontra:
... o último número do "Mouvement", quando não o "press-release" alinhavado pela produção para o "Festival d'Automne" e reproduzido toscamente. Será por isso que a "crítica" (?) parece preferir debruçar-se sobre espectáculos, exposições, filmes, "eventos" já criticados naquele imenso "lá fora", para repetir o que já foi escrito, estilo "copy+paste"?
De facto, não são só os estudantes que vão à net fazer cópias para os seus trabalhos académicos. Pensar pela própria cabeça, implica esforço e é sempre mais fácil escrever quando se encontra a "papinha feita".

Nunca houve tranta gente licenciada especificamente em tradução. Aliás, em Portugal, nunca houve tanta gente licenciada. Como se explica todos os problemas que, frequentemente, vemos levantados nesta questão das traduções? Será que as traduções do passado era todas excelentes. Certamente que não. Mas, se o grau de qualificação actual é superior, temos que esperar mais e melhor.

Também é certo que, exemplos isolados, como os apresentados por JSM, retirados daqui e dali, por si só não servem para fazer a avaliação global de uma tradução, mas, pela sua natureza, abalam fortemente a sua credibilidade e o grau de confiança do leitor/espectador em relação ao todo.

República

Está quase no fim este quinto dia de Outubro. para mim, republicano assumido, a comemoração do 5 de Outubro deixa-me relativamente indiferente pois, para mim, a 1.ª República que se comemora pode ser tudo menos um exemplo a seguir, pois nem sequer democrática era.

Uma das minhas objecções quanto à monarquia deve-se ao facto desta, que na maioria dos casos são sucessórias, violar aquilo a que os antigos gregos chamavam "isocracia", isto é, a "igualdade de poder ou de acesso aos cargos". Em Atenas a maioria dos cargos públicos eram ocupados por pessoas cuja a escolha tinha sido pelo processo de "tiragen à sorte" e isto era uma característica tão importante que Heródoto faz menção dela no passo 3.80-83 em que três nobre persas discutem a melhor forma de governo. Mesmo que esta tiragem à sorte não fosse aplicada, por exemplo, ao cargo de estratego, devido à sua especificidade, a escolha deste fazia-se por eleição.

Para mim é absolutamente impensável que alguém, por virtude apenas e só do seu nascimento, tenha direito à chefia de estado, mesmo que de uma forma quase decorativa. Não quer dizer que não pudesse viver numa monarquia constitucional, mas, sinceramente, prefiro a república.

No entanto, não sei se subscreveria o que diz Alexandre Andrade:
A monarquia é uma espécie em vias de extinção, que sobrevive em nichos dispersos procurando adiar o descalabro.
Também Cícero dizia (A República II.30.52):
Passados então esse duzentas e quarente anos de realeza (ou um pouco mais, com os interregnos), e depois da expulsão de Tarquínio, foi tal o ódio que o povo romano tomou ao título de rei, quanto a saudade que sentira depois da morte, ou melhor, da partida de Rómulo. De tal modo que, tal como então não poderia estar privado de um rei, agora, após a expulsão de Tarquínio, não podia ouvir o nome de rei.
Sabe-se o que seguiu, embora Augusto tenha tido o cuidado de manter a fachada das instituições republicanas. Não sei se daqui a duzentos anos a forma monárquica não estará em alta, quando agora está em baixa. Não tenho ideia de que a história seja uma linha recta de contínuo progresso.

Na Antiguidade havia uma concepção circular do tempo bem expressa nos versículos 9-10 do Eclesiastes (ou Qohélet):
Aquilo que foi é aquilo que será;
aquilo que foi feito, há-de voltar a fazer-se:
E nada há de novo debaixo do Sol!
Se de alguma coisa alguém diz:
«Eis aí algo de novo!»,
ela já existia nas eras que nos precederam.
Embora eu não acredite nesta sensação de eterno retorno, marcado pela ascensão e quedas de Impérios, não posso, de modo algum, pensar no tempo em termos de linearidade absoluta, numa marcha inexorável em direcção ao progresso. É uma visão demasiado optimista da humanidade que não posso partilhar.

De qualquer modo, a minha preferência pela república é, está claro, no campo dos princípios, pois o facto de um país ser uma república não o torna, per si, melhor de que um país com um regime monárquico. Os exemplos são tantos neste mundo que até será fastidioso enumerá-los.

Quanto à 1.ª República, estou de acordo com o que diz Rui Ramos em "O dia dos equívocos" (Outra Opinião - Ensaios de História):
A República que hoje existe em Portugal pouco tem que ver - felizmente - com aquela que foi implantada a 5 de Outubro de 1910 e durou até 1926, a chamada I República. Porque é que uma democracia pluraista insiste em fazer feriado em memória de um regime que, pelos padrões do princípio do século XXI, não foi democrático nem pluralista?"
De facto, pouco há a comemorar na 1.ª República... de qualquer modo:

Viva a república!

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